Fantasporto 2018 – “Chimera”.

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Chimera” é o primeiro filme do realizador Maurice Haeems, e tem antestreia mundial este sábado às 21h15 no pequeno auditório do Rivoli, com a presença do realizador.

Um cientista brilhante mas perturbado congela os seus filhos vivos, enquanto tenta desesperadamente descobrir a cura para a sua doença genética mortal, descodificando o DNA da medusa imortal Turritopsis.

Aquilo que salta à vista quando se lê o press kit enviado pelos publicistas do filme, é que este é um projecto muito pessoal para Haeems, que viu vários familiares seus sucumbirem a doenças genéticas incuráveis. A sua pesquisa pelo tema dos avanços ciêntificos levou-o a elaborar uma estória que tenta prever esses mesmos avanços, ao mesmo tempo que explora a angustia de um ciêntista na procura da solução que lhe permita salvar aqueles que ama.

O problema é que o realizador e argumentista não consegue dar a volta a problemas criados pelo baixo orçamento de que dispunha. Apesar de haver algumas soluções interessantes para alguns aspectos técnicos, o filme não se consegue libertar do facto de ser todo filmado no mesmo local, sem que no argumento existam razões válidas para tal. No entanto, a espaços, a fotografia consegue ser inventiva o suficiente para tornar este aspecto menos monótono, mas o peso deste constrangimento sente-se durante todo o filme.

E se o argumento não consegue dar a volta a este problema, também não consegue encontrar soluções para a sua própria premissa. Toda a investigação ciêntifica que serve de propósito ao filme é inconsequente, e isso nota-se cedo demais. As soluções encontradas para preencher espaços no guião são básicas e não acrescentam nada à premissa. Quem já estudou guionismo sabe que existem elementos estruturais numa narrativa que a tornam fluída e orgânica. Aqui, nos pontos em que esses elementos devem ser introduzidos, isso não acontece, o que torna a narrativa plana e até cíclica, dependendo da paciência e resistência do espectador para a suportar até ao fim.

Mas há, obviamente, elementos positivos, a começar pelo elenco com dois nomes que saltam à vista: Henry Ian Cusick (o Desmond de “Lost“) e Kathleen Quinlan (nomeada ao Óscar por “Apollo 13“). Cusick leva o filme às costas e tem carisma suficiente para nos levar com ele na angustiante viagem e Quinlan mostra classe e segurança numa personagem que está escrita de forma caricatural.

Como já referi, a fotografia tem o mérito de tornar o filme mais apelativo, e o desenho de som é extremamente meticuloso, criando uma atmosfera ampla num espaço monótono. Os efeitos especiais são contidos o suficiente para disfarçar o baixo orçamento, e resultam na credibilição da parte ciêntifica do filme (pelo menos em termos visuais).

Resumindo, e apesar dos problemas centrais, “Chimera” resulta num objecto interessante o suficiente para justificar a sua visualização. O facto de Haeems conseguir, com tão pouco, mostrar o quão pessoal o filme é para ele é o que de mais interessante encontramos aqui, e faz-nos querer ver o que o realizador conseguirá fazer com mais meios no futuro.

Classificação: 3/5

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