Zack Snyder é um realizador que aprecio bastante, pela forma como reinventou a forma de contar uma estória, usando a tecnologia para esse fim, e deslumbrando com mundos novos e arrebatadores. Aguardava este “Sucker Punch” com grandes expectativas, que não quis estragar sabendo demasiado sobre o filme. O resultado foi uma semi-desilusão…
Babydoll é uma jovem que, depois de perder todos de quem gostava, é internada num manicómio pelo padrasto, que pretende que lhe façam uma lobotomia. Mas babydoll tem um dom, o de encantar e siderar os homens com o seu talento para a dança, e com a ajuda de quatro companheiras vai tentar escapar antes da chegada de High Roller, o seu carrasco.
“Sucker Punch” começa com uma obra-prima, um prelúdio com seis minutos em que conta a premissa sem uma única palavra ser dita, mas cedo mostra a sua fragilidade. À medida que vamos avançando na narrativa, Snyder prova que o seu forte é a imaginação visual e não o argumento. Com diálogos poucos imaginativos e uma acção repleta de clichés, a parte emocional do filme, o seu núcleo narrativo, é pouco seguro e redundante, falhando na criação de personagens fortes e antagónicas (à excepção de Babydoll e Blue Jones).
Despacho já mais dois pontos negativos no filme, para me dedicar ao que realmente faz valer o preço do bilhete. A personagem de Jon Hamm (High Roller) é tão mal aproveitada que chega a ser frustrante quando o filme acaba ver um actor deste calibre ser tão mal aproveitado. Terá no máximo uns 2 minutos de ecrã e umas 3 ou 4 falas, o que, para uma das personagens mais presentes no filme (o nome dele surge em grande parte dos diálogos, como a ameaça que Babydoll tem de evitar), é francamente pouco e uma péssima escolha da parte de quem fez o casting.
Ainda um lamento para o facto de nunca se ver a dança de babydoll, que tanto fascínio desperta em quem a vê. A expectativa vai aumentando tanto a cada número musical que é uma maldade enorme de Snyder não nos saciar essa curiosidade. Pior ainda é que os videoclips que substituem esses momentos acabam por ser redundantes, não passando de desfiles de acção frenética em mundos imaginados, com combates contra inimigos bizarros (dignos do universo de Tolkien) ao som de canções mais ou menos reconhecíveis, recriadas de propósito para a fita por alguns dos actores do filme com a ajuda de nomes como os Skunk Anunsie ou Björk.
E é aqui também que reside a força do filme. Snyder manipula o ecrã verde como ninguém e mostra mais uma vez que a sua imaginação não te limites. Os momentos musicais (prefiro chamar-lhes assim, até porque são isso que representam na narrativa), são um prodigioso trabalho dos magos dos efeitos especiais, e resultam num divertimento que, apesar de inconsequente e sem relação directa com a narrativa principal, sacia a vontade de todos aqueles que apreciam um bom espectáculo visual. O realizador mostra também talento na coreografia dos combates e na colocação da câmara, criando envolvimento com o espectador, colocando-o o mais perto possível da acção.
Nas interpretações, ressaltam duas muito positivas: Emily Browning como Babydoll e Oscar Isaac como Blue Jones (o par antagónico de que falava). Além de serem aqueles sortudos a quem couberam as personagens mais interessantes do filme, demonstram muita segurança na sua criação. Menos sorte tiveram os veteranos Scott Glenn e Carla Gugino (de Hamm nem vale a pena voltar a falar), que apesar de serem bons actores, parecem nunca perceber qual é verdadeiramente o seu papel ali (nem eles nem nós).
Resumindo, “Sucker Punch” é um divertimento de excelência para quem vá apenas à procura de deslumbramento visual e auditivo, e nesse sentido deve ser apreciado numa boa sala de cinema. Para quem procura algo menos atordoante do que isso, com uma estória envolvente e que nos deixe algo para saborear durante algum tempo, este é um filme a evitar, pois falta-lhe coesão, clareza, significado e importância, tanto na estória como na sua narração. Para quem vá à procura das duas coisas, sairá de lá como eu: assim, assim e com vontade de ir para casa ouvir a banda sonora. E com a sensação de ter gasto duas horas a ver algo duplamente redundante.
