Ao quinto dia de festival começou a competição a sério. Na sua sessão de abertura, o Fantasporto 2013 teve casa cheia, e começou com os discursos da praxe. César Nóbrega apresentou a directora do festival, Beatriz Pacheco Pereira que como sempre deu as boas vindas aos convidados estrangeiros, antes de centrar o seu discurso na extensa programação do festival e suas iniciativas paralelas, para depois se debruçar sobre o estado da cultura em Portugal, nas dificuldades que o festival teve em financiar-se e da pouca apreciação que os agentes culturais têm neste país, independentemente das provas dadas e da sua inegável contribuição sócio-cultural ao longo dos anos. Um discurso que, apesar de repetido, faz sempre e cada vez mais sentido.
Depois, e iniciando as ‘hostilidades’, António Reis apresentou Andrés e Barbara Muschietti, realizador e produtora de “Mama“, que agradeceram e elogiaram a presença no festival. Podem ler a minha crítica ao filme aqui. O filme foi antecedido pela curta-metragem de animação “The Birth Of Rock“, que apesar de ter uma ideia base engraçada (uns bichos estranhos que soam a instrumentos musicais vão-se comendo uns aos outros até criarem a sonoridade do rock), tem uma animação grotesca e sem ritmo que a tornam numa dolorosa prova de resistência para o espectador. Classificação: 1/5
A segunda sessão da noite foi o clássico de 1948 “The Red Shoes“, de Michael Powell e Emeric Pressburger, numa versão nova restaurada pelo British film Institute. Baseado no conto de fadas de Hans Christian Andersen, conta-nos a estória de uma bailarina de ballet que se encontra dividida entre o homem que ama e a sua carreira como prima ballerina. O filme foi primorosamente restaurado, tornando o seu technicolor ainda mais vibrante e glamoroso. Apesar dos seus 65 anos, mantêm ainda uma frescura impressionante, graças à sua narrativa envolvente, personagens sólidos, conflitos interessantes e uma fantástica sequência de bailado que é um prodígio da fotografia e da montagem e que deve ser estudada por qualquer aspirante a cineasta. Talvez beneficiasse um pouco se não fosse tão longo, tendo alguns momentos menos interessantes que cortam a narrativa e a tornam um pouco monótona, mas que não interferem no seu estatuto de obra-prima incontestável da história do cinema. Destaque para a realização, a fotografia do mestre Jack Cardiff, a montagem de Reginald Mills, e as interpretações de Moira Shearer, Marius Goring e Anton Walbrook.
Classificação: 4/5
Sábado, a minha atenção recaiu sobre os dois filmes da noite, duas das sugestões do laxanteCULTURAL, que tiveram uma excelente afluência de público.
“The Seasoning House“, de Paul Hyett, acabou por ser uma agradável surpresa, e um daqueles filmes-tipo do Fantas que despertam ovações por parte do seu fiel público nas cenas mais violentas e sangrentas. Passado nos Balcâs durante a guerra, conta-nos a estória de uma jovem surda-muda que é enviada para um bordel e, devido à sua condição, é responsável por tratar e drogar as jovens obrigadas a prostituirem-se aos militares. Quando uma dessas mulheres revela saber linguagem gestual, cria-se uma amizade entre as duas, interrompida por um militar violento que espanca a prostituta até à morte. Após vingar a amiga, a jovem vai ter de se refugiar nas paredes da casa e eliminar os restantes homens para poder escapar com vida. O filme pode facilmente ser dividido em duas partes: antes e depois da violação e consequente morte do militar. Até aí, o filme tinha um ritmo lento que, apesar de conseguir uma eficaz caracterização das personagens, se arrastava e entediava um pouco o público. Daí que, quando o filme explode em violência e gore, muito explicito e bem executado com um realismo impressionante, a plateia do Rivoli tenha irrompido em aplausos. É de sangue que esta malta gosta e o filme teve-o em doses generosas. A partir daí o filme manteve um ritmo vertiginoso até ao final, mantendo a tensão e o visual sangrento em níveis muito satisfatórios, apesar de recorrer e muitos clichés e truques narrativos vulgares. Dentro do género, é um filme bem conseguido, mas que beneficiaria com um pouco de originalidade e mais ritmo narrativo na primeira parte, além de que algumas personagens beneficiariam com actores melhores e com mais carisma.
Classificação: 3.5/5
Este filme foi antecedido por “Oh, Willy” uma curta de animação por stop-motion, com um visual muito bem conseguido e personagens criadas com materiais pouco usuais neste tipo de produção. Uma narrativa lenta, mas que ganha pela originalidade da animação. Classificação: 3/5.
O último filme da noite foi “Insensibles“, uma co-produção portuguesa, apresentada ao público por Luís Calvão Teles. Realizado por Juan Carlos Medina, o filme tem uma boa premissa, com uma narrativa a dois tempos, durante a guerra civil espanhola e a actualidade, e uma estória forte, mas que peca por ser previsível no último acto. A exploração da Síndrome de Riley-Day (desordem do sistema nervoso autónomo que afecta o desenvolvimento e a sobrevivência dos neurónios sensoriais, resultando em vários sintomas que incluem insensibilidade à dor e incapacidade de produzir lágrimas) é bem conseguida, resultando num forte pilar onde assentam os acontecimentos impressionantes da estória. A realização é segura, assim como as interpretações, mas o filme precisava de um maior ritmo narrativo e maior pragmatismo no desenvolvimento narrativo. Apesar disso é um filme interessante, que nos orgulha pela excelente produção com colaboração lusa.
Classificação: 3/5.
O filme foi antecedido pela curta “El Vagabundo“, de Jorge Blas, uma estória simples com contornos fantásticos, que tenta complicar aquilo que é simples e ser mais original do que realmente é, apelando ao humor (raramente conseguido) para criar empatia por personagens vazios e uma estória desinteressante. Classificação: 2/5.
Hoje temos mais duas sugestões do laxanteCULTURAL, “Pietá” e “Iron Sky“.
Nota: As fotos da sessão de abertura foram retiradas da página de facebook do festival.