
A 45ª edição do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto arranca a 28 de Fevereiro no Batalha Centro de Cinema. Este ano, o Fantasporto 2025 apresenta 24 antestreias mundiais e 4 internacionais e europeias, num total de 31 países representados. De salientar que o tema desta edição é o muito actual e polémico Inteligência Artificial, que está a revolucionar todas as áreas e muito especialmente, o Audiovisual. Haverá ainda espaço, como habitualmente, para debates e apresentação de livros.
O laxanteCULTURAL, como sempre, fará a cobertura completa dos filmes exibidos na sala 1. Abaixo, poderão encontrar a 1ª parte de toda a programação para a Sala 1. As informações são as fornecidas pela organização do Fantasporto. Após cada sessão, podem encontrar aqui a apreciação/crítica e classificação de cada um dos filmes exibidos. Junto à informação de cada filme está também o link de compra de bilhetes para cada sessão. Podem também consultar a programação da Sala 2 aqui.
Sessões do Fantasporto 2025 abordadas neste artigo:
6ª FEIRA, 28 de Fevereiro.
21.15 ✦ Sessão de Abertura ✦ “Criadores de Ídolos“

Luís Diogo – 100’ (Port) – WORLD PREMIERE – CF / PCP – v.o.pt leg ing | Bilheteira
Aos 22 anos Sofia descobre que o pai e o avô pertencem à “Ordem dos Criadores de Ídolos”. Essa Ordem planeou e executou as mortes de Sócrates, John F. Kennedy, Elvis, Marylin Monroe, e muitos outros para os transformarem em Ídolos. Acreditam que os ídolos são necessários para inspirar os jovens e para promover valores nobres numa sociedade, cada vez repleta de ideias e pessoas fúteis. A sua morte é a única forma de imortalizar os mais nobres de entre eles. Contudo, até hoje, apenas os homens, filhos de elementos da Ordem, podiam integrar a Ordem. Agora, pela primeira vez, decidiram dar oportunidade a uma mulher. Se Sofia quer ser a primeira mulher a integrar a Ordem, deverá planear a morte de uma celebridade e transformá-la num ídolo. Com os conhecidos atores José Fidalgo, Ricardo Carriço, Oceana Basílio e Virgílio Castelo e ainda Rafaela Sá no papel principal naquela que é a sua primeira longa-metragem. Uma longa-metragem de Luís Diogo, bem conhecido do Fantasporto, um dos mais premiados realizadores portugueses.
Apreciação: Luís Diogo estreou todos os seus filmes no Fantasporto, e confesso que não esperava muito de “Criadores de Ídolos”, pela sua premissa arrojada e de difícil concretização. A surpresa é que este é o seu melhor filme. Diogo realmente consegue, através de diálogos bem escritos e interpretados convencer-nos da estória mirabolante que nos quer contar. A exposição inicial é tão simples e eficaz que o espectador nem tem de se esforçar muito para suspender a descrença, algo essencial para um filme deste género. Não só isso como ajuda a disfarçar o facto de ser um filme de baixo orçamento e de que o que é dito e apreendido é mais importante do que é mostrado. Um dos factores que contribui para isto é a escolha dos actores, melhor que seus últimos projectos. São eles os vendedores desta ilusão e é por eles que o filme resulta. Diogo já não contava com uma protagonista tão carismática desde “Pecado Fatal“.
Claro que o filme tem falhas. O Diogo realizador tem uma afeição ao trabalho do Diogo guionista que não lhe permite, na sala de montagem, abdicar de algumas falas e até de uma ou outra cena, para resolver problemas de ritmo e atenção do espectador. Não é um erro fatal, Tarantino também o cometeu em “Django Unchained” e este não deixa de ser um bom filme por causa disso. Para dar um exemplo, a cena em que Sofia visita a mãe é desnecessária e fora de tempo, acontece demasiado tarde no filme. É uma cena que adiciona caracterização à personagem principal quando ela já não é necessária e distrai da narrativa central, aquela que agarra o espectador. A acontecer, devia ser mais cedo no filme. Fora esses problemas de ritmo narrativo, “Criadores de Ídolos” é uma boa entrada no cinema fantástico português, um passo enorme na carreira do Luís Diogo, e um filme que nos faz ansiar pelo seu próximo trabalho, algo que já não acontecia desde “Pecado Fatal”.
Classificação: ★★★★★
SÁBADO, 1 de Março.
15.00 ✦ “Chainsaws Were Singing“

