Cinema 2013 – O Veredicto.

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Com o atraso que vem sendo habitual, chegou a altura de revelar a minha lista dos melhores filmes que estrearam em Portugal em 2013. Antes, queria dizer que tenho intenções de combater o marasmo que assolou o laxanteCULTURAL no ano que passou, voltando a ter uma actividade mais rica e consistente. A ver como corre 2014. Mas vamos então ao veredicto cinematográfico de 2013…

Os Melhores.

1 – “Antes da Meia-Noite“ – “Before Midnight” (Richard Linklater, 2013).

Tenho um carinho muito especial por esta série de filmes, sendo que tenho a idade dos protagonistas e me revejo nos acontecimentos de cada um dos filmes. Aqui, existe um peso nostálgico e uma viragem do filme para terrenos menos românticos, naquilo que é um retrato complexo do envelhecer das relações, centrado no momento especifico em que o amor desaparece. Esteticamente, o filme exibe o mesmo realismo e sinceridade dos anteriores, assente numa realização honesta e em interpretações imaculadas. Poético, cruel e infinitamente humano.

2 – “A Caça“ – “Jagten” (Thomas Vinterberg, 2012).

Um filme que é um murro no estômago. A forma como a nossa integridade moral e física pode ser posta em causa por um mal entendido que, qual bola de neve, toma dimensões avassaladores. Que isso aconteça por causa da mais inocente das criaturas e de leituras tendenciosas, repugna-nos, enerva-nos, revolta-nos e emociona-nos, fazendo-nos identificar com o protagonista (magnifico Mads Mikkelsen), num filme prodigiosamente dirigido por Thomas Vinterberg.

3 – “A Vida de Adèle – Capítulos 1 e 2“ – “La vie d’Adèle – Chapitres 1 et 2” (Abdellatif Kechiche, 2013).

Um belíssimo e desencantado filme sobre o amadurecimento e passagem à idade adulta. O acontecimento central do filme, uma relação homossexual na idade das descobertas,  é o que separa os capítulos 1 e 2 da vida da protagonista (a belíssima e talentosa Adèle Exarchopoulos), com a sua perda de inocência e consequente assumpção de responsabilidade. A forma intimista, visceral e natural como Kechiche nos envolve nesta viagem torna-nos parceiros, cúmplices e passíveis espectadores.

4 – “Bestas Do Sul Selvagem“ – “Beasts Of The Southern Wild” (Benh Zeitlin, 2012).

Uma fábula crua sobre a inocência. O meu candidato preferido aos óscares do ano passado é um auspicioso filme de estreia que teve a particularidade de descobrir um talento raro e natural na sua protagonista de 6 anos. A forma como Zeitlin acompanha a jovem Quvenzhané Wallis no seu infortunio e solidão, é sedutoramente desarmante e inspirador.

5 – “Histórias que Contamos“ – “Stories We Tell” (Sarah Polley, 2012).

Um projecto muito pessoal da realizadora e actriz Sarah Polley, que documenta (e recria) as suas origens e a busca do seu pai biológico através de documentos e reconstiuições do passado da sua família. Aquilo que à partida parece ser apenas uma reunião de imagens antigas, assume outra dimensão quando nos apercebemos que algumas das sequências são recriações actuais dos depoimentos recolhidos, não para deturpar a realidade, mas para a complementar. Mas aquilo que é mais interessante aqui é o desnudamento de Polley, que não se coíbe de expor aquilo que seria privado para muitos de nós, num gesto altruísta e de extrema poesia e maturidade, pessoal e artística.

6 – “O Mentor“ – “The Master” (Paul Thomas Anderson, 2012).

Paul Thomas Anderson é um dos mais interessantes e visionários realizadores da actualidade, e “O Mentor” é apenas mais uma belíssima página da sua fabulosa obra. Baseado, de forma não assumida, na biografia de L. Ron Hubbard, o criador da Igreja da Ciêntologia, o filme vai muito além da mera descrição de acontecimentos e centra-se sobretudo nas relações entre o trio de protagonistas, com destaque para o enorme Philip Seymour Hoffman. As tensas sequências entre ele e Joaquin Phoenix são de antologia, e dão uma dimensão trágica a uma história de ascenção (de um) e queda (de outro).

7 – “Blue Jasmine“ – “Blue Jasmine” (Woody Allen, 2013).

Woody Allen já nos habituou a, volta e meia, nos surpreender. “Blue Jasmine” é a sua última sessão de psicanálise e é um magnifico exercício narrativo, assente num extenso e artisticamente valioso elenco e numa direcção segura, que transforma uma estória simples num exigente mosaico sentimental com um final simultaneamente descarado e imprevisível. Cate Blanchet é magnifica e dificilmente deixará escapar o segundo Óscar. Última nota para a ressurreição artística de Andrew Dice Clay, numa jogada de génio de Allen.

8 – “Só Deus Perdoa“ – “Only God Forgives” (Nicolas Winding Refn, 2013).

Depois da enorme aceitação de “Drive“, Nicolas Winding Refn agita as águas com um enorme exercício estético que encontra nas nossas memórias imagéticas e sensoriais o seu fio condutor. É um filme exigente, difícil apesar de belo, mas recompensador na sua intransigência narrativa, no seu pragmatismo formal e na sua condescendência emocional. Ainda não foi desta que Ryan Gosling se afirmou definitivamente, mas Kristin Scott Thomas enche o ecrã com  beleza, perversidade e tragédia.

9 – “Raptadas – “Prisoners” (Denis Villeneuve, 2013).

Provavelmente o filme que melhor me surpreendeu este ano. Não sendo uma obra-prima, é um belíssimo e seguro drama sobre a perda e a perseverança. Villeneuve prova aqui que o seu Óscar não foi um acidente de percurso e faz-se acompanhar pelo melhor elenco do ano, num filme que é tenso, enigmático e muito incómodo.

10 – “O Grande Mestre – “Yi dai zong shi” (Wong Kar Wai, 2013).

Wong Kar Wai, traz-nos a biografia do grande Ip Man, o mestre de artes de artes marciais de, entre muitos outros, Bruce Lee. Mas fá-lo sem prescindir do seu estilo próprio, que dota as sequências de acção de extrema beleza, com uma narrativa propositadamente fragmentada e exigente, mas dotada de ritmo e interesse.

Menções honrosas.

Fuga” – “Mud” (Jeff Nichols, 2012), “À Procura de Sugar Man” – “Searching for Sugar Man” (Malik Bendjelloul, 2012), “Efeitos Secundários” – “Side Effects” (Steven Soderbergh, 2013), “Mamã” – “Mama” (Andrés Muschietti, 2013), “00:30 A Hora Negra” – “Zero Dark Thirty” (Kathryn Bigelow, 2012), “Gravidade” – “Gravity” (Alfonso Cuarón, 2013).

Desilusão do ano.

Django Libertado” – “Django Unchained” (Quentin Tarantino, 2012).

Pior do Ano.

Die Hard: Nunca é Bom Dia para Morrer” – “A Good Day to Die Hard” (John Moore, 2013)

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