3ª e última parte da programação do do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto, a decorrer no Batalha Centro de Cinema de 28 de Fevereiro a 9 de Março. Abaixo poderão conhecer os restantes filmes a ser exibidos na Sala 1. As informações são as fornecidas pela organização do festival. Podem também aceder directamente à bilheteira específica para cada sessão. Depois da exibição dos filmes, podem encontrar aqui a apreciação/crítica e classificação de cada um. Podem também consultar a programação da Sala 2 aqui. A programação do dia 10 só será divulgada depois do anúncio dos premiados.
Sessões do Fantasporto 2025 abordadas neste artigo:
QUINTA, 6 de Março
15:15 ✦ “Lola Magdalena“
Joel Lamangan – 120’ (Filipinas) – SR/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Bem conhecido do Fantasporto que tem apresentados os seus filmes regularmente. Joel Lamangan tem um olhar especialmente terno sobre os dramas humanos em que vivem os que vivem nas margens da sociedade. Desta vez, Lamangan leva os espectadores a um grupo de velhas prostitutas que vivem numa casa deixada pelo falecido amante de uma delas. E quando as famílias que se afastaram delas, falham, resta-lhes a amizade que as une. Histórias de amor, respeito, sobrevivência, violência e ilusão.
Apreciação: Lamangan é outro habitué do fantas e regressa agora com uma comédia de costumes centrada num grupo de prostitutas idosas que vivem na mesma casa e tentam ajudar-se mutuamente nas respectivas questões familiares. E eu disse comédia de costumes porque é assim que o filme começa e nos prende àquelas personagens marginais, com personalidade e atitude. E enquanto o filme se mantém assim é uma delícia de acompanhar, o problema é que algures no segundo acto foge-lhe o pé para o chinelo (já lhe tinha acontecido em filmes anteriores) e filme torna-se um melodrama barato, com violinos a puxar às lágrimas, quando o que se pedia era exactamente o oposto, naturalidade face às contrariedades da vida. E o que me chateia é que Lamangan não filma mal, o problema é que o conteúdo, por causa das suas opções populistas, é mais televisivo que cinematográfico. E é uma pena porque há aqui excelentes personagens servidas por um grande elenco, que seria a base para um bom filme.
Classificação: ★★★★★
17.30 ✦ “Scarecrow“
Chito S. Roño – 90’ (Filp) INTERNACIONAL PREMIERE – CF/OE – v.o.leg ing. e pt | Bilheteira
Uma família disfuncional vive de terras afetadas pela seca, E para piorar as coisas, todos eles têm casos com gente casada. Quando um dia uma mulher aparece a reclamar as terras que querem vender, o problema torna-se ainda mais grave. Entretanto, as mortes misteriosas sucedem-se desde a entrada na casa de uma pintura com um espantalho.
Apreciação: Se há coisa que sempre gostei, foi do cinema de terror vindo das Filipinas, como “Dementia“, premiado no Fantasporto. Há uma identidade muito própria na forma como encenam o terror que é original e apelativa. Aqui, a estória é interessante mas não original, e contém um twist que lhe dá um segundo fôlego na passagem do segundo para o terceiro acto. Vindo de onde vem, os efeitos especiais são muito credíveis e ajudam a dar verosimilhança ao conjunto. No entanto, existem algumas falhas de ritmo e o argumento parece precisar de mais algumas revisões, de forma a organizar melhor os momentos de acção e exposiçao. O filme é competente para os fãs do género, mas falta-lhe cuidado na concepção, que lhe dá um tom amador que o filme não merece.
Classificação: ★★★★★
19.15 ✦ “Cold Wallet“
Cutter Hodierne – 93’ (EUA) – SR – v.o.leg pt | Bilheteira
Com um tema que se impõe nos dias de hoje, este filme traz uma história que é classificada como “ligeiramente real”. Um homem perde tudo o que tem depois de se deixar levar pelas promessas de muito dinheiro em cripto moedas. Ele e os amigos contra-atacam e vão à mansão do causador da sua desgraça. Acabam por participar num jogo sádico em que o vencedor não é claro. Com Raul Castillo (“Cassandro”), vencedor do Melhor Actor no Festival de Denver, Melonie Diaz e Zoe Winters (“Succession”).
Apreciação: “Cold Wallet” é um sólido thriller de home invasion. Tem por base um tema actual, as moedas virtuais, que é o motivo para a narrativa em ritmo crescente que se segue. Apesar de ser um género batido, as personagens são sólidas e credíveis, servidas por interpretações competentes. Além disso, é um filme que é despretensioso na sua premissa e execução, e é portanto eficaz no seu objectivo de simplesmente entreter. E há outro factor importante, Hodierne comete a prova de não dar espaço ao espectador para antever o que vem a seguir, aumentando assim a tensão até ao final. Um dos bons thrillers do Fantasporto 2025.