Sander Maran– 117’ (Estonia) – CF – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Cheio de imaginação e humor, uma história clássica de horror, na linha de “Texas Chainsaw Massacre” que homenageia, num filme vindo da Estónia, um dos grandes destinos de hoje da indústria cinematográfica. Divertida e inteligente, esta comédia musical conta a história de Tom que se apaixona por Maria, raptada por um conjunto de maníacos. Mas Tom corre a salvá-la. Selecção do Fantasia (Canadá) onde venceu uma Menção Honrosa, e Prémio do Público no Festival de Hupsala. Primeira longa-metragem do realizador, já com 4 prémios internacionais.
Apreciação: A iniciar o Fantasporto 2025, um filme à Fantas. “Chainsaws Were Singing” é uma hilariante e tresloucada comédia musical, com um refinado humor negro que acerta no mais importante, o humor. O primeiro acto é frenético e surpreende pelos elementos já descritos, arrancando sonoras gargalhadas do público. A partir do segundo acto o filme começa a ter alguns problemas de ritmo, principalmente nos momentos de exposição, que o torna aborrecido a espaços. Salvam-no as canções muito bem escritas, a lembrar “South Park: O Filme” no seu humor irreverente e melodias contrastantes. Junta-se a tudo isto muito sangue num gore de baixo orçamento, mas eficaz, principalmente pela componente humorística. Um filme que, apesar de ter os seus problemas, reavivou o espírito dos saudosistas do ‘velho’ Fantas.
Classificação: ★★★½★
17.15 ✦ “Ghost Killer“

Kensuke Sonomura – 115’ (Jap) – CF – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Uma bala perdida é apanhada no chão por uma jovem estudante chamada Fumika. Sem saber, leva para casa um fantasma que, depois de uns valentes sustos, vai ser o seu amigo e salvador. Vai também ajudá-la a salvar uma amiga que é abusada pelo namorado. E tudo para que ela vingue a sua morte prematura. Uma comédia deliciosa escrita pelo realizador de “Baby Assassins”, Yugo Sakamoto, com uma excelente interpretação da jovem Akari Takaishi, uma das protagonistas dessa série.
Apreciação: “Ghost Killer” filme de acção japonês, que prometia ser redundante, naquilo que é a programação habitual do Fantas, mas que acaba por surpreender na execução das cenas de acção com duas personagens no mesmo corpo. É um filme leve, de puro entretenimento, mas que é eficaz e competente no seu objectivo, entreter. É também a prova de que Sakamoto é capaz de bem melhor do que o humor previsível e inconsequente de “Baby Assassins”. “Ghost Killer” é bem ritmado, bem executado, numa estória que não traz nada de novo, a não ser o pormenor de que falei no ínicio e que, por elevar o interesse que o filme tem, acaba por ser um pormaior.
Classificação: ★★★½★
19.30 ✦ “Zer0“

Jean Luc Herbulot – 90’ (EUA) – SR – v.o.ing leg pt | Bilheteira
Um surpreendente filme norte-americano rodado em Dakar, no Senegal. Um americano acorda num autocarro com uma bomba no peito e um telemóvel que lhe dá instruções. Num choque de civilizações, o homem branco confronta o caos, sem saber porque foi escolhido nem como lidar com a situação. Está constantemente vigiado e tem uma missão que desconhece. Outro americano está nas mesmas circunstâncias. Nas ruas, a multidão está em tumulto e a pobreza impera. Os fins justificam os meios. Filme vencedor do Òrbita Award de Melhor Filme no Festival de Sitges.
Apreciação: “Zer0” é um filme de puro entretenimento que acaba por resvalar um pouco quando tenta ter uma opinião política e um final desadequado para um filme do género. Parte de uma premissa interessante e consegue sustê-la, apesar de, a espaços, se notarem alguns problemas de ritmo. A acção é bem executada, assim como os efeitos especiais de modesto orçamento, e a as interpretações são na sua maioria muito competentes. Mas o final desilude e quebra a tensão que filme conseguiu suster até então, tornando inconsequente um objecto de entretenimento competente.
Classificação: ★★★★★
21.15 ✦ “Mister K“

Tallulah H. Schwab, 96’ (Países Baixos) – CF – LEVEL K v.o.ing. leg.pt | Bilheteira
Um mágico entra num hotel para passar uma só noite. No dia seguinte, vem a saber que nunca mais pode sair. Irá enfrentar uma série de personagens insólitas que saem das paredes, um chef despótico de uma cozinha caótica e todo o tipo de gente estranha, não fosse Kafka o grande inspirador. Apresentado no festival de Toronto, conta com o actor americano Crispin Glover, da série TV “Guillermo Del Toro’s Cabinet of Curiosities”.
Selecção do festival de Sitges.
Apreciação: Eis um filme com uma premissa interessante, mas que depois não sabe para onde vai nem como lá chegar, perdendo-se em malabarismos narrativos que não só não lhe acrescentam nada, como aborrecem o espectador. A desorientação é tanta que tenta disfarçá-la de poesia no final, tornando-o ridículo e vazio. E é uma pena porque os meios de produção são bons, a direcção artística é maravilhosa e Crispin Glover prova que é um dos actores mais esquecidos e maltratados do cinema actual, levando às costas, e quase sozinho, um filme que não o merecia.
Classificação: ★★★★★
DOMINGO, 2 de Março
15.15 ✦ “Baby Assassins: Nice Days“

