“Homem De Ferro 2”: Ferro Banhado A Ouro.

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Sempre considerei o primeiro “Iron Man” como sendo uma muito refrescante fita de super-heróis, mas longe de ser um bom filme. Aquilo que o tornava diferente dos restantes, nesta vaga de adaptações de bandas-desenhadas, era a honestidade, o orgulho, a falta de pretensão e o sentido de entretenimento. O seu sucesso obrigava a uma sequela e ela aí está (já com a promessa de um terceiro capítulo). Naquilo que o outro falhava, a estória, este melhora, embora tenha também muitos buracos e algumas falhas, principalmente na caracterização de personagens e na consistência da narrativa (por vezes parece que faltam algumas cenas de ligação entre sequências). A sensação que fica é a de que estamos perante um filme melhor, mas ao qual falta qualquer coisa que o anterior tinha.

Tony Stark está com um grave problema de saúde derivado da fonte de energia do fato e do seu próprio coração. O Governo quer que o fato de super-herói lhe seja entregue, como acontece com todas as armas consideradas de guerra. Ivan Vanko, filho do colaborador das Indústrias Stark que inventou a fonte de energia e morre na miséria, decide procurar vingança contra o playboy milionário.  Há ainda o Tenente-Coronel James ‘Rhodey’ Rhodes que se deixa levar pelo seu patriotismo, Justin Hammer que se deixa levar pela sua ganancia e mau-carácter, Pepeer Potts que continua a não misturar negócios com prazer e continua num ‘chove e não molha’ com Stark, Natalie Rushman a.k.a. Natasha Romanoff a passear sensualidade e a distribuir golpes de tesouras que desafiam a gravidade mas nos fazem disparar a testosterona e Nick Fury, que vê mais com um só olho do que muito boa gente com dois.

Com tudo isto, “Iron Man 2” tem tudo para não ser um filme chato ou monótono e agradar a diferentes tipos de público. Só que, com tantas storylines e motivos de interesse (ou distracção), corre o risco de desorientar o espectador lá para o final do segundo terço. No entanto, Justin Teroux (o protagonista de “Mullholland Drive“, aqui argumentista), consegue dosear todos os ingredientes de forma a conseguir uma narrativa fluída, alternando as cenas de maneira a não dar tempo ao espectador para ir assimilando as pequenas falhas que toda esta salgalhada origina. O problema maior do filme é que, com tanta personagem para seguir, tanta estória para acompanhar, acabamos por não criar grande afinidade com nenhuma.

Robert Downey Jr. parece aqui estar em piloto automático, o que também não ajuda. Mas culpa disso é o facto de repetir o mesmo personagem dois filmes seguidos. Também em “Sherlock Holmes” era um homem brilhante, mas com problemas afectivos, mimado e birrento que será obrigado a empenhar-se para livrar o mundo de um vilão. Mickey Rourke passa o filme a reconquistar o espectador após o overacting absurdo do final da primeira cena. Acaba por consegui-lo muito por causa das momentos em que contracena com Sam Rockwell, que está numa forma excelente e rouba todas as cenas em que aparece, conseguindo ainda arrancar o melhor dos actores com que interage. Só pela sua interpretação, já vale a pena ver este filme. Gwyneth Paltrow está muito segura, mas infelizmente não tem muito espaço para explorar as diferentes situações por que a sua personagem passa ao longo do filme. O mesmo acontece com Don Cheadle, que acaba por não acrescentar muito à personagem anteriormente interpretada por Terrence Howard. Samuel L. Jackson está aqui apenas para assegurar “The Avengers” e aproveita para passear algum carisma (o que nem é mau). Por último, Scarlett Johansson. Confesso que embirro com a mulher, que considero a mais desenxabida e sobrevalorizada actriz da actualidade. E confesso também que, aqui, ela finalmente demonstrou que posso estar errado. Além de estar muito bem no tom que confere à personagem e aos diálogos, conseguiu finalmente estar à altura do corpo que tem, transmitindo sensualidade, determinação e muita agilidade.

Como não podia deixar de ser, em termos técnicos o filme é excepcional. Os efeitos especiais são de encher o olho, a fotografia é eficaz e emotiva, a montagem tem o ritmo certo para os diferentes tipos de sequência, a direcção artística é high tech mas funcional. A realização de Jon Favreau (que aqui tem uma maior participação como actor, chamando a si a responsabilidade do humor do filme) é competente e está à altura da tarefa hercúlea de dirigir um projecto deste género. Falha aqui e ali no aproveitamento que faz de algumas cenas em detrimento de outras.

A sequência no autódromo do Mónaco é das melhores cenas que eu já vi num filme de género. Tem espectáculo, tensão, emoção e uma boa caracterização dos personagens. Aqui, mais do que em outra cena, se percebe a lealdade daqueles que rodeiam Stark, suficiente para os fazer arriscar a própria vida para o proteger. Aqui é revelado todo o potencial destruidor de Wiplash e mostra também o upgrade ao fato de ferro, num combate que só não é mortífero porque acontece demasiado cedo na película. Mas esta podia bem ser a sequência final do filme.

Como eu já disse, há cenas em que parece que faltam momentos ou transições. Certamente por motivos de tempo, muita coisa teve de ficar na mesa de montagem. Por exemplo, nos trailers, há uma cena em que Downey Jr, pede a Paltrow um beijo, ela beija o capacete, atira-o e ele mergulha atrás dele. Essa cena simplesmente não está no filme. E é um bom momento, que traria mais alguma dinâmica e profundidade ao par, e que gostaria de ver desenvolvido. Favreau explicou numa conferência de imprensa que a opção foi tomada para que a primeira vez que Stark aparecesse fosse depois de removido o fato, e não no avião com Paltrow.

Ao nível da música, fiquei um pouco chateado. Adorei saber que os AC/DC tinham contribuído com 15 temas do seu extenso catálogo para o filme, o que originou um CD que promove o filme e a banda. Acontece que no filme só estão 2 destes 15 temas, “Shoot To Thrill” e Highway To Hell“. Publicidade enganosa e desnecessária que não beneficia nem um nem outro.

Resumindo, “Iron Man 2” é um excelente divertimento, que consegue manter o nível do primeiro filme (apesar de perder o efeito surpresa) e ter um argumento mais complexo e completo. É talvez um pouco mais rígido na execução, mas é compreensível, uma vez que agora havia uma fasquia que era necessário ultrapassar. Tem ainda uma enorme qualidade: a coragem de ser um dos poucos (para não dizer que é o único) blockbuster deste ano a não se vender à moda (ou mania) do 3d. Voltando ao inicio, talvez aquilo que lhe falta seja um pouco de objectividade. Mas, para um filme deste género, isso é o menos importante. É um grande espectáculo visual, mas que acaba por não cumprir na totalidade tudo aquilo a que se propõe no argumento. É de ferro sim, mas banhado a ouro.

Classificação: 3.5/5

P.S. – Fiquem até mesmo ao final para verem a cena extra que está depois dos créditos. A quem o fez: quem me diz o que é aquele objecto que aparece no final? Pareceu-me ser o martelo de Thor… Alguém confirma?

2 comentários em ““Homem De Ferro 2”: Ferro Banhado A Ouro.”

  1. eu vi na estréia,e fiquei pra ver a cena no final dos créditos

    eu não diria q aquilo era o martelo de thor
    eu lembro q durante o filme,eles comentam de uma espada fodonez q tem um grande poder de destruição,ou algo do tipo…..
    e ela acaba aparecendo no final do filme ‘-‘

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