Fantasporto 2020 – Dias 25 a 29 de Fevereiro.

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Fantasporto 2020 - banner

O Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto, está de volta com a sua 40ª edição, que decorre entre os dias 25 de Fevereiro e 7 de Março no Rivoli – Teatro Municipal. À semelhança dos anos anteriores, poderá acompanhar aqui tudo o que se vai passar no grande auditório, onde acompanharemos todas as sessões competitivas do festival (à excepção da competição de cinema português, que decorrerá no pequeno auditório). Poderá consultar os posters, trailers e sinopses dos filmes a concurso e, diariamente, conferir a nossa apreciação a todos os filmes exibidos. Este ano, o pré-fantas será novamente dedicado à secção Fantas Classics, onde poderemos ver grandes filmes, no formato para que foram feitos. Deixo-lhes os links para o programa oficial no Issuu e da página de facebook do festival. Por último, deixo-vos um link muito útil, dos nossos amigos do Um Dia Fui Ao Cinema, que têm um calendário de todas as sessões do Fantas, que podem adicionar aos vossos. É uma ferramenta muito útil, que uso há anos e só precisa ser adicionada uma vez.  Aqui estão os filmes deste ano, por ordem de exibição…

TERÇA, 25 DE FEVEREIRO

21:15 – “Blade Runner

Blade Runner - Poster

Ridley Scott– EUA- 117’- 1982 – v.o. leg. port.

Um dos filmes mais visionários do cinema, “Blade Runner” valeu a Ridley Scott um lugar entre os cineastas de culto do fantástico. Esta história de um policial (“blade runner”) que tem como missão capturar e matar “replicantes”, máquinas que dificilmente de distinguem dos humanos, que se tinham apoderado de uma nave e voltado à terra para encontrar o seu criador, tem ressonâncias shakespereanas, e deu a Harrison Ford no protagonista, mas sobretudo a Rutger Hauer que faz de replicante com uma das mortes em filme mais impressionantes do cinema, papéis de indiscutível repercussão. “Blade Runner” fez a sua Antestreia no Fantasporto 1983, na 3ª edição. O festival fez também a Antestreia Europeia da versão “Blade Runner: Director’s Cut” em 1993.

Apreciação: O mérito do Fantas Classics é permitir-nos apreciar filmes que conhecemos de cor, no formato para que foram feitos. Já perdi a conta às vezes que vi “Blade Runner” (nas suas 5 versões), mas penso que foi a primeira que o vi no grande ecrã, onde se torna ainda mais hipnótico. A versão que nos exibiram foi a ‘final cut‘, que supostamente é a definitiva. Fascinante, dúbio, poético e intenso, é um filme que não passa de moda, e mesmo que este futuro esteja já no passado e por concretizar, continua a ser uma experiência imperdível e enriquecedora.

Classificação: ★★★★★

QUARTA, 26 DE FEVEREIRO

21:15 – “Bram Stoker’s Dracula

Bram Stoker’s Dracula - Poster

Francis Ford Coppola – EUA – 128’- 1992 – v.o. leg. port.

O filme baseia-se no grande clássico da literatura, “Dracula” escrito por Bram Stoker em 1897, que se converteu em fonte de inspiração para mais de uma centena de filmes, como o de Murnau, e cuja personagem principal tem atraído ao longo do tempo dezenas de realizadores. Também Coppola, um dos mestres do cinema, não escapou, construindo uma sumptuosa versão da vida do vampiro aristocrata e dando um papel inesquecível ao versátil Gary Oldman, vencedor de um Oscar por “The Darkest Hour” em 2018. O Fantasporto orgulha-se de ter apresentado este filme de Coppola em Antestreia portuguesa em 1993, numa sessão-surpresa e super-reservada, segundo o desejo do produtor, uma prenda para os seus espectadores, já que era, na altura, o mais esperado nos écrans portugueses, depois da estreia nos Estados Unidos em Novembro de 1992 e do renome entretanto adquirido.

