Domingo, optei também pelos dois filmes da noite, ambos sugestões do laxanteCULTURAL para quem só pudesse ver 10 filmes este Fantas. Eis porque se revelaram boas apostas:
“Pietá” foi o primeiro da noite, aquele que marca o regresso de Kim Ki-Duk à realização após alguns anos de ausência. Um homem que vive como cobrador de empréstimos e que, quando não consegue receber a bem, mutila ou aleija os endividados por forma a receberem o dinheiro do seguro e com ele pagarem o altíssimo juro da dívida, recebe a visita de uma mulher que diz ser a mãe que o abandonou à nascença, 30 anos atrás. Após a resistência inicial, ele acolhe-a e tenta levar uma vida normal, incluindo a infância feliz que ele nunca teve. Sendo coreano, é quase inevitável que seja um filme sobre vingança, mas a forma como Ki-Duk desenvolve a narrativa só o revela no último terço. Antes, temos uma violenta estória de um personagem que não tendo conhecido o amor dos pais, usa a sua frieza e isolamento como arma, servindo-se dela para provocar dor e sofrimento quando necessário. A forma como a estranha mulher abala a sua realidade é particularmente bem desenvolvida, criando um conflito em que somos quase forçados a pôr-nos do lado daquele que até aí tínhamos odiado. E é esta dualidade que faz do filme uma excelente estória de queda e redenção (ou vice-versa, dependendo da nossa perspectiva), conseguindo escapar aos clichés do género ou utilizando-os como ferramenta para iludir o espectador. A narrativa é sólida e bem estruturada, com uma excelente fotografia e interpretações sólidas do par protagonista. Recomendado (o filme volta a ser exibido hoje, segunda-feira, às 23h00 no pequeno auditório do Rivoli).
Classificação: 4/5
Para terminar a noite, “Iron Sky“, uma comédia de ficção-cientifica que nos chega da Finlândia, com o realizador a fazer uma hilariante apresentação do filme ao público do Fantas. Em 1945, o secreto plano espacial nazi permite que, ao perder a guerra, os sobreviventes do 3º Reich se refugiem no lado escuro da lua. Em 2018, quando uma missão espacial americana liderada por um negro lhes aparece à porta, eles regressam à terra para estudar a invasão que lhes devolverá o poder. Timo Vuorensola cria aqui uma deliciosa sátira politica e social, servida por excelentes efeitos especiais e uma fotografia que evidencia o contraste entre a base alemã no lado escuro da lua e o vibrante colorido da América em período eleitoral, em que Sarah Palin (sim, essa) concorre à reeleição com a frase de campanha ‘Yes, We Can‘. Há momentos cómicos excelentes, sobretudo quando envolvem sátira politica (a professora nazi mostra aos alunos um clássico do cinema, “O Grande Ditador“, filme de 10 minutos em que Chaplin expressa o desejo de ver Hitler dominar o mundo), mas infelizmente são inferiores àqueles em que o nonsense tenta controlar o filme, acabando por lhe tirar força e cair na rotina da piada que não a teve. A reforçar o lado negativo do filme, salvo uma ou outra excepção, estão as interpretações, fracas para o tipo de humor e filme que se pretendia. A entrega de piadas de forma pouco credível acaba por fazer o filme resvalar para o tédio, salvo a espaços por excelentes efeitos especiais e uma rara piada certeira. É um filme cheio de boas intenções e ideias, mas acaba por se tornar desequilibrado e inconsequente.
Classificação: 2.5/5
Antes de “Iron Sky” foram exibidas duas curtas-metragens. “Look” é uma pequenoa e agradável animação por stop-motion feita por estudantes do 2º ano ano e prova que, muitas das vezes, ‘less is more‘. (classificação: 3.5/5). “Alexis” é um filme espanhol com contornos sobrenaturais, que apesar de ser interessante tecnicamente acaba por não ser bem conseguido na sua intenção de agarrar o público (classificação: 2.5/5).
Hoje, há mais uma sugestão do laxanteCULTURAL, “Ace Atourney” (às 23h15 no grande auditório do Rivoli). Podem Consultar o resto do programa no site do festival. Últimas palavras para fazer votos de que os problemas de som e imagem registados ontem em quase todas as sessões do grande auditório estejam já resolvidos.