Era uma morte há muito anunciada, mas que surge como uma triste notícia para o mundo do cinema. Dennis Hopper tinha 74 anos e um cancro na próstata em fase terminal, que acaba por lhe levar a vida na manhã deste sábado. Com uma carreira com mais de meio século, era um dos últimos rebeldes do cinema americano. Assim de repente, só me consigo lembrar de Jack Nicholson, o amigo que Hopper ajudou a lançar em “Easy Rider“, o seu verdadeiro tour de force que se transformou em filme de culto e imagem de marca dos loucos anos 60.
Publicar aqui uma filmografia intensa seria redundante, tal como o é destacar alguns dos seus trabalhos, mas vou fazê-lo recorrendo apenas à memória, tornando esta uma lista sucinta e uma homenagem pessoal.
O seu primeiro trabalho no cinema foi “Rebel Without A Cause – Fúria De Viver” (1955), título que assenta como uma luva à sua vida e marcou também a estreia de outro ícone do cinema, James Dean, com quem voltou a contracenar em “O Gigante” (1956). Seguiram-se dezenas de participações em séries televisivas e pequenos papéis em cinema como “Gunfight at the O.K. Corral” (1957), com Kirk Douglas e Burt Lancaster e “Cool Hand Luke (1967), com Paul Newman, antes de se estrear na realização e escrita com o já referido “Easy Rider”, em 1969. É nomeado para o Óscar na categoria de melhor argumento original e premiado em Cannes como melhor primeira obra. A partir daqui, o seu trabalho volta-se definitivamente para o cinema.
Em 1979 destaca-se em “Apocalipse Now“, de Francis Ford Coppola, com quem volta a colaborar em “Rumble Fish” (1983). Mas é em 1986 que têm aquele que será porventura o seu papel mais memorável: Frank Booth em “Blue Velvet – Veludo Azul“, de David Lynch.
Neste mesmo ano seria novamente nomeado para Óscar de melhor actor secundário em “Hoosiers“. Seguem-se inúmeros filmes de sucesso variável, dos quais destaco “The Indian Runner“ (Sean Penn, 1991), “Red Rock West” (John Dahl, 1993), “True Romance” (Tony Scott, 1993), “Speed” (Jan De Bont, 1994), “Basquiat” (Julian Schnabel, 1996), “Land of the Dead” (George Romero, 2005) e “Palermo Shooting” (Wim Wenders, 2008).
Nos últimos 10 anos, voltou a trabalhar com regularidade na televisão com dois destaques: inaugurou a galeria de vilões de “24” (2001) como Viktor Drazen e foi protagonista das duas temporadas da versão televisiva de “Crash”, terminada o ano passado.
Além do seu trabalho no cinema, foi um reconhecido artista plástico (em cima, junto a uma das suas obras). Já este ano, e quando todos já esperavam a sua morte, foi-lhe finalmente atribuída a merecida estrela no passeio da fama em Hollywood. Apesar das objecções dos médicos e familiares, fez questão em estar presente, fazendo mesmo um emocionante discurso.
Mostro agora alguns vídeos onde se pode ver o homem e alguma da sua obra. Primeiro, em duas cenas de “Blue Velvet”.
De seguida, num registo diferente, com Christopher Walken numa cena magnífica escrita por Quentin Tarantino, em “True Romance”.
A seguir, o excelente programa de James Lipton “Inside The Actor’s Studio”, gravado em 1994. São 7 vídeos com o programa completo, que vale a pena ver.
Finalmente, o discurso de Hopper, já este ano, quando recebeu a estrela no passeio da fama.