Yugo Sakamoto – 113’ (Jap) – SR/OE – v.o. leg. ing e pt | Bilheteira
As jovens assassinas Chisato e Mahiro no terceiro filme da série, mantendo o humor , a música e a violência como constantes. Agora vão de férias para Miyazaki e enfrentar a sua principal concorrência, com um outro assassino à mistura. Ou seja, o seu trabalho nem sempre é alegre e fácil. Uma comédia louca de acção à japonesa com Akari Takaishi, Saori Izawa( actriz em “John Wick: Chapter 4”, “Snake Eyes”, Prémio de Interpretação Novo Talento dos Críticos Japoneses) e Sosuke Ikematsu.
Apreciação: Mais do mesmo. Nota-se uma evolução na qualidade de trabalho das atrizes, mas o filme continua tão desinteressante como os dois anteriores, por culpa das suas personagens vazias, que não merecem as atrizes que têm. Até as cenas de acção se tornam aborrecidas a partir do segundo acto. Kensuke Sonomura é capaz de algo bem mais interessante como provou no dia anterior com “Ghost Killer”
Classificação: ★★★★★
17.30 ✦ “Mom“

Adam O’Brien– 97’ (Can) – CF – v.o.ing leg.pt | Bilheteira
Meredith é mãe pela primeira vez. Quando regressa finalmente em casa com o recém-nascido, põe em causa a sua capacidade de lidar com a situação, a sua relação com o marido e os seus pesadelos constantes. Quando o bebé morre, ela finalmente compreende quem é o rapazinho que vê pela casa. Uma nova abordagem ao tema da maternidade, contada com realismo, mas também entrando no fantástico de horror. Memorável interpretação de Emily Hampshire, actriz conhecida por “Cosmopolis” de David Cronenberg e a Série TV “Schitt’s Creek”.
Apreciação: Mais do que um filme de terror, que também o é, “Mom” é um ensaio sobre as consequências das doenças mentais, e essa é a parte que o torna mais interessante. Como filme de terror é redundante e inconsequente, seguindo as regras tradicionais e deixando o espectador antever os sustos e o avanço da narrativa. Mas é aquilo que a move, o seu motor, que nos agarra àquelas personagens e prende ao filme. É a sua parte real que nos incomoda de uma forma quase subliminar e, para um filme de terror, isso é quase sempre uma aposta ganha.
Classificação: ★★★½★
19:30 ✦ “Touched By Eternity“

Marcis Lacis – 94’ (Letónia) – CF – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
A vida de um pobretana que vive numa rulote e deseja ser imortal vai mudar para sempre. O primeiro passo é a visita de dois imortais “sui generis” que lhe dizem ser ele o escolhido para fazer a transição. No entanto, dizem eles, pode mudar de ideias a qualquer momento. Ser imortal dá muito trabalho, vai ele compreender em breve. Uma comédia de vampiros muito original, a lembrar o humor de Polanksi e o seu “The Fearless Vampire Killers”.
Apreciação: Filme de Vampiros interessante e bem executado, que impressiona pela sua proveniência e prova que temos muita coisa boa que não conhecemos bem perto de nós. A par de “Chainsaws Were Singing”, da Estónia, este “Touched By Eternity” mostra-nos que o cinema ‘marginal’ europeu não tem medo de arriscar e experimentar, conseguindo até, pela sua origem e criatividade, incutir originalidade em temas tão batidos.
Classificação: ★★★½★
21:30 ✦ “The Killer Goldfish“

Yukihiko Tsutsumi – 94’ (Jap) – WORLD PREMIERE – CF/OE – v.o.leg ing. e pt | Bilheteira
Uma investigadora do paranormal é apanhada num caso de vingança inusitado – o culpado é sempre um peixinho dourado. As mortes sucedem-se, sempre diferentes e sempre muito violentas. As causas estão muito atrás, na história humana. Usando a criatividade e originalidade, e uma produção de alta qualidade, este filme é um alerta sério em tom de comédia, sobre a acção dos humanos contra a Natureza.
Apreciação: No sentido contrário do que acabei de dizer, vem mais um filme japonês que não tem ponta por onde se lhe pegue. Nem a competência e originalidade dos seus efeitos salva esta salgalhada de filme, com uma premissa ridícula que nunca se torna convincente. E depois torna-se disperso, com tantos apartes a querer demonstrar consciência pelos temas actuais que nunca podem ser levados a sério pela sua premissa base, não permitindo que o espectador se comprometa e sinta simpatia pelo que está a ver.
Classificação: ½★★★★
Que filmes estão a pensar ir ver nesta edição do Fantasporto, e qual vos chama mais a atenção?