
Esta é a 2ª parte da programação da 45ª edição do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto, a decorrer no Batalha Centro de Cinema de 28 de Fevereiro a 9 de Março. Abaixo poderão conhecer mais alguns dos filmes a ser exibidos na Sala 1. As informações são as fornecidas pela organização do festival. Podem também aceder directamente à bilheteira específica para cada sessão no link junto da informação de cada filme. Depois da exibição dos filmes, podem encontrar aqui a apreciação/crítica e classificação a cada um. Podem também consultar a programação da Sala 2 aqui.
Sessões do Fantasporto 2025 abordadas neste artigo:
SEGUNDA, 3 de Março
15.15 ✦ “River Returns“

Masakasu Kaneko – 108’ (Jap) – CF/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Um rapazinho da aldeia fica encantado com uma lenda que lhe é relatada por um contador de histórias ambulante. Trata-se da tragédia de uma rapariga da sua aldeia que se enamorou de um jovem madeireiro, dois tipos de vida que não se devem misturar, qual Montéquios e Capuletos. Mas o interesse do rapaz é muito e nem o pai o demove de tentar saber que voz é aquela que ouve junto ao rio. A avó do rapaz, sábia, diz-lhe, entretanto, o que fazer como unir os amantes separados à força. Uma belíssima história de amor contada com sensibilidade por Masakasu Kaneko. Prémio Melhor Filme do Festival de Gijón 2024.
Apreciação: “River Returns” é um filme japonês de recorte clássico, para cortar aos filmes frenéticos que geralmente tem essa proveniência (e são muitos). Talvez por isso, é uma lufada de ar fresco, um filme contemplativo e poético, com uma boa estória que lhe serve de base, uma belíssima fotografia e sólidas interpretações. Kaneko não quer inventar a roda (nem tenta), antes se debruça sobre a mais batida das estórias (os apaixonados que por razões sociais e familiares são obrigados a afastar-se), juntando-lhe um pouco da fantasia de que se fazem as lendas, com um extremo bom gosto. Uma lufada de ar fresco vindo das montanhas do Japão.
Classificação: ★★★★★
17.30 ✦ “A Game in the Woods“

Mike McCutchen – 80’ (EUA) – CF – v.o. ing e leg. pt | Bilheteira
Depois da morte do avô, a neta vai com namorada e um amigo descobrir a casa num rancho isolado que este lhe deixou. Mas cedo o horror se instala. Todos são apanhados no meio de um jogo de vida ou morte para gente rica que lá decorre. Dentro do clássico padrão dos horrores de “Texas Chainsaw Massacre” e com um toque de Troma – e Lloyd Kaufman faz uma pequena aparição até – o filme tem sangue e tripas em abundância. Selecção do Fantaspoa (Brasil).
Apreciação: Filme com um tema já batido, o da caçada ao homem (neste caso são homens e mulheres), mas a que falta criatividade para surprender o espectador. Já vimos o que aqui se passa muitas vezes e com melhores resultados. E o baixo orçamento nem pode servir de desculpa, pois o argumento foi escrito em cima do joelho, as interpretações são fracas e a realização está em piloto automático. Até começa bem, com algum humor, mas depressa se torna previsivel e consequentemente enfadonho.
Classificação: ★½★★★
19.15 ✦ “Honeko Akabane’s Bodyguards“

Junichi Ishikawa – 116’ (Jap) – SR/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Ibuki está encarregado pelo pai da sua companheira de classe de proteger a jovem Honeko mas sem que ela saiba o que se passa. De facto, há um enorme prémio em dinheiro para quem a matar. Mas há também um grupo organizado que procura cumprir as ordens assassinas. Um desafio para a ultra especializada classe 12, feita de jovens talentosos. A cultura jovem japonesa, dos jogos, manga e artes marciais numa comédia de exageros e acção. Assim é o novo filme do vencedor do Prémio Especial do Juri do Fantasporto 2024, Junichi Ishikawa (“The Floor Plan”).
Apreciação: Mais um filme Japonês que não deixará grande memória. É entretenimento puro e duro, com um humor eficaz e muita acção, numa estória básica sem grandes surpresas. O estilo é o frenético actual, mais virado para os jovens. O elenco é interessante e variado, as sequências de acção são bem executadas, mas no final temos apenas mais um filme japonês igual a tantos outros que nos chegam todos os anos através do Fantas.
Classificação: ★★½★★
21.30 ✦ “Dollhouse“

