Fantasporto 2019 – Os filmes, Parte 2 – 25 a 27 Fev.

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Continuamos a mostrar-vos os posters, trailers e sinopses dos filmes da 39ª edição do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto, a decorrer de 19 de Fevereiro a 3 de Março no Rivoli – Teatro Municipal. Desta vez serão as sessões dos dias 25 a 27 de Fevereiro no grande auditório. Volto a deixar-vos os links para o programa oficial no Issuu e da página de facebook do festival. Escolham aqui os filmes que cerão no festival e voltem para ver se a nossa opinião coincidiu com a vossa…

SEGUNDA, 25 DE FEVEREIRO

15:00 – CURTAS- METRAGENS CINEMA FANTÁSTICO (129’)

Makr” – Hana Kazim – 14’ 45’’ – Emiratos Árabes Unidos- CF

Um religioso muçulmano é chamado a uma casa para efectuar um exorcismo numa mulher.

The Original” – Michelle Cervera Garza – 13’ 09’’ – UK – CF – EUROPEAN PREMIERE

Duas mulheres dançam. Uma delas vai sofrer um grave acidente. Clonagem precisa-se.

Roberta’s Living Room” – Judy Suh – 12’34’’ USA – CF – Freakagency

O marido de Roberta morre e ela decide que não há melhor modo de morrer também do que rodeando-se de plantas.

Bluebird” – Amanda Sant’Anna, Carlos Fernandes, Gonçalo Veloso, João Lage, João Mendes – 6’ – Port – WORLD PREMIÈRE

Uma voz encantatória diz um poema de Charles Bukowski.

The Desolation Prize” – Shane Day – 15’ 08’’ – USA – CF – INTERNATIONAL PREMIERE

Uma jovem, depois de passar a noite com um homem que vive isolado, regressa ao trabalho numa loja de artigos de 2ª mão com mais do que esperava.

My First Time” – Asaf Livni – 9’ 28’’ – Israel

Com que direito me roubas a minha primeira vez?

Fortune” – Alexandre Moisan, Nicolas Castelli, Simon Magnat, Nicolas Ferracci, Pedro Pillot – 5’14’’ – Fra – Miyu Distribution

Um porco assiste à vida dos seus donos na loja de ferragens onde cada prego conta uma história.

Mysteries of the Wild” – Rui Veiga – 10’35’’ – Port – animação – WORLD PREMIÈRE

Uma das grandes descobertas do século do mundo animal é feita num bosque remoto.

La Noria” – Carlos Baena – 12’ – Esp – CF – animação

Um rapazinho brinca com uma roda de mecano. Na montagem, uma peça foge para debaixo da cama, libertando os monstros.

Flotando” – Frankie de Leonardis – 9’09’’ – Esp – INTERNATIONAL PREMIERE

Grande problema numa estação espacial. Vida e morte de um astronauta.

The Shipment” – Bobby Bala – 13’ – Canadá – CF – Ficção Científica

Num futuro longínquo, um piloto que leva escravos a bordo da sua nave espacial, tem de escolher entre a vida e a morte dos que leva. Um filme de grande orçamento, esta primeira curta-metragem de Bobby Bala. (Nota: a versão curta será apresentada na secção competitiva CF)

Retch” – Keir Siewert – 4’20’’ – UK – CF

Uma mulher ajuda outra quando esta se sente mal.

18:00 – “DOE”

DOE - Poster

Justin Foia – 98’ – USA – CF – INTERNATIONAL PREMIERE – Fantástico

Um homem acorda num banco de jardim. Não sabe quem é. Mas tem um super dom, reconstruindo a vida a partir dele. Oito anos depois, descobre outros como ele, extremamente dotados para diferentes áreas do saber. Primeira longa-metragem do realizador Justin Foia.

Apreciação: Thriller bastante competente e com boas interpretações, argumento interessante e bom ritmo narrativo. Porém, não traz nada de novo e a participação da Mira Sorvino não passa de um cameo.

Classificação: 3.5 / 5

Ainda não há trailer disponível para este filme.

21:00 – “Waiting for Sunset”

Waiting for Sunset - Poster

Carlo Catu – 90’ – Filipinas – SR/OE – Drama – INTERNATIONAL PREMIÈRE

Um casal de idade que vive junto há muito, sem poder casar porque a mulher ainda tem o marido vivo, rompe a monotonia dos seus dias quando recebe uma mensagem do desaparecido marido da mulher, em busca de paz e reconciliação. Um conto de ternura e humanidade, com grandes interpretações, que foi vencedor do Melhor Filme no Cinemalaya Independent Film Festival. Realizado por Carlo Catu, argumentista de “Laut”, filme apresentado no Fantasporto em 2018.

Apreciação: Belíssimo drama filipino, com uma boa estória familiar, num ritmo pausado e absorvente. Bom argumento, belíssimas interpretações (principalmente o trio de protagonistas séniores) e uma ternura imensa. Sendo que 90% dos filmes filipinos que passam no Fantas são de estórias de crime, de favelas e de gente desfavorecida, constatar que as filipinas não são apenas isso foi uma agradável surpresa. É um filme com bom coração, e são bem precisos…

Classificação: 4 / 5

23:00 – “Monstrum”

Monstrum - Poster

Jong-Ho Huh – 105’ – Coreia do Sul – CF/OE – Terror

No século XVI, o rei está longe do seu povo. No palácio real, os nobres conspiram para o derrubar, aproveitando a figura de um monstro que ninguém sabe se é real ou imaginário. Yoon Gyeom é um súbdito leal do Rei. Luta para vencer o monstro que aterroriza o país mas também contra o grupo de nobres que querem depor o soberano. Vencedor do Prémio do Público do Festival de Sitges.

Apreciação: Filme de aventuras puro e duro, com um subtexto político interessante (mas não original, basta olhar para “Hero” de Zhang Yimou), mas cujo objectivo (conseguido) é entreter. Bom argumento, boas interpretações, belíssima produção artística, banda sonora e efeitos especiais, a que não faltam as bem executadas artes marciais. Puro divertimento, e a prova de que nem todo o cinema sul-coreano é sobre vingança e tem sempre meia hora a mais…

Classificação: 4.5 / 5

TERÇA, 26 DE FEVEREIRO

15:30 – “Demon Eye”

Demon Eye - Poster

Ryan Simons – 87’ – UK – CF – WORLD PREMIÈRE – Horror Sobrenatural

Sadie volta da America para o reino Unido para habitar a casa do pai, depois do suicídio deste e para descobrir uma realidade onde o sobrenatural se mistura com o passado da família. Um misterioso amuleto que encontra vai despertar dois demónios que tem de derrotar. Do realizador de “Seizure” (2016).

Apreciação: Este é provavelmente o filme com melhor fotografia e montagem deste Fantas (até agora). O problema é que o resto é apenas um chorrilho de clichés pouco interessante, apenas interessado em pregar alguns sustos que, de tão denunciados, raramente são eficazes. O problema maior até está no agumentos, com diálogos e caracterização de personagens tão amadores que são quase infantis. Consegue ser apenas um banal filme de terror igual a tantos outros, com um visual e uma montagem que mereciam pertencer a um produto melhor…

Classificação: 2.5 / 5

17:30 – “Living Space”

Living Space - Poster

Steven Spiel – 80’ – Australia

Namorados desde a universidade, Brad e Ashley penetram no coração da Alemanha. As suas férias românticas dão uma volta inesperada quando chegam a uma casa onde encontram um antigo oficial das SS. Entram com ele numa espiral psicológica que lhe vai mostrar que nem todos os espaços são habitáveis.

Apreciação: “Living space” começa com uma legenda que explica o significado nazi da expressão e depois avança para uma situação típica nos filmes de terror: um casal avança por uma zona rural quando o carro avaria e vão dar a uma casa aparentemente abandonada. E o primeiro sentