Sou fã dos Mão Morta desde “Mutantes S.21“. Comprei-o depois de ler uma crítica no semanário “SE7E” e antes de ouvir uma única música. Claro que o texto tinha criado em mim algumas expectativas, mas nada que me preparasse para aquilo em que estava prestes a entrar: um universo sonoro e conceptual que se entranhou desde a primeira audição e ainda hoje estranho. Lembro-me, por exemplo, de ouvir “Istambul” pela primeira vez, sozinho, às escuras e de me ter arrepiado da cabeça aos pés ao ouvir aquele grito. Esse arrepio repete-se sempre que o volto a ouvir, e ouvi-o já muitas dezenas de vezes nestes quase 18 anos. Essa reacção à música desta malta, iria repetir-se em quase todos os álbuns que lançaram desde então e em temas como “Velocidade Escaldante“, “Arrastando o Seu Cadáver” ou “Morgue“, só para nomear alguns.
Cada álbum é um acontecimento que aguardo com ansiedade, tentando em vão antecipar a sonoridade ou o tom mais ou menos negro que invariavelmente lhes percorre toda a obra. “Pesadelo em Peluche” é o próximo e estará à venda a partir de segunda-feira 19 de Abril. Mas, numa iniciativa que não é inédita mas que está longe de ser norma (e deveria ser), está disponível para audição integral na página da banda do myspace. Longe de ser um álbum conceptual, como “Müller no Hotel Hessischer Hof“, “Maldoror” ou mesmo “Mutantes s.21“, tem porém, como ponto de partida, o livro “A Feira de Atrocidades” de J. G. Ballard, como Adolfo Lúxuria Canibal explica no sítio oficial da banda. Eu não conheço o livro (do Ballard só conheço o “Crash” e alguns filmes adaptados de outras obras) e, depois de ouvir o álbum, já o escolhi para próxima leitura. No entanto, reconheci “Crash”, escarrapachado em cada linha de “Metalcarne“. Esta promiscuidade entre música e literatura em que os Mão Morta são exímios, torna a experiência de os ouvir ainda mais fascinante (sobretudo se se complementar os discos com as obras que os influenciam).
Musicalmente, é talvez o álbum da banda de mais fácil audição. Como está no texto de Canibal, a sua composição é desenvolvida a partir de algumas das matrizes que os últimos 30 anos da história do rock fixaram. E há de (quase) tudo, do rockabilly ao punk, passando pelo rock dos anos 70 e 80. Mas, se à partida isto poderia ser uma amálgama de estilos que soaria desconexa, a verdade é que o conceito da premissa o torna um álbum coeso e sólido, um dos melhores discos Portugueses dos últimos tempos (como aliás já vem sendo hábito na banda). O alinhamento é aquele que se segue:
1. Novelos da Paixão
2. Teoria da Conspiração
3. Paisagens Mentais
4. Biblioteca Espectral
5. Tardes de Inverno
6. Como um Vampiro
7. Penitentes Sofredores
8. O Seio Esquerdo de R.P.
9. Fazer de Morto
10. Metalcarne
11. Estância Balnear
12. Tiago Capitão
“Pesadelo Em Peluche” é um disco que tenho ouvido continuamente há 2 ou 3 dias, e já está no topo da lista de compras afixada no meu frigorífico mental. Recomendo, antes da compra, a audição do álbum no myspace, para vossa consideração.
Classificação: 5/5
Confiram abaixo a capa e o fantástico vídeo do primeiro single, “Novelos Da Paixão“, numa produção da Bando À Parte com realização de Rodrigo Areias.