Fantasporto 2014 – Dias 1 e 2.

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Dia 1

Sessão de Abertura – “Vampire Academy” de Mark Waters.

A sessão de abertura do Fantas este ano foi, desde que me lembro e ando no festival há 22 anos, a que teve menos público. Sim, estava mais de meia casa, mas o festival habituou-nos a ter a sessão de arranque sempre esgotada. Felizmente, nas sessões seguintes provou-se que o problema estaria no filme, e não noutra razão qualquer. O discurso de Beatriz Pacheco Pereira resumiu-se ao essencial, e além de duas homenagens a Antónia Gomes e Rui Videira (pintora e fotógrafo com exposições no festival) ficaram as boas vindas para convidados e público. O pior veio depois…

“Vampire Academy” não é nem quer ser mais do que a exploração do filão de adaptações de séries de romances juvenis ao cinema, mas sem a chama, a criatividade e a honestidade de sagas como “Harry Potter“. O único motivo de interesse aqui será a protagonista, Zoey Deutch, muito parecida com Ellen Page, e com uma energia fresca, contagiante e natural. Mas não chega para amparar um produto que é banal e enfadonho e a quem nem Olga Kurylenko e Gabriel Byrne conseguem dar credibilidade. Já nos esquecemos dele no inicio dos créditos finais.

Classificação: 1/5

O Feiticeiro de Oz“, de Victor Fleming.

Para terminar o dia de abertura, um clássico com 75 anos, recentemente restaurado, e que, curiosamente, foi a lufada de ar fresco que precisávamos, depois de tão modesto arranque. “O Feiticeiro de Oz” dispensa apresentações, e o que importa aqui referir é que mantém a magia, a emoção e o encantamento que sempre teve, e a que este restauro dá mais expressividade. Já todos nos cruzámos com ele, muitas vezes, vimos partes ou todo, mas foi emocionante e enternecedor ver como o Rivoli, em pleno festival de cinema fantástico, vibrou com o seu humor familiar e intemporal, as suas canções magnificas e o seu visual e cenas icónicos, que deveria estar disponível mais vezes neste formato, para o podermos descobrir ou revisitar em grande. O Fantas Classics foi uma aposta ganha e salvou a noite.

Classificação: 5/5

Dia 2

Bloodlust” de Richard Johnstone.

O segundo dia começou com a promessa de começarmos a ver os filmes por que os fãs do festival anseiam. Sangue, tripas, humor negro, suspense e muitos sustos. “Bloodlust” não prometia mais do que aquilo que é: um filme de vampiros na linha clássica, em que alguns casais que não se conhecem se reúnem num castelo para um mês em que serão submetidos a experiências médica em troco de uma quantia monetária interessante. Tudo o que têm de fazer é aguentar os 30 dias e seguir as regras. Mas começam a acontecer coisas estranhas e conflitos dentro do grupo. E é apenas isto. O filme até começa bem, a criar um ambiente interessante, com a banda sonora já em modo terror enquanto ainda só estamos a conhecer o ambiente e as personagens. O pior é que vai saltando de cliché em cliché, sem entusiasmar e interessar os espectadores. Narrativa e sustos previsíveis, interpretações fracas e efeitos especiais pobres. Nem o castelo, que, segundo o produtor e o realizador presentes disseram ser o que motivou a estória, é bem aproveitado. Um desperdício de (poucos) meios.

Classificação: 1.5/5

Cheatin‘” de Bill Plympton.

É o regresso de Bill Plympton ao Fantas. “Cheatin’” conta-nos a estória de um casal que se conhece, casa-se e surgem as suspeitas de infidelidade. O argumento não traz absolutamente nada de novo, caindo mesmo em alguns clichés, mas estamos a falar de Plympton e o seu estilo inconfundível e o seu humor gráfico tornam-no numa experiência nada enfadonha, apesar de previsível.

Classificação: 3/5

The Crypt” de Mark Murphy.

Segunda experiência fantástica deste Fantas, ainda com resultados pouco satisfatórios. “The Crypt” tem como pano de fundo uma investigação policial sobre algumas mortes num convento. O problema é que o filme tem várias timelines que dificultam a sua leitura, além de que estamos aqui perante mais um desfile de clichés. Contudo, e apesar de grande parte do filme ser um aborrecimento, o twist final traz alguma ordem à narrativa, apesar de não a conseguir elevar acima da mediocridade. Faz melhor uso dos cenários de que “Bloodline”, e acaba melhor, mas é igualmente dispensável.

Classificação:2/5

O Espinho da Rosa” de Filipe Henriques

Não assisti a esta sessão porque não daria tempo para jantar antes da primeira sessão da noite.

Sugar Kisses” de Carlos Cuarón.

Este é um filme muito simpático e interessante do irmão de Alfonso Cuarón, que com ele escreveu “Y tu mamá también” e se ambienta no mesmo registo. Duro, terno, comovente e heróico é um filme que retrata a passagem à idade adulta de dois namorados de classes diferentes, no México. Este filme merecerá uma crítica mais completa daqui a uns dias.

Classificação: 4/5

Blind Date” de Claudia Clemente.

Uma mulher atravessa mais de um século para ter um encontro com um homem que não conhece, como alternativa à vida banal que lhe escolheram, atravessando o tempo e o espaço de forma quase etérea. A Claúdia é uma mulher do norte, e conhece muito bem a paisagem que escolheu como cenário para este seu trabalho. Isso, uma actriz e imaginação, são os ingredientes suficientes para nos contar uma estória simples, bem humorada, em que se nota a ternura com que este projecto foi tratado e o rigor colocado nos pequenos detalhes, como a montagem de Edgar Pêra (marido da realizadora) ou a voz off inconfundível de Nuno Melo. Um excelente exemplo de que se consegue fazer algo muito interessante com muito, muito pouco. Mas com muito amor…

Classificação: 4/5

Anger of the Dead” de Francesco Picone.

Mais uma curta, desta vez Italiana, sobre dois sobreviventes num mundo apocalíptico habitado por vampiros. “Anger Of The Dead” tem alguns meios e consegue ser convincente na criação de ambiente, mas acaba por ser redundante devido a um argumento inspirador e banal. É apenas um exercício interessante.

Classificação: 2/5

Haunter” de Vincenzo Natali.

O último da noite marcou o regresso de Vincenzo Natali ao Fantas, que já venceu duas vezes. Desta feita traz-nos uma estória de fantasmas pouco inspirada, com recurso a muitos clichés e uma estrutura confusa e pouco interessante. Chega a parecer que estamos a ver vários filmes conhecidos (que não posso nomear para não estragar este)  intercalados. Natali consegue, a espaços, criar bom ambiente de tensão, até ao próximo cliché. Salva-se Abigail Breslin, já longe de “Little Miss Sunshine” e “Signs“, a demonstrar que está a amadurecer no bom sentido.

Classificação: 2/5

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