Shinobu Yaguchi – 110’ (jap) – CF/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Uma criança desaparece de casa e não há explicação. Os pais da menina buscam-na incessantemente, sem sucesso. Um dia a mãe encontra uma boneca grande no mercado que a ajuda a compensar a dor da perda da filha. Mas a boneca não é uma qualquer. Quando a mãe fica novamente grávida, a boneca dá sinais de vida. Mas a nova criança e a boneca vão formar uma ligação que nem os rituais num templo conseguem apagar. O horror japonês mistura-se com as tradições do país, bonecos misteriosos e perigosos e pais em crise.
Apreciação: Daqui esperava o pior, mas “Dollhouse” acabou por ser um sólido filme fantástico, sobre um tema já muito batido (as bonecas amaldiçoadas), executado com criatividade e tendo por base uma estória que aborda temas actuais como a depressão, o luto ou as doenças mentais. Yaguchi (que se fez acompanhar ao palco da boneca Aya) consegue criar mais suspense do que terror, na forma como utiliza a boneca, não sendo explicito e tendo de recorrer demasiado a CGI, mas antes sugerindo as acções da mesma, criando no espectador (e nas personagens) a dúvida se elas realmente existiram.
“Dollhouse” nunca chega a ser terror, é mais um thriller psicológico e sobrenatural, que leva o seu tempo a desenvolver-se, com um sólido segundo acto a levantar inúmeras questões, e um terceiro acto frenético e cheio de reviravoltas, mesmo para lá das revelações finais. E a cereja no topo do bolo é que não há sustos histriónicos como é habitual nos filmes japoneses do género. Contenção e tempo para contar uma boa estória, interessante o suficiente para não aborrecer o espectador.
Classificação: ★★★★★
TERÇA, 4 de Março
15.15 ✦ “Indera“

Woo Ming Jin– 104’ (Malásia) – CF/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Depois de ter de sair da casa que habitava com a filha, um homem encontra trabalho num lugar remoto onde uma mulher acolhe órfãos e onde a polícia faz incursões frequentes contra os fundamentalistas. Separado da filha e num ambiente que não conhece, o homem procura explicações para tudo o que de estranho acontece à sua volta. Mais um filme de Woo Ming Jin, um dos poucos cineastas malaios a ter presença regular nos maiores festivais da Europa, premiado no Fantasporto 2023 por “Stone Turtle”.
Apreciação: Filme sólido e bem executado, com uma estória interessante mas que não traz nada de novo. O que conta aqui é a origem do filme e a originalidade em contar uma estória já muito vista, com órfãos, fantasmas dos pais, ameaças externas sobrenaturais e humanas dos dois lados do conflito. Se a origem lhe traz perspectiva interessante, a originalidade só é encontrada a espaços na execução e não na concepção. Apesar de tudo, é um sólido filme de terror que entretêm e prega alguns sustos.
Classificação: ★★★½★
17.15 ✦ “Prédio Vazio“

Rodrigo Aragão – 84’ (Brasil) – WORLD PREMIERE – CF – v.o.pt leg ing | Bilheteira
Após a saída dos turistas, um prédio fica vazio, excepto uma sinistra porteira. A jovem Luna parte numa jornada em busca da sua mãe desaparecida no último dia de carnaval em Guarapari e as suas buscas levam-na para esse antigo edifício. Que na verdade é habitado por almas atormentadas. O horror instala-se. O último filme do mestre do terror brasileiro Rodrigo Aragão.
Apreciação: De Rodrigo Aragão já tinhamos visto no Fantas “A Mata Negra” e “O Cemitério das Almas Perdidas“, dois filmes medianos (ambos com 2.5 de classificação). Geralmente com boas idéias que não são acompanhadas pela execução, neste “Prédio Vazio” Aragão consegue conciliar as duas coisas. O filme tem um premissa mais interessante que os anteriores, e a sua execução é bem mais convincente. O ritmo narrativo é bem gerido, os actores são mais convincentes que o habitual, mas no final fica a sensação de que é só um filme de terror despretensioso e competente, mas inconsequente.
Classificação: ★★★★★
19.15 ✦ “Ranshima Bound“