Classificação: 3/5
Que pensa, estava ansiosa pelo filme…
É apenas a minha opinião, Brigite.
Suker Punch se trata da fulga do mundo caótico que Babydoll encontrasse no seu subconsciente. A história verdadeira é somento do momento em que ela chega ao hospício, até o final onde ela realmente sofre a lobotomia. A história dela ser dançarina é algo da sua imaginação, um outro mundo… Na parte da dança, onde infelizmente não vemos nada, ela foge mais uma vez para sua imaginação e cria outro mundo… Mesmo esquema de Inception (A Origem) onde dentro de um subconsciente se cria outro e mais outro. Continua sendo um filme que eu recomendo, porém digo para irem com a mente um pouco mais aberta e prestar atenção a todos os detalhes, assim a história vai se encaixando e tomando um pouco de sentido.
Fala sério, quem não quer ver um monte de nifetinha saindo no abraço e dando tiro, de vez em quando e bom sair do cult e ir pro pop só pra relaxar.
Sem querer ser chato mano mas ter q ler a palavra “estória”, que já não tem uma história muito boa, repetida 1.000 vezes é F#*%&.
Olá Mário, Realmente o filme não é mau de todo. As minhas críticas dizem respeito a questões técnicas e artísticas relacionadas sobretudo com o guião (ou roteiro, uma vez que és brasileiro) e casting. O filme é puro entretenimento e, nesse aspecto, é muito bom.
Quanto à estória, remeto para o dicionário Priberam de língua Portuguesa:
estória
(inglês story, do latim historia, -ae, do grego historía, -as, exame, informação, pesquisa, estudo, ciência)
s. f.
Narrativa de ficção, oral ou escrita. = conto, fábula, história, novela
história
(latim historia, -ae, do grego historía, -as, exame, informação, pesquisa, estudo, ciência)
s. f.
1. Narração escrita dos factos notáveis ocorridos numa sociedade em particular ou em várias.
2. Hist. Período do desenvolvimento da humanidade após o aparecimento da escrita.
3. Ciência ou disciplina que estuda factos passados.
4. Sequência de factos ou acções!.
5. Relato desses acontecimentos. = estória, narração, narrativa
6. Descrição dos seres da Natureza.
7. Estudo das origens e progressos de uma arte ou ciência.
8. Biografia de uma personalidade ou personagem célebre.
9. Livro de história.
10. Infrm. Relato destinado a enganar (ex.: não me venhas com histórias). = conto, mentira, peta
Ou seja, usa-se estória para designar uma narrativa ficcional e história para uma descrição de factos reais. É assim que eu escrevo e continuarei a escrever, em bom Português.
Sou fã de anime e gosto muito da tématica de garotas que lutam, carregam armas, enfim. O problema é que o filme, nem nisso, renova. Então depois da terceira vez que mostra essas cenas, fica chato. Porque todo mundo já sabe que elas são boas, fortes, e matam todo mundo. Parece que o diretor entregou o ouro todo de uma só vez.
Cara… Se você não estava apto a receber críticas, por que escreveu esse artigo? Como pseudo-escritor você tem que estar aberto a críticas, ao invés de se fechar na ignorância com frases do tipo “eu escrevo assim e pronto”. Falta maturidade nesse tipo de comentário… E só para esclarecer:
“Embora existam ainda muitos defensores dessa diferenciação, o fato é que isso não existe no idioma. “Estória”, na realidade é um sinônimo de “história” e havia caído em desuso. Posteriormente voltou a ser utilizado no Brasil. A diferenciação entre os dois vocábulos, entretanto, inexiste, tanto é que modernamente o termo “estória” está sendo abandonado. Basta ver que é comum o uso de “história” para identificar fábulas ou contros infantis. “Estória” ou “história”, na realidade, significam exatamente a mesma coisa.”
Ed, vou responder começando pelo fim. Tudo o que tu dizes está correcto, mas não podemos esquecer que o Português é diferente em Portugal e no Brasil. Aqui existe essa diferenciação e é por isso que eu a uso, até porque gosto de a sublinhar.