Classificação: ★★★★★
21.15 ✦ “Dead Talents Society“
John Hsu– 111’ (Taiwan) – CF/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Uma comédia deliciosa – e não é nada fácil fazer humor em filmes fantásticos. Assim é o novo filme do realizador John Hsu, vencedor do Prémio Melhor Filme do Orient Express no Fantasporto com “Detention”. O que é preciso para se ser um verdadeiro fantasma? Para já, há que saber realmente assustar e após uma série de provas, bater a concorrência e obter o certificado necessário para o exercício da “profissão”. Com programas de televisão, influencers e shows de TV, a candidata Camilla tem de se tornar uma verdadeira sensação e saber lidar com a fama. Selecção do Festival de Toronto.
Apreciação: De Taiwan chega-nos uma comédia de terror imaginativa e bem conseguida. O ponto de vista é pouco usual, o dos fantasmas que nos assombram, numa vida pós-morte que, não sendo muito diferente da nossa, é muito mais competitiva. O problema é que o humor por vezes é básico e o tom é histriónico, no estilo asiático geralmente dirigido para plateias mais novas. Um dos fantasmas até opta por um uniforme escolar como imagem de marca, precisamente o que reclamei numa das criticas do dia anterior. De resto é o costume, sustos e mortes a rodos, bem imaginados e concebidos, que divertem e tornam o filme mais leve e fácil de seguir. Só que é mais do mesmo, não fosse o ponto de partida que lhe confere alguma originalidade.
Classificação: ★★★★★
SEXTA, 7 de Março
15.00 ✦ “Samurai Detective Onihei: Blood for Blood“
Tomohiko Yamashita – 110’ (Jap) – SR/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
O passado volta para atormentar o chefe dos investigadores, Onihei. Este recebe a visita de Omasa e recusa aceitá-la como espia, apesar da sua ternura por ela. Mas Omasa não desiste. Quando se torna espia para o bando de ladrões para salvar a vida de uma testemunha da crueldade de Jingoro, o chefe, dá informações a Onihei para evitar mais um banho de sangue. Mas no mundo do Japão medieval, a luta entre os poderosos e os fracos não é fácil.
Apreciação: “Samurai Detective Onihei: Blood for Blood” é um filme que parece começar a meio, e só isso já o penaliza. Apesar de ter uma excelente direcção artística e fotografia, toda a narrativa é muito confusa, talvez pelo excesso de personagens e suas ligações. A reconstituição de época é muito boa, mas aquele que podia ser o seu ponto forte, as batalhas entre os policias e ladrões, são onde o filme se torna mais constrangedor. Sempre que Onihei está rodeado de opositores, estes aguardam a sua vez de entrar em acção, em combates um a um, o que torna estas cenas inverosímeis. O filme é visualmente muito interessante, mas acaba por ser maçador na narrativa e na acção.
Classificação: ★★½★★
17.15 ✦ “Pushcart Tales“
Sigrid Andrea Bernardo – 116’ (Filip) – CF/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Empregados e clientes estão encurralados num supermercado enquanto, lá fora, um tufão devasta o país. É hora de confidências e revelações. Zombies, dizem eles, numa sociedade que não é fácil para nenhum deles. Num espaço limitado, tentam descobrir as respectivas histórias. E aquele pode ser o seu último dia. Um lote de excelentes actores e uma realizadora já com 9 prémios.
Apreciação: “Pushcart Tales” é uma cativante comédia de costumes, com um twist sobrenatural, que se passa num supermercado, da cadeia de supermercados que produziu o filme e tem um festival de cinema com o mesmo nome. Dito isto, seria de esperar que o filme fosse uma publicidade descarada à dita marca, mas não. É um filme divertido, criativo e até comovedor que cruza as estórias de várias personagens que ficam presas no supermercado durante uma enorme tempestade. Há uma grande profundidade nestas personagens (que são servidas por excelentes interpretações) e um cuidado enorme no desenvolvimento das suas estórias. A sequência em que conhecemos os seus passados é surreal, divertida e muito emotiva. Um dos melhores filmes filipinos no Fantas nos últimos anos.