Apreciação: O Fantas Classic prossegue com mais um filme que vi muitas vezes, sendo que 2 ou 3 foram quando estreou nos cinemas, em 1993. Já não o via há muito tempo, e este regresso ao seu formato original fez-me apreciar o quão selectiva é a nossa memória. Tudo o que eu recordava do filme continua fascinante e assombroso, mas a sensação que tive foi de que aquilo que não me lembrava está datado e a experiência da redescoberta tornou-se agridoce. Coppola entrega-nos uma excelente adaptação do clássico de Bram Stoker, a mais fiel ao romance de todas as dezenas já feitas. E esse é o maior feito do filme, a sugestão da leitura (foi depois de o ter visto que o li). Para a época, tudo aqui era excelente: as interpretações, a realização, os valores de produção, a direcção artística, o guarda-roupa e os efeitos especiais, de Roman Coppola, filho do realizador. E se, à partida, podíamos achar que esse seria o elemento mais datado do filme, a sua estilização torna as suas fraquezas em forças e torna-os intemporais. Onde o filme mais falha é exactamente na adaptação e na montagem, onde o storytelling parece demasiado apressado e simplista, em relação ao romance original. Há pequenos elementos em falta, e, agora que conheço o romance de origem, tornam a acção um pouco mais confusa. Apesar disso, é uma grande adaptação e talvez o último grande filme de Coppola (apesar de “John Grisham’s The Rainmaker” não lhe ficar muito atrás).

Classificação: ★★★★½

QUINTA, 27 DE FEVEREIRO

21:15 – “Raging Bull

Raging Bull - Poster

Martin Scorsese – EUA – 129’ – 1980- v.o. leg. port.

Neste filme, por muitos considerado o melhor filme da história do Cinema, é retratada a história real de um boxeur famoso, Jake La Motta, pela mão de um dos maiores realizadores vivos, Martin Scorsese. Com Robert de Niro num papel que o fez engordar 30 quilos mas que realça ainda hoje o seu lugar como um dos maiores actores do cinema. “Raging Bull” teve oito nomeações, incluindo Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Actor, a última resultando no Óscar de Melhor Actor para Robert de Niro.

Apreciação: É considerado por muitos o melhor filme dos anos 80 (apesar de ser de 1980, mas não havia millenials irritantes a protestar que a década só começava em 81). Com uns fresquissimos 40 anos, é certo que muito do que está em “Touro Enraivecido” seria cortado nos dias de hoje. É um filme crú, humano, com os desejos e preconceitos a assumirem atitudes à flor da pele. Feito hoje, Scorsese teria certamente de justificar muitas das atitudes do seu personagem (de quem ele não gostava), de pedir desculpa pela forma como ele encarava e tratava as mulheres (apesar de muita gente ainda pensar e agir assim, desde que não se mostre). A força do filme está enraizada no seu tempo. É uma obra de ficção que transcende o género, pela forma quase documental como aborda o real Jake La Motta. Mostra a verdade sem ter de se desculpar, quase que apontando o dedo à hipocrisia actual. “Raging Bull” é um tratado sobre as fragilidades de um homem aparentemente forte, e só funciona porque é honesto, e consequentemente brutal (no verdadeiro sentido da palavra e não nesta nova abordagem millenial e parva). É um dos melhores filmes de sempre, porque os tempos são outros e filmes como este já não se fazem. Também porque é técnica e artísticamente perfeito. Provavelmente, a obra-prima de um dos maiores, Martin Scorsese.

Classificação: ★★★★★

SEXTA, 28 DE FEVEREIRO

21:00 – Sessão Abertura Oficial – “Adverse

Adverse - Poster
Brian A. Metcalf -92’ (EUA)- ANTESTREIA MUNDIAL – thriller- SR – v.o. leg. port.

Para salvar a irmã, um motorista tem de se infiltrar num perigoso grupo criminoso, sob indicação de um dos seus passageiros. Com Mickey Rourke (“The Wrestler“) e um fabuloso leque de actores, vindo do realizador de “Living Among Us”.