Quanto ao resto, nem eu me considero pseudo-escritor (e muito menos escritor ou afins), nem tão pouco estou fechado a críticas. Prova disso é o facto de eu ter esclarecido uma crítica que me foi feita, num português péssimo e agressivo (ao contrário do teu, desde já te dou os parabéns porque não é usual), sem usar qualquer tipo de insulto ou agressividade. Ao contrário, percebi perfeitamente que a crítica vinha de quem está acostumado a um português diferente e esclareci-a. Conhecer essas diferenças e subtilezas da língua (coisa que tu não fizeste) é exactamente o contrário de me fechar na minha ignorância. E não ter maturidade é criticar um texto sem fazer o mínimo esforço para o interpretar.
Por último, obrigado pela tua visita. Volta sempre.
Você fez um texto muito coesivo. Eu concordo com você no sentido de que os seis primeiros minutos do filme foram arrasadores: foi uma sequência narrativa espetacular. O problema é que eu não tinha ido ao cinema ver ação, e ainda por cima ver ação ruim que eu já conheço, já sei como funciona e estou cansada de ver.
Em um dos textos que eu escrevi eu comento sobre Sucker Punch, mas comento criticando uma crítica feita pela Isabela Boscov.
Gostei do seu texto porque não usou as mesmas palavras que ela.
Caso você deseje, passe no meu site para dar uma olhada. Chama-se “O Problema da crítica de Isabela Boscov”.
Olá Clarissa. Antes de mais, muito obrigado pelo teu comentário. É bom alguém comentar para fazer aquilo para que este espaço existe: discutir cinema e cultura.
Em relação ao filme, parece que ambos concordamos. O Snyder perdeu um pouco o fio narrativo ao filme. Espero que seja uma questão temporária e que no próximo volte a fazer o que faz bem: dosear a acção com uma boa estória.
Quanto ao teu artigo, por acaso já o tinha lido hoje de manhã. Mas fica aqui a dica para outros leitores interessados em ler sobre cinema.
eu até gostei do filme, me lembrou umas revistas da decada de 80 onde era comum enredos assim.
como o filme,vc é um idiota cult pseudo-perdedor,parabéns!
Uma boa crítica, gostei de ler, parabéns.
Mas sinto muito em dizer, caro Pedro, que caíste na dança da Babydoll.
A estória existe sim, e está lá toda, mas é apenas para o verdadeiro público entender.
Por exemplo, a dança da Babydoll, nunca foi uma “dança” no verdadeiro sentido da palavra, foi sim uma distracção. Todas as pessoas que saíram do cinema totalmente à toa, saíram de lá assim, porque ficaram demasiado presas ao aspecto visual do filme, à “dança”.
Acima de tudo, nunca foi a Babydoll que imaginou aquilo que vimos, foi a Sweet Pea 😉
“Para quem procura algo menos atordoante do que isso, com uma estória envolvente e que nos deixe algo para saborear durante algum tempo, este é um filme a evitar, pois falta-lhe coesão, clareza, significado e importância” — A frase com que mais discordei, caro amigo, pois as únicas coisas que faltaram, foram a clareza e coesão. Mas isso já é outra história, faz parte da maneira que Snyder quis apresentar o filme, tal como se se tratasse de um puzzle.
Aconselho a ler a crítica deste colega, uma das minhas favoritas: http://cinenu.blogspot.com/2011/03/sucker-punch-mundo-surreal.html
Olá Nerd, e obrigado pelo elogio.
Quando às críticas, eu até entendo aquilo que tu dizes, mas não mudo uma linha à minha crítica. Por uma razão, o Snyder pode dar o significado que quiser ao filme mas, se não é claro, ele não chega ao espectador. Ou seja, o filme acaba por ser supérfluo, por muito profunda que seja a estória. Sendo assim, concordo em discordar contigo. Também li a crítica que me aconselhaste, e a única coisa que tenho a dizer é que o filme ganharia muito tudo aquilo fosse claro.
Por último, uma pergunta: se o significado e importância forem imperceptíveis, existirão?
Obrigado pelo teu comentário e incentivo à discussão cinéfila. Volta sempre.