Classificação: ★★★★★
19:30 ✦ “Self Driver“
Michael Pierro – 90’ (Can) – CF – v.o ing leg. pt | Bilheteira
Um motorista de taxi enfrenta dificuldades financeiras. O carro é o seu sítio de conforto e onde procura vencer a adversidade. Até ao dia em que um cliente lhe propõe ganhar muito dinheiro numa só noite, desde que não questione o que lhe mandam fazer. Cedo compreende que entrou num mundo estranho e violento. Um magnífico exemplo de como, com boas ideias e poucos meios se pode fazer um filme vencedor. Grande interpretação de Nathanael Chadwick neste filme que teve o Prémio de Melhor Primeiro Filme e o Prémio do Público no Fantasia (Canadá) e Melhor Filme de Baixo Orçamento no Fantaspoa (Brasil).
Apreciação: Filme praticamente todo passado num veículo TVDE, com uma app inovadora e perigosa. É um excelente thriller, slow burner, que vai aumentando a tensão e o ritmo. Tem um bom argumento e excelentes interpretações, um tema actual e violência realista. É um filme que nos vai envolvendo e que quando nos prende só solta mesmo no final.
Classificação: ★★★★★
21.15 ✦ “Succubus“
R.J.Daniel Hanna – 104’ (EUA) – CF – v.o. ing leg.pt | Bilheteira
Com nomes sonantes do cinema fantástico como Ron Perlman, Matthew Modine e Rosanna Arquette, eis uma original história sobre cybersex, o diabo e os males do mundo digital. Com tempo para gastar enquanto tem o filho bébé temporariamente em casa, um homem deixa-se iludir por uma mulher, de nome Adra, que encontra na net. A beleza da mulher e o mistério que a rodeia acabam por o levar para um mundo que não esperava, apesar dos avisos de perigo vindos de um homem que desconhece, interpretado por Ron Perlman (“Hellboy”).
Apreciação: “Sucubbus” começa na tecnologia atrevida e acaba no sobrenatural mais intenso, sem que nos apercebamos bem porquê. O filme começa bem, a parte da tecnologia é interessante, mas quando damos por isso há uma figura demoníaca, que não se percebe bem qual é a sua intenção nem porque escolheu aquela vítima. Pelo meio aparece Ron Perlman, também sem que se perceba bem porquê, apenas porque filmes deste género tem uma personagem que avisa a vítima do perigo, sem especificar o porquê e é ignorada. Depois, é o fim do mundo em cuecas. Ou melhor, sem elas. “Succubus”, tem momentos interessantes de te(n)são, mas o filme acaba por ser demasiado ambicioso a juntar dois temas diversos que precisavam de mais tempo para serem devidamente esmiuçados.
Classificação: ★★½★★
SÁBADO, 8 de Março
15.15 ✦ “The Silent Planet”
Jeffrey St. Jules – 94’ (Can) – CF – v.o. ing leg pt | Bilheteira
Com a Terra habitada por muitos povos, alguns extraterrestres, há pouco espaço para os criminosos. Alguns são mandados para um planeta árido onde têm de trabalhar na mina. O velho Theodore vive lá em isolamento à espera da morte que não chega. Em vez disso, vai ter a companhia de uma condenada. E as razões para a presença de Navya só podem ser assassínio, terrorismo ou traição. Uma bela história num futuro possível. Com o conhecido actor Elias Koteas (“The Thin Red Line” e “Harley Quinn & the Joker”) e Briana Middleton. Selecção do Fantasia Film Festival onde foi vencedor do Prémio do Público-Prata.
Apreciação: O primeiro (e único) filme de ficção-ciêntifica a serio do Fantasporto 2025 é uma muito interessante estória de 2 prisioneiros num planeta isolado, onde só devia haver um. É um slow burner solitário com o magnífico Elias Koteas sozinho no seu dia a dia até que outra prisioneira é levada quando ele é julgado morto. Depois há desconfianças, conflitos, amizade e companheirismo, num narrativa equilibrada e bastante interessante para um filme deste género. Além disso, o seu baixo orçamento é disfarçado pelo actores, que levam o filme às costas, provando que não são precisos grandes efeitos (embora o filme os tenha) para nos convencer de qualquer realidade fictícia. Um bom e sólido scy-fy mesmo no finalzinho do festival.