Apreciação: A festa dos 40 anos do Fantasporto merecia melhor sorte na sua sessão de abertura. “Adverse” é um filme ridiculo nas questões artísticas e muito incompetente nas questões técnicas. Comecemos pelas últimas: a montagem de som é criminosa. Todos os actores soam como estando numa cabine de som, independentemente de estarem ao ar livre, numa discoteca, sala de estar, carro ou num enorme armazém. Além disso, o som ambiente é praticamente inexistente, sendo composto por dois ou três elementos mínimos, que não dão às imagens envolvência nem veracidade. E não é numa ou noutra cena, é em todo o filme, do primeiro ao último minuto. A fotografia é inconsciente, optando por planos pretensiosos que retiram dramatismo a cenas que o requeriam, e vice-versa. A banda-sonora, idem. O guião é involuntáriamente cómico e nada aqui faz sentido. Um exemplo: a personagem de Mickey Rourke é um agiota que passa o filme todo a matar as personagens que não lhe pagam o que devem, referindo várias vezes que não é pessoal e são apenas negócios. Ora, isto é só estúpido e tira força ao vilão. Um suposto homem de negócios que corta as suas fontes de rendimento não faz sentido nenhum. Como quase tudo o resto na estória, absolutamente inócua, nada original e, portanto, redundante. Todos os actores estão em piloto automático (provavelmente por má direcção) e o protagonista cai em overacting em todas as cenas dramáticas que requeriam contenção. Por último, a realização de Metcalf é esquizofrénica (como a sua escrita) não conseguindo ter mão em nenhum dos elementos que ele próprio idealizou. A gestão do ritmo narrativo é inexistente, com um primeiro acto extenso e monótono, com demasiada exposição e perfeitamente dispensável. Se o filme não tivesse os primeiros 20 minutos, não se perdia nada. E quando, no confronto final, no auge de tensão do filme, o auditório do Rivoli irrompe em gargalhadas (não propositadas) com o discurso do vilão, está tudo dito. Eu juro que tentei, mas não consegui encontrar aqui nenhum elemento que não fosse de um amadorismo gritante.

Classificação: ★★★★

23:15 – “A Night of Horror – Nightmare Radio

A Night of Horror- Nightmare Radio - Poster

Oliver Park, Jason Bognacki, A.J. Briones, Joshua Long, Sergio Morcillo. Adam O’Brien, Luciano Onetti, Nicolás Onetti. Pablo S. Pastor, Matthew Richards – 93’ (Argentina/ Nova Zelândia/ GB)- P&P- v.o. leg. port.

Rod, um apresentador de rádio com um programa com histórias de terror, vai desfiando as suas favoritas para os ouvintes. Quando ouve uma criança a pedir ajuda, as coisas complicam-se. As melhores curtas-metragens fantásticas do ano por nomes consagrados.

Apreciação: Felizmente, o segundo filme da noite trouxe a competência que precisávamos. As antologias de terror são geralmente coxas, com algumas excelentes curtas-metragens e outras perfeitamente dispensáveis, mas “A Night of Horror – Nightmare Radio” não padece desse mal. Todas as curtas que o compoem estão surpreendentemente ao mesmo nível, tanto de argumento como de execução. Infelizmente, a estória que lhes serve de fio condutor acaba por tentar ser também ela de terror e espalha-se ao comprido no terceiro acto. Fora isso, esta é uma excelente antologia, com contos tensos e aterrorizadores, dirigidos por pessoas diferentes mas que parecem ser de uma só. E esse ecletimo é surpreendente.

Classificação: ★★★½

SÁBADO, 29 DE FEVEREIRO

15:00 – “Clarita

Clarita - Poster

Roderick Cabrido – 87’ (Filipinas) fantástico- CF- v.o. leg.ingl e port.

Nos anos 50, um caso de possessão faz notícia nos jornais. A vítima é uma jovem. Os padres debatem o sucedido mas Clarita é um enigma. Com brilhantes efeitos visuais, muito pouco usuais no cinema filipino, este é o novo filme de Roderick Cabrido que já apresentou, em 2015 e em pessoa, o duríssimo “Children’s Show” com que ganhou o Prémio Especial do Juri OE.

Apreciação: É sempre interessante quando das Filipinas nos chega um filme de género, em vez dos dramas sociais repetitivos que há anos habitam a secção Semana Dos Realizadores do Fantas. Lembro-me de dois que me deixaram boa impressão: “Dementia” e “Ilawood – The Water Spirit“. “Clarita” é mais uma competente incursão no terror paranormal vinda desta cinematografia, apesar de não trazer nada de verdadeiramente original. Filmes com possessões e exorcismos há-os aos magotes, mas a forma como Cabrido desenvolve a narrativa, e as competências técnicas demonstradas, com poucos meios disponíveis, tornam este filme interessante, com bons momentos de tensão, que em nada envorgonha no género. É previsivel, mas cumpre bem o seu objectivo.

Classificação: ★★★½

16:30 – “Cry of the Sky

Cry of The Sky - Poster

Shahram Qadir – 82’ (Curdistão/Iraque)- ANTESTREIA MUNDIAL- drama- SR- v.o. leg. Ingl e port.

Uma mulher dá à luz numa cabana e vai tentar que as regras dos homens lhe permitam uma vida digna. Baseada no colapso da primeira revolta no Curdistão em 1961 e a recuperação caótica da resistência na segunda metade dos anos 70.