Yoshitaka Kamada – 84’ (Jap)- WORLD PREMIERE – SR/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Ao saber que a mãe tinha feito uma tentativa de suicídio e está agora em coma, o filho Yoshio que vive uma vida de pobreza na cidade, vai à terra natal, levando consigo uma prostituta como se fosse sua mulher. Reencontra então o irmão, muito mais bem-sucedido do que ele, e tenta reatar os laços familiares. Uma belíssima história de amor e vida.
Apreciação: “Ranshima Bound” é um sólido drama sobre relações humanas e (quase) amorosas. É um filme terno e envolvente, que demora o seu tempo a envolver-nos, mas que consegue a espaços emocionar-nos e divertir-nos. Não há aqui lições de vida nem pretensiosismos baratos, apenas uma boa estória humana. O único problema é que para um filme que não chega a hora e meia, parece demasiado longo, devido ao seu ritmo demasiado lento. Apesar de não trazer nada de novo, é um filme interessante e que não incomoda ninguém.
Classificação: ★★★½★
21.15 ✦ “Sana: Let me hear“

Takashi Shimizu – 107’ (Jap) – CF/OE – v.o.leg ing. e pt | Bilheteira
Homoka vai dar aulas a uma turma de falhados durante o verão. Entretanto lembra o namorado que teve um gravíssimo acidente que o deixou em coma pouco antes. As visões começam e Homoka vê que tudo tem a ver com o que se passara naquela escola muito tempo antes. Uma rapariga matara-se, caindo do tecto da escola. Por que se matou? E que vozes a obcecavam? Mais um original filme de horror de Takashi Shimizu, realizador dos celebrados “The Grudge” , “The Howling Village” e “Immersion “ e que com “The Suicide Forest Village” venceu o prémio Melhor Filme Fantástico do Fantasporto em 2021.
Apreciação: Em 5 anos, Shimizu trouxe 4 filmes ao Fantasporto. “Suicide Forest Village“ em 2021, um dos mais mal entregues grandes prémios do Fantas, “Ox-Head Village” em 2022, o meu preferido e que não ganhou nada e “Immersion“, o pior dos três e que ganhou (mal) o prémio da crítica. No Fantasporto 2025 regressa com aquele que é o seu pior filme desta série. E quando eu digo que é o pior, é para quem viu os anteriores, quem nunca os viu poderá e deverá ter uma perspectiva diferente, até porque Shimizu é um realizador interessante.
O problema aqui é que é mais do mesmo: estória a dois tempos, alunos (e principalmente alunas) de liceu a braços com forças sobrenaturais do passado e gente a morrer caindo de sítios altos. Quase tudo é decalcado de “Ox-Head Village”, excepto a criatividade que essa estória tinha e as surpresas que os seus twists provocavam. Aqui é tudo banal e prevísivel, numa execução competente mas sem chama. A sensação que fica é que Shimizu baralha e volta a dar para cumprir calendário. Para mim, não chega.
Classificação: ★½★★★
QUARTA, 5 de Março
15:00 ✦ “Peter Five Eight“

Michael Zaiko Hall- 102’ (EUA) – SR – v.o. ing leg pt | Bilheteira
Este filme menciona no título um versículo do Novo Testamento sobre o Mal, aqui está representado pela personagem de Kevin Spacey, actor que ilumina com uma grande interpretação todas as cenas em que entra. Em causa está a vida de uma jovem que em tempos fugiu para uma vida nova em que ninguém conhece o seu passado. Até que a encontram. Uma clássica história de reconstrução e destruição. Uma história de mistério realizada pelo responsável pelos efeitos visuais de “Cloverfield” ou “Pacific Rim”, entre outros . Com Rebecca de Mornay, conhecida actriz de “The Hand that Rocks the Caddle” “Risky Business” e “Runaway Train” ou da série Tv “Lucifer”.
Apreciação: “Peter Five Eight” é um thriller série B, de baixo orçamento e pretensões, que tem como chamariz o regresso ao cinema de Kevin Spacey. E vamos começar por aí. O filme vale sobretudo por Spacey e pelo carisma que continua a imprimir às suas personagens. Sendo o filme que é, Spacey poderia ter optado por uma interpretação em piloto automático, como o Bruce Willis dos últimos filmes (embora por razões diferentes), mas a dedicação ao papel nota-se e todas as cenas em que participa elevam o filme. Assim como Rebecca de Mornay, actriz fantástica que demonstra que devia ser bem mais aproveitada e em filmes de outra estirpe.
O problema é Jet Jandreau, actriz que soa pouco convincente principalmente nas cenas em que a personagem está sob pressão. O resto do elenco é convincente para um filme desta natureza, que até não é mau, para aquilo que são as suas aspirações. A estória é batida mas bem contada, o ritmo narrativo é bom, e consegue entreter, que é o seu único objectivo. Mas é sobretudo uma delicia ver Spacey e de Mornay no ecrã.
Classificação: ★★★★★
17:15 ✦ “Welcome to the Village“

Warau Mushi– 100’ (Jap) INTERNATIONAL PREMIERE – SR/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Um jovem casal decidiu começar a sua vida em conjunto indo para uma aldeia remota. Lá confrontam-se primeiro com uma comunidade muito solidária que tudo faz para que se sintam felizes. Apesar da simpatia, e embora sejam pressionados para terem um filho, sentem que há uma ameaça latente. De facto, aquela aldeia alberga um segredo que os vai fazer mudar de opinião. A vida rural deixou de ser idílica.
Apreciação: Mais um filme japonês (já lhes perdi a conta neste Fantasporto 2025), competente e bem executado, mas que não traz nada de novo ao género e à sua cinematografia. O filme é interessante, bem interpretado e com um ritmo ascendente interessante que nos vai prendendo à narrativa, mas acaba por ser previsível e por se alongar um pouco no terceiro acto. Apesar de inconsequente, é um sólido filme para quem só bom entretenimento emotivo.
Classificação: ★★★½★
19:30 ✦ “A Place Called Silence“

Sam Quah – 119’ (China) – CENAS EVENTUALMENTE CHOCANTES – CF/OE – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Uma original história de horror em contexto escolar. Uma rapariga muda é assediada violentamente pelas colegas. A mãe, que é empregada de limpeza da escola e faz dinheiro a vender compotas, vive o drama da filha sem que ninguém a ajude. Zaifu, um homem a quem mataram a filha, parece ajudá-la. Uma vingança está a caminho. Mas todos parecem contribuir para que nada se faça, o que gera mais violência. Premiado no Festival de Taipé com Prémio do Público, um filme vindo de uma das maiores revelações do cinema chinês.
Apreciação: Estes filmes asiáticos em contexto escolar começam a cansar (já é o 3º ou 4º só no Fantasporto 2025), porque são sempre à volta do mesmo, o bullying escolar que dá para o torto e suscita vingança, mais ou menos sobrenatural. Desta vez é um filme chinês, mas é mais do mesmo. O ritmo é acelerado e não dá descanso ao espectador e, talvez por isso, as suas mudanças na linha temporal são confusas. Além disso tem uma grande galeria de personagens, o que para nós ocidentais complica a tarefa de identificar quem é quem em cada cena. No final ficamos mais ou menos esclarecidos, mas pelo caminho há uma grande confusão que prejudica que disfrutemos mais do filme. Porque até há bastante para disfrutar, tem muita tensão ao longo da narrativa, a actriz principal é excelente e prende-nos ao ecrá, os meios de produção são muito bons e a estória é minimamente interessante dentro do género. Os problemas de que falei é que tornam o filme inconsequente.
Uma última nota para o festival: cenas eventualmente chocantes, onde?
Classificação: ★★★★★
21:45 ✦ “Cielo“

Alberto Sciamma – 107’ (Reino Unido) – CF – v.o.leg ing e pt | Bilheteira
Uma menina de 8 anos com poderes especiais, parte numa viagem para levar a mãe para o paraíso, cumprindo o que lhe tinha prometido: matava-a primeiro e depois reavivava-a. Para isso tem de levar o seu corpo pelo deserto até ao céu, um local que elas achavam era tão real como qualquer outro. Uma fabulosa paleta de cores na paisagem árida da Bolívia onde foi totalmente filmado, este é um dos mais originais filmes fantásticos do ano, com realização de Alberto Sciamma de “Killer Tongue”, filme já apresentado no Fantasporto e vencedor do Festival de Roma em 1996.
Apreciação: “Cielo” é uma belíssima estória, com uma fotografia deslumbrante e uma protagonista infantil com um magnetismo que não via desde o “The Sixth Sense“. O seu elemento sobrenatural é bem conseguido e mantêm-nos interessados na resolução, mas é o caminho até lá que é fascinante, com personagens bem estruturadas e interpretadas, e um ritmo lento e apropriado a que disfrutemos das belíssimas imagens que desfilam no ecrã. É um filme terno que nos aconchega a alma, sem pretensões e histrionismos, apenas a simplicidade da vida natural e simples. Mais do que qualquer outra coisa, é um filme para contemplar e sentir. E estes fazem sempre falta.
Classificação: ★★★★½
Que filmes estão a pensar ir ver nesta edição do Fantasporto, e qual vos chama mais a atenção?