Fantasporto 2018 – Dias 1, 2 e 3.

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Concluímos a divulgação da programação do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto, no Grande Auditório do Rivoli – Teatro Municipal, desta vez entre os dias 1 e 3 de Março.  No dia 4 serão exibidos os filmes premiados, cuja programação será divulgada após o anúncio do palmarés. Para saber a restante programação, aqui ficam  os links com o programa completo do festival, no Issuu e no facebook oficial do Fantas.

QUINTA, 1 DE MARÇO

15:00 – “The Woman in Unit 23B (Ang Mananaggal Sa Unit 23B)”

Prime Cruz – 83’ – Filipinas CF – Fantástico – v.o.leg ingl/leg port – INTERNATIONAL PREMIERE
Jewel é uma mulher misteriosa que vive sozinha na cidade. Até que encontra Nico, um tipo que sofre um desgosto de amor e que também se acha rejeitado como ela. Mas o seu segredo não é comum. De Prime Cruz, vencedor do prémio de melhor Curta-metragem filipina de 2016.

Apreciação: E das Filipinas chega-nos um dos melhores filmes da Competição Cinema Fantástico deste ano. O que é interessante, é que ontem me queixei do filme filipino desta secção, por não ter nada que o diferenciasse dos filmes de terror de outras nacionalidades, o que é estranho vindo de um país que é exótico para nós. Em “The Woman in Unit 23B” a questão está ultrapassada, visto que se trata de uma Mananaggal, uma criatura com asas de dragão, que durante o dia aparenta ser uma mulher lindissima, mas de noite revela-se e caça homens a quem  come o coração. Tudo isto com uma estória de amor por base, que dá tridimensionalidade às personagens. O filme é muito bem realizado e fotografado, tem boas interpretações e bons efeitos, com bastante gore à mistura. Uma última palavra para uma coisa que me intrigou: quando abandona as vítimas, deixa sobre elas um cartaz que diz “Sou traficante. Não sejas como eu.” Ora, isso acontecia também em “Bhoy Intsik“, um outro filme filipino que passou no dia anterior, mas que era um drama sem nada de sobrenatural. Será que isto é uma coisa que acontece muito por lá, os traficantes serem mortos e deixados com um cartaz com este texto? É que isso torna esta fábula / romance / filme de terror em algo muito mais genuíno e interessante. De qualquer forma, é um dos meus preferidos desta edição do Fantas.

Classificação: 4/5

17:00 – “The Butcher, The Whore and the One-Eyed Man”

Como é a segunda vez que o filme é exibido,  a sua informação está no artigo anterior.

19:00 – “Aparição”

Fernando Vendrell – 116’ – Port – Drama – SR – v.o.port /leg ingl. – ANTESTREIA MUNDIAL
O novo professor da terra tem de ensinar Latim a uma jovem muito especial e sedutora. Baseado no romance homónimo de Virgílio Ferreira de 1959, com interpretações de Jaime Freitas e Victória Guerra, este é o mais recente filme de Fernando Vendrell, já homenageado no Fantasporto e premiado pelo seu filme “Fintar o Destino” (1998).

Apreciação: “Aparição” é mais um bom trabalho de Fernando Vendrell, mas que para mim resultou num filme razoável. Eu não conheço o romance que lhe serviu de base, mas a estória que seria interessante nos anos 50 perde interesse na actualidade. É claro que contém temas que são universais e intemporais, mas o filme ganhava bastante se os diálogos não fossem tão literários. Outra coisa que me inquietou foi ter gostado mais da galeria de personagens secundários do que da dupla de protagonistas. Estou a referir-me às personagens em si, e não às interpretações que são todas de excelente nível. Destaco também a fotografia e a excelente direcção artística que consegue uma primorosa reconstituição de época.

