Arrancou ontem a 32ª edição do Fantasporto, ainda em fase pré-Fantas, ou seja, antes de se abrirem as hostilidades da competição oficial na próxima sexta feira. No entanto, alguns dos filmes em competição podem já ser ser vistos, para quem não quiser aproveitar a oportunidade de ver o ciclo dedicado a Ed Wood (ou no meu caso, quem já conheça grande parte da sua obra). Assim sendo, no primeiro dia do festival vi “Bride Of The Monster” e “Hell“. O primeiro é um filme de 1955 (aqui em versão colorida), que comprova mais uma vez a falta de competência de Wood, ao mesmo tempo que lhe enaltece a criatividade e o engenho. Mas, sobre este filme podem ver a apreciação certeira que o Nuno Reis fez no Antestreia. Eu prefiro debruçar-me um pouco sobre “Hell”.
“Hell” é a primeira longa-metragem de Tim Fehlbaum, com produção executiva de Roland Emmerich (ou não fosse este um filme apocalíptico), e que têm a particularidade de ser um filme alemão de ficção cientifica / terror (género praticamente inexistente nesta filmografia), de baixo orçamento. O resultado é um cruzamento entre “Mad Max” e “The Texas Chainsaw Massacre“.
Em 2016, o sol queimou praticamente tudo à fase da terra. Não há recursos naturais, e sobram apenas os restos da civilização e alguns sobreviventes. Seguimos 3 desses sobreviventes (duas irmãs e o namorado de uma delas) e um quarto que entretanto encontram enquanto procuram por água, comida e gasolina. Quando os quatro encontram um carro acidentado e tentar tirar de lá tudo o que conseguirem, percebem que acabaram de cair numa macabra armadilha.
Enquanto se mantém no registo “Mad Max”, “Hell” é bastante satisfatório. Toda a construção de um cenário apocalíptico recorrendo apenas à direcção artística e fotografia é excelente, definindo um clima de tensão que funciona muito bem. O ritmo lento e a perspectiva de câmara-ao-ombro imprimidos pelo realizador envolvem o espectador de uma forma intensa e cativante.
Quando passa para o registo “Texas Chainsaw Massacre”, o filme perde grande parte do seu fascínio, transformando-se num slasher movie que pouco ou nada contribui para o já existente no género. Mesmo assim, continua a ser bastante interessante a forma como o ambiente continua a influenciar os acontecimentos da narrativa.
Para isso contribuem também os actores, com destaque para Hannah Herzsprung (“The Reader“), na criação de personagens com que os espectadores se identifiquem e sintam empatia e emoção no desenrolar dos acontecimentos. Não é também muito comum em filmes do género.
A realização de Tim Fehlbaum é bastante sólida, gerindo muito bem todos os elementos, destacando-se a fotografia de Markus Förderer (o factor luz é aqui importantíssimo, quer nas cenas diurnas como nas nocturnas) e a música de Lorenz Dangel, na criação da tensão contagiante que prende o espectador até ao fim.
Resumindo, “Hell” é um filme bastante satisfatório que pecou por ter um argumento que não soube fugir ao facilitismo, convertendo-o num produto mediano quando tudo faria indicar que seria bem acima da média.
Classificação: 3/5
Hoje conto ver mais um ED Wood, “Glenn Or Glenda“, e “Meat“, um filme Holandês que promete muitas emoções fortes. Amanhã dou noticias…