![](http://laxantecultural.com/wp-content/uploads/2021/04/ems.ZW1zLXByZC1hc3NldHMvbW92aWVzLzM2YzVhYWQyLTNmMTgtNDc0Ni1hZTFjLTUxN2ViZDBkYjNmZC5qcGc-691x1024.jpg)
“The Father” é a estreia na realização de Florian Zeller, e pode dizer-se que a coisa não podia ter corrido melhor. O dramaturgo conseguiu rodear-se de um elenco tão bom que conseguiu fazer aquilo que à partida pareceria impossível: conseguir que este filme não se tornasse num melodrama de sessão da tarde e fosse um dos grandes candidatos à temporada de prémios que termina dia 25 com os Óscares.
![](http://laxantecultural.com/wp-content/uploads/2021/04/the-father-e1618501722908-1024x609.jpg)
Um homem recusa qualquer ajuda ou assistência por parte da sua filha enquanto envelhece. Enquanto tenta perceber as suas actuais circunstâncias, começa a duvidar dos que o rodeiam, da sua própria mente e até do tecido da sua realidade. Esta é a sinopse que encontramos no IMDB, muito reduzida, mas que consegue dar ênfase a um dos aspectos em que o filme é mais surpreendente, ao conseguir, a espaços, fazer-nos crer que estamos a ver um thriller.
![](http://laxantecultural.com/wp-content/uploads/2021/04/dcffd5f15360dc0ee7d625d7009ee6dc-1024x513.jpg)
É muito provável que Anthony Hopkins conquiste aqui o mais que merecido segundo óscar. E, se é verdade que o seu Hannibal Lecter é uma das personagens maiores do cinema, e do horror mais concretamente, aquilo que consegue aqui não é menos assustador. A honestidade com que aborda a personagem, e nos deixa partilhar da sua demência (embora esta nunca seja referida pelo nome durante o filme), deixa-nos no mesmo estado de desorientação da personagem. Nunca esta doença foi tão bem abordada e de uma forma simultâneamente objectiva e subjectiva.
![](http://laxantecultural.com/wp-content/uploads/2021/04/the-father-critica-echo-boomer-2-1024x576.jpg)
É aqui que entra Olivia Colman, e é para ela que vamos para encontrar sentido nesta narrativa e nesta realidade. E a razão pela qual Colman tem aqui mais uma interpretação prodigiosa, é que nem sempre o encontramos (ao sentido). Aquilo que percebemos em Colman é que por vezes estamos ainda mais perdidos do que quem padece da doença, e é essa dicotomia que torna toda esta abordagem tão interessante. Do resto do elenco destaco um denso e realista Rufus Sewell.
![](http://laxantecultural.com/wp-content/uploads/2021/04/thefather-2-1617229074082-1024x576.jpg)
Claro que o mérito é de Zeller, por ter encontrado e definido o tom certo da abordagem. Há honestidade no distanciamento e aproximação das personagens, nas suas desconfianças e incertezas. E até na dureza das soluções. A forma contida e directa como tudo é filmado, aproxima o espectador e suga-o para o cérebro de Hopkins, colocando-nos no mesmo pé de desespero do que ele e os que o rodeiam.
![](http://laxantecultural.com/wp-content/uploads/2021/04/the-father-Olivia-Colman-Anthony-Hopkins-1-1024x576.jpg)
“The Father” não é um filme fácil, nem pretende ser moralista ou tendensioso. É honesto e essa é a sua maior força. É um murro no estômago, sim, pela força das interpretações e uma realização sóbria e segura, que imprime o tom certo à narrativa. E um Hopkins maior do que tudo, e que apetece tanto abraçar no final.
Classificação: ★★★★½