Classificação: 3/5

21:30 – “November”

Rainer Sarnet – 115’ – Estónia/Holanda/Polónia – CF – Fantasy – v.o.leg ingl/leg port – ANTESTREIA
O principal problema dos aldeões é sobreviver ao duro, longo, frio e escuro Inverno. E para conseguir sobreviver vale tudo, nada é tabu. As pessoas passam a vida a roubar-se umas às outras, roubam aos senhores feudais germânicos que os dominam, roubam aos espíritos, ao Diabo, a Cristo. Espantosa e original produção, representante da Estónia aos Óscares e premiado no Festival de Tribeca (EUA).

Apreciação: Este era o filme em que as minhas expectativas estavam mais altas, mas infelizmente não resultou para mim. O seu maior problema é estar enraízado no folclore nórdico, mas parte do principio que toda a gente o conhece. Há acontecimentos no filme, que fazem parte da estória base, que resultam se conhecermos a sua origem. O problema é que não , e só nos resta embarcar numa narrativa que, de tão peculiar e esquisita, nunca nos chega a agarrar. E é uma pena porque o filme tem uma das melhores fotografias a preto e branco que vi em muito tempo, o que cria ambientes realmente intrigantes. Não fosse a tal obrigação de conhecermos a cultura em que se baseia, o resultado seria muito diferente para melhor.

Classificação: 2/5

23:45 – “Mexico Barbaro II”

Diego Cohen, Christian Cueva, Ricardo Farias, Michelle Garza, Carlos Meléndez, Lex Ortega, Abraham Sanchez, Sergio Tello, Fernando Urdapilleta. 95’ – Mexico – Fantasy/Horror. P&P. v.o.leg ingl/leg port – ANTESTREIA
México Bárbaro é a resposta mexicana às clássicas antologias do terror como “Creepshow”. Criado pelo produtor/realizador Lex Ortega, a primeira antologia “México Bárbaro”, de 2014, encorajou os realizadores mexicanos do género a tornarem-se tão arrojados quanto possível. Ortega seleccionou um conjunto de nove curtas, cada qual mais impressionante que a anterior.

Apreciação: A primeira antologia “Mexico Barbaro” foi um dos mais interessantes filmes de terror na edição do Fantas em que passou, e as expectativas para este eram elevadas. O problema é que, se no primeiro se reconhecia facilmente o tema da mitologia mexicana que percorria todas as estórias, aqui não parece haver qualquer fio condutor. Esta segunda antologia resulta portanto numa colectânea de estórias básicas, sem grande profundidade, que só parecem querer despachar em pouco tempo alguns sustos e nada mais. Ao contrário do primeiro filme, nada aqui parece original e a esmagadora maioria dos segmentos podia ser passado em qualquer lado. Isso tira interesse e força a esta proposta, que mais parece um produto feito para as plataformas de video on demand.

Classificação: 1.5/5

SEXTA, 2 DE MARÇO

15:00 – “Fractured”

Como é a segunda vez que o filme é exibido,  a sua informação está no artigo anterior.

17:00 – ESPECIAL TV GLOBO – 112’

Carcereiros


José Eduardo Belmonte, Fernando Grostein Andrade – 35’ 07’’ – Bras – Drama prisional – v.o.port. ANTESTREIA
Adriano é um agente da guarda prisional que tem que sofrer as dificuldades da vida na cadeia: a dele próprio e a dos prisioneiros que tem que guardar. ”Carcereiros” é uma produção da TV Globo, com brilhante interpretação de Rodrigo Lombardi, e foi vencedor do Prémio MIP TV da Melhor Série do Ano em Cannes.

Apreciação: “Carcereiros” é um excelente drama prisional, que mistura relatos e imagens reais, com os acontecimentos ficcionados. Uma narrativa intensa, bem realizada, escrita e interpretada. O único problema que encontro neste primeiro episódio é ter demasiados acontecimentos para os seus 40 minutos de duração, o que faz com que pareça apressado a espaços. Apesar disso, é uma boa proposta televisiva.

Classificação: 3.5/5

Vade Retro


Mauro Mendonça Filho, André Felipe Binder, Rodrigo Meirelles – 35’ 10’’ – Brasil. Fantasy. v.o. port –ANTESTREIA
Celeste (Monica Iozzi) é uma advogada ingénua e que enfrenta uma crise no escritório de advocacia, já que não possui nenhum cliente para defender. Quando ela conhece Abel Zebu (Tony Ramos), a jovem acredita que sua situação possa melhorar. Produção da TV Globo.

