“The Father” – O Horror de Hopkins.

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The Father” é a estreia na realização de Florian Zeller, e pode dizer-se que a coisa não podia ter corrido melhor. O dramaturgo conseguiu rodear-se de um elenco tão bom que conseguiu fazer aquilo que à partida pareceria impossível: conseguir que este filme não se tornasse num melodrama de sessão da tarde e fosse um dos grandes candidatos à temporada de prémios que termina dia 25 com os Óscares.

Um homem recusa qualquer ajuda ou assistência por parte da sua filha enquanto envelhece. Enquanto tenta perceber as suas actuais circunstâncias, começa a duvidar dos que o rodeiam, da sua própria mente e até do tecido da sua realidade. Esta é a sinopse que encontramos no IMDB, muito reduzida, mas que consegue dar ênfase a um dos aspectos em que o filme é mais surpreendente, ao conseguir, a espaços, fazer-nos crer que estamos a ver um thriller.

É muito provável que Anthony Hopkins conquiste aqui o mais que merecido segundo óscar. E, se é verdade que o seu Hannibal Lecter é uma das personagens maiores do cinema, e do horror mais concretamente, aquilo que consegue aqui não é menos assustador. A honestidade com que aborda a personagem, e nos deixa partilhar da sua demência (embora esta nunca seja referida pelo nome durante o filme), deixa-nos no mesmo estado de desorientação da personagem. Nunca esta doença foi tão bem abordada e de uma forma simultâneamente objectiva e subjectiva.

É aqui que entra Olivia Colman, e é para ela que vamos para encontrar sentido nesta narrativa e nesta realidade. E a razão pela qual Colman tem aqui mais uma interpretação prodigiosa, é que nem sempre o encontramos (ao sentido). Aquilo que percebemos em Colman é que por vezes estamos ainda mais perdidos do que quem padece da doença, e é essa dicotomia que torna toda esta abordagem tão interessante. Do resto do elenco destaco um denso e realista Rufus Sewell.

Claro que o mérito é de Zeller, por ter encontrado e definido o tom certo da abordagem. Há honestidade no distanciamento e aproximação das personagens, nas suas desconfianças e incertezas. E até na dureza das soluções. A forma contida e directa como tudo é filmado, aproxima o espectador e suga-o para o cérebro de Hopkins, colocando-nos no mesmo pé de desespero do que ele e os que o rodeiam.

“The Father” não é um filme fácil, nem pretende ser moralista ou tendensioso. É honesto e essa é a sua maior força. É um murro no estômago, sim, pela força das interpretações e uma realização sóbria e segura, que imprime o tom certo à narrativa. E um Hopkins maior do que tudo, e que apetece tanto abraçar no final.

Classificação: ★★★★½

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