Apreciação: Não me lembro de alguma vez ter visto um filme proveniente do Curdistão, o que só por si é um facto digno de nota. “Cry Of The Sky” tem alguns problemas, mas tem também algumas virtudes. Como drama social em ambiente de guerra, cumpre bem o seu objectivo, com uma estória que nos mantém entretidos e nos mostra de perto uma cultura que poucos conhecemos. O filme tem um ritmo pausado, mas não lento, apenas o suficiente para nos ir apresentado a narrativa. Tem uma voz off que se torna chata, porque existe durante praticamente todo o filme, e contextualiza tudo o que vamos vendo. Todas as outras falhas são honestas, provocadas pelo pouco orçamento e pela inexperiência, mas que conferem veracidade ao filme. Não é perfeito, mas cumpre o objectivo de nos dar a conhecer de perto mais um bocadinho do mundo.

Classificação: ★★★★★

18:45 – “Entangled

Entangled - Poster

Gaurav Seth – 90’ ( Canadá) CF- space travel – v.o. falado ingl. e leg. port.

Quatro estudantes, dois rapazes e duas raparigas, estudam a hipótese de haver outros mundos iguais ao nosso. Quando uma rapariga do grupo morre e regressa depois, percebem que as suas experiências, afinal, podem ter resultado. Do realizador de “Prisoner X”, Prémio da Crítica do Fantasporto 2016.

Apreciação: Filme muito interessante de ficção-científica, com um argumento bastante inteligente e original, apesar de parecer ser inspirado por alguns filmes do género como “Flatliners” ou “Back To The Future“. É apelativo, simples (embora, talvez no inicio, o conceito científico que nos é apresentado pudesse ter mais explicação, mas acaba por não fazer falta para a estória que nos é apresentada), com um visual bem trabalhado e um ritmo narrativo interessante. Um ponto contra foi a mistura de som, padecendo dos mesmos problemas de “Adverse”, mas o realizador fez questão de dizer na sua apresentação, que houve um problema com a cópia final do filme e que veriamos um screener. Fica portanto a dúvida se na versão final este problema estará corrigido. Apesar disso, “Entangled” é um competente exercício de estilo, thriller disfarçado de ficção-científica (ou vice-versa), que proporciona momentos de tensão bem conseguidos e algumas reviravoltas credíveis, que fazem dele um bom divertimento.

Classificação: ★★★½

21:15 – “Bring Me Home

Bring Me Home - Poster

Seung-Woo Kim– 109’ (Coreia do Sul) – drama- ANTESTREIA EUROPEIA- SR – CONTÉM CENAS CHOCANTES- v.o. leg. Ingl e port.

Na busca do filho desaparecido, cabe à mãe a procura. Quando sabe que ele pode estar numa comunidade piscatória, vai lá para descobrir uma história de escravidão e abuso. 1º longa-metragem do realizador, seleção de Chicago e Toronto.

Apreciação: Da Coreia-do-Sul esperamos sempre filmes bem trabalhados com estórias originais e intensas, e este não é excepção. As barreiras de género são quase sempre volúveis e aquilo que começa como um pesado drama rapidamente evolui para um thriller, e termina numa intensa sequência de acção. É uma primeira obra bastante interessante, que nos fará seguir atentamente os próximos projectos do realizador.

Classificação:★★★

23:30 – “Dancing Mary

Dancing Mary - Poster

Sabu – 106’ (Jap) – Fantasy comedy – CF – v.o. leg.ingl e port.

Quando a Câmara quer limpar um terreno para fazer um grande empreendimento, há que enfrentar o fantasma de uma dançarina que assombra um velho teatro que querem demolir. O Fantas já premiou vários filmes deste realizador como ”Miss Zombie” (Vencedor do Melhor Filme do Fantasporto 2014).

Apreciação: Não sou grande fã de “Miss Zombie“, o anterior filme de Sabu e vencedor do Fantas, mas entrei para “Dancing Mary” com mente aberta e sem preconceitos. O problema é que Sabu continua a não me fascinar. E se em “Miss Zombie” um dos problemas era o minimalismo narrativo, aqui é o oposto, com uma estória inverosímil, mais extensa e dispersa do que devia e despropositadamente cómica para o género (apesar de algum do público do Rivoli ter achado muita mais piada do que eu). A sensação que me deu é que o filme procura incansávelmente encontrar o seu tom sem nunca o conseguir. Ou então sou só eu que não consigo entender o homem…

Classificação: ★★★★★

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