Apreciação: A proposta mais interessante deste lote. “Vade Retro” é uma série escrita por Alexandre Machado e Fernanda Young, a mesma dupla da marcante “Os Normais“. E aquilo que aqui encontramos é mais do mesmo: humor inteligente e bem trabalhado, com diálogos magnificos, ajudados por excelentes interpretações, com destaque caro para o grande Tony Ramos. Uma excelente realização, uma belíssima fotografia e efeitos especiais que não se encontram facilmente neste formato. A não perder.

Classificação: 4/5

Meio Expediente


Santiago Dellape – 40’ – Bras- TV Globo – Fantasy – v.o.port – ANTESTREIA EUROPEIA
Jairo, chefe de uma repartição pública, tem um final de ano amargo. Ignorado pelos funcionários na lotaria de Fim de Ano, ele vê os seus colegas e subordinados a dividirem um prémio milionário. O solitário Jairo inicia então uma extraordinária aventura de Natal. Uma história de ternura e revelação da realidade brasileira, apresentado na TV Globo como “O Filme de Natal de 2017“. O realizador foi premiado no Fantasporto 2017 por “A Repartição do Tempo”.

Apreciação: “Meio Expediente” foi o filme de Natal da Globo e, por isso, está impregnado de espírito natalício, sendo que está um pouco deslocado no Fantas. Contudo, confirma Santiago Dellape como um realizador interessante, engenhoso e inteligente, e mostra que o filme que nos trouxe o ano passado não foi um acidente de percurso. Uma boa proposta para o próximo Natal.

Classificação: 3/5

19:00 – “A Comédia Divina”

 Como é a segunda vez que o filme é exibido,  a sua informação está no artigo anterior.

21:00 – “The Hollow Child”

Jeremy Lutter – 88’ – Can – CF – Horror /Fantasy – v.o. ingl/leg port – INTERNATIONAL PREMIERE
Uma adolescente adoptada, Samantha, faz todo o possível por desmascarar um perigoso impostor sobrenatural na sua nova família, de forma a salvar a sua nova irmã… Primeiro filme do realizador Jeremy Lutter cujas curtas-metragens ganharam diversos prémios internacionais, como os Leo Awards.

Apreciação: Mais um competente filme de terror, com uma estória interessante, mas pouco mais do que isso. Aliás, isto talvez seja mais um thriller sobrenatural do que um filme de terror propriamente dito. Está bem escrito, bem interpretado, tem bom ritmo, mas falta-lhe um pouco mais de nervo no final. A sensação com que ficamos é que está tudo bem feito, mas que não há aqui nada de francamente original. Aliás, logo no inicio, a banda sonora remeteu-me imediatamente para “El Laberinto Del Fauno”, o que não é uma má referência para se ter.

Classificação: 3.5/5

23:00 – “Acts of Violence”

Brett Donowho – 86’ – EUA – Acção – v.o ingl./ leg port P&P – ANTESTREIA
Quando a sua namorada é raptada por uma quadrilha de traficantes de pessoas, Roman (Ashton Holmes) e os seus antigos camaradas da tropa lançam-se no seu encalço para a resgatarem antes que seja demasiado tarde. Pelo caminho, Roman junta-se a Avery (Bruce Willis), um polícia que investiga o tráfico de humanos e combate a mal-intencionada e corrupta burocracia… O realizador ganhou 4 prémios no Festival de Cinema de Hollywood. Distribuição Cinemundo.

Apreciação: Filme de acção igual a tantos outros, com um secundário Bruce Willis em piloto automático. Distrai, mas nada mais do que isso.

Classificação: 3/5

SABÁDO, 3 DE MARÇO

14:00 – “The Night of the Virgin”

Roberto San Sebastián – Esp – 117’ – Fantasy – P&P – v.o. ingl/leg port – ANTESTREIA
Uma comédia de terror passada numa festa de Fim de Ano. Nico, um ingénuo jovem de 20 anos, faz tudo para perder a sua virgindade nessa noite, custe o que custar. No meio da festa, o seu olhar cruza-se com o de Medea, uma ardilosa e atraente mulher madura. Filme premiado nos festivais Fantasia (Canadá), Fantaspoa (Brasil) e Atlanta Horror Fest.

Apreciação: Filme ofensivo, parvo, escatológico, nojento, e tudo isto de forma gratuita. Não há aqui qualquer sentido de nenhuma natureza, nem narrativo, nem humorístico, nada. Há uns anos, aqui no Fantas, passou “A Serbian Film“, um dos filmes mais politicamente incorrectos, ofensivos e explicítos, criticado por tudo e todos e a pôr boa gente em maus lençõis apenas por o exibir. Ora, comparado com este “The Night Of The Virgin”, “A Serbian Film” merece muitos Óscares em várias categorias, até porque havia uma intenção narrativa e muito cinema. Aqui não há nada disso, apenas a intenção de chocar pelo excesso e pela repetição exaustiva desse excesso, que o torna ainda por cima chato e insuportável. Comparado com este, o zero que dei a “Crone Wood” equivale a um três. Mas está dado, e como não faz sentido dar notas negativas, são dois zeros num só Fantas, algo inédito e (esperemos) irrepetível.

Classificação: 0/5

16:15 – “Freddy/Eddy”

Trini Tullman – 94’ –Alemanha – Drama psicológico – P&P -v.o.ingl/leg port – ANTESTREIA
Freddy encontra-se na maior crise da sua vida, depois de ter sido acusado de ter batido na sua mulher. Enquanto o seu mundo se desmorona, o seu amigo imaginário da infância, Eddy, reaparece exactamente com o aspecto actual de Freddy. Só que em vez de se tornar numa ajuda, como antigamente, Eddy torna-se num pesadelo. Prémio Melhor Filme no Austin Film Festival.

Apreciação: Este é projecto falhado pela falta de originalidade e pela incapacidade de ser criativo face aos cânones do género. Os bons valores de produção não chegam quando um filme segue à risca o manual de instruções para thrillers psicológicos com gémeos, repetindo passo a passo todos os seus elementos, incluindo o twist final. Isto faz com que o espectador esteja sempre um passo à frente da narrativa e, com cada expectativa de ser surpreendido a ser gorada, a ser profundamente aborrecido. Um desperdicio de meios e talentos (que os existem, principalmente nas interpretações).

Classificação: 2/5

18:00 – “Crone Wood”

Como é a segunda vez que o filme é exibido,  a sua informação está no artigo anterior.

21:00 – SESSÃO DE ENCERRAMENTO OFICIAL E DE ENTREGA DE PRÉMIOS – “Le Fidèle” (“Fidelidade Sem Limites”)

Michael R. Roskam – 130’ – Bélgica – Drama – P&P – v.o. /leg port – ANTESTREIA
Filme representante da Bélgica aos Óscares, foi selecionado para os Festivais de Veneza, Londres, Chicago e Toronto. Uma trágica história de amor no mundo das corridas de automóveis e da criminalidade. “Variety” considerou o realizador como um dos 10 a seguir com atenção. Distribuição Cinemundo.

Apreciação: Dizer que este foi o melhor filme do dia, quando os restantes foram classificados com dois zeros e um dois, não quer dizer muito, mas “La Fidéle” é um filme interessante, com alguns elementos surpreedentes a nível da narrativa, excelentes valores de produção e irrepreensíveis prestações técnicas e artísticas. Então, porque é que não me encheu as medidas? Porque a sensação que dá é que o filme teve problemas em decidir o que é que queria ser, mudando de tom várias vezes até se deixar ficar num dramatismo melodramático inconsequente. E qualquer das alternativas seriam certamente mais interessantes.

Classificação: 3.5/5

A que sessões estão a pensar ir? Quais os filmes que vos despertam mais curiosidade? Digam-nos nos comentários, e voltem para ver se concordam com a nossa apreciação…

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