“Man On Wire” – Poesia no World Trade Center.

| Lido 7.592 vezes

Em dia de aniversário do atentado às torres gémeas, muitas serão certamente as oportunidades para recordar o edifício e a própria tragédia. Mas eu tenho outra proposta para vós. Mais do que recordar o que de negativo as torres evocam, recuemos 40 anos, até 1974. Nesse ano, e com as torres gémeas do World Trade Center como cenário, foi cometido o crime artístico do século XX. Um funâmbulo francês chamado Philippe Petit conseguiu, com a ajuda da sua equipe, montar um cabo entre os topos das duas torres e, durante mais de uma hora, passeou-se sem qualquer tipo de protecção a 410 metros de altitude.

Esta história é fascinante por várias razões: a quantidade de trabalho na preparação e execução do golpe (porque é disso que se trata), os motivos que levaram Petit e cúmplices a arriscar as suas vidas, e pelo próprio resultado visual que a façanha atingiu, mas que infelizmente está apenas documentado em algumas fotografias. Daqui resultou este belíssimo documentário, “Homem No Arame” de James Marsh, que venceu o óscar de melhor documentário e é um filme fascinante, pelo cruzamento de thriller policial com uma contemplativa poesia efémera, que nos apresenta um homem que arrisca a vida em troca de um momento de felicidade, e de como essa felicidade é tão difícil de entender e explicar pelas pessoas ditas normais.

Além do documentário de Marsh, também Robert Zemeckis está a adaptar a história ao grande ecrã, com Joseph Gordon-Levitt no papel de Petit, num drama que se chamará “The Walk” e que estreará no último trimestre de 2015. Mas se, em termos visuais, poderão ser recriadas imagens de extrema beleza, com a recriação das torres em CGI, em termos de emotividade e qualidade narrativa o filme de Marsh já cumpre todos os objectivos. Com uma mistura de imagens factuais e recriações em estúdio, é um thriller que consegue, no seu momento alto, emocionar, deslumbrar e estarrecer o espectador, tendo ainda a particularidade de nunca referir os acontecimentos de há 13 anos, mesmo sabendo que estão na nossa mente de cada vez que o edifício aparece no ecrã. Fica a poesia do momento, da coragem ao serviço da criação artística, talvez da loucura ao serviço da beleza ou da genialidade ao serviço dos prazeres simples.

Man On Wire” ganhou merecidamente o Óscar, entre muitos outros prémios, e faz parte da primeira lista de melhores do ano aqui do blog. Hoje, quando passam 13 anos do desaparecimento do cenário destes acontecimentos, deixo-vos aqui o filme completo, via youtube. Vale a pena ver, deixar a lamechice fúnebre de lado e enaltecer a criação artística e a originalidade poética do movimento efémero. Vejam…

Classificação: 4.5 / 5

Deixe um comentário