Classificação: ★★★★★
17.15 ✦ “Heavens: The Boy and His Robot“
Rich Ho- 98’ (Singapura) – CF/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Uma criança vê os pais partirem para lutar contra os invasores de Marte e nunca mais os torna a ver. O seu maior desejo é tornar-se num piloto como eles e é para isso que estuda. Jovem adulto, quando chega a sua vez de treinar, é confrontado com diversas dificuldades que quase o levam à expulsão da academia. O climax chega quando é levado a conhecer o seu robot, aquele com quem de estabelecer uma relação que lhe pode salvar a vida. Uma aventura feita de humanidade e uma amizade improvável. Um exemplo da conjugação assombrosa da imagem digital e a imagem real, vindo do realizador prodígio Rich Ho que é também actor, argumentista e responsável pela música, som e fotografia. Primeira longa-metragem do realizador, filme selecionado para o Fantasia (Canadá) e Festival de Trieste.
Apreciação: Daqui não esperava muito, um filme com tantos efeitos especiais que mais parece um desenho animado, com uma espécie de transformers e uma estória igual a tantas outras. E acertei, embora o filme seja mais um cruzamento de “Pacific Rim” com “Top Gun” do que “Transformers“, o que acaba por ser um bocadinho melhor. Só que é mais do mesmo e, feito sem a chama de Guillermo Del Toro ou Tony Scott, torna-se maçador e até exaustivo nas mirabolantes e sucessivas cenas de acção. Nada de novo aqui, apenas mais um megalómano espectáculo de fogo de artificio.
Classificação: ★★★★★
19.15 ✦ “Everyone is Going to Die“
Craig Tuohy – 83’ (Reino Unido) – CF – v.o .ing leg. pt | Bilheteira
Como podem as mulheres vingar-se dos seus agressores? Um pai mulherengo tenta reconciliar-se com a sua filha distante, convidando-a para a sua casa, o seu retiro rural, para um jantar de aniversário. Mas quando a casa é invadida por duas mulheres mascaradas armadas com espingardas, um jogo letal de gato e rato acontece, culminando em revelações que mudam as suas vidas.
Apreciação: Mais um filme de home invasion neste fantas. Apesar de não ter a panache de “Cold Wallet” (que tinha o dedo de Steven Soderberg), “Everyone Is Going To die” é um filme interessante que tem como tema de fundo a agressão sexual contra as mulheres. E é isto, o resto é vingança requintada, com requintes de malvadez e uma lição para homens e mulheres sobre o que não fazer, quer aproveitando-se, quer deixando-se aproveitar. O elenco é sólido e o argumento é astuto na criação de situações que são desconfortáveis até deixarem de ser incompreensíveis. Um bom filme sobre os recantos obscuros da sexualidade.
Classificação: ★★★½★
21.15 ✦ Sessão de Encerramento e Entrega de Prémios ✦ “Stealing Pulp Fiction“
Danny Turkiewicz – 78’ (EUA) WORLD PREMIERE – SR – v.o. ing leg pt | Bilheteira
Dois homens, apaixonados pelo filme “Pulp Fiction” de Quentin Tarantino, decidem roubar a raríssima cópia de 35 mm do realizador e que vai ser exibida num pequeno cinema de bairro. Para tal precisam de um plano. Entretanto, acabam frente a frente com o realizador que tanto admiram, conhecem um psiquiatra em busca de redenção e Taylor Hill, uma modelo da Victoria’s Secret. Uma comédia inteligente que reúne a cinefilia e a ousadia dos fãs. Com um grupo de excelentes actores, tem uma ligação directa ao humor de “Seinfeld”, através da presença de Jason Alexander, com Karan Soni de “Californication” e “DeadPool”, Matt Adams de “Curb Your Enthusiasm” e Jon Rudnitsky de “Saturday Night Live”. Primeira longa-metragem de Danny Turkiewicz.
Apreciação: Para alguém que idolatre Tarantino e “Pulp Fiction” como eu, não há outra hipótese que não seja odiar esta coisa. A ideia à partida seria boa, mas está tudo errado aqui. Não é Tarantino quem quer, e não basta copiar ambientes, bandas sonoras e estilos de texto para chegar perto do mestre. E é preciso não ser pateta, que é o que este filme e todos os seus intervenientes são. O humor é péssimo, e é excessivo. Chega a ser constrangedor a sucessão de piadas que falham em ter graça. Em tarantino o humor é usado como contraponto à violência e tem de facto graça, aqui é uma tábua rasa que não serve para nada e não tem graça. Nenhuma! E quando Tarantino entra em cena a coisa descamba ainda mais, com uma caricatura de mau gosto que torna aquilo que à partida seria uma uma homenagem num enorme insulto. E ver George Costanza numa coisa tão constrangedora partiu-me o coração. O filme mais curto do festival e o único que não consegui ver até ao fim.
Classificação: ½★★★★
Que filmes estão a pensar ir ver nesta edição do Fantasporto, e qual vos chama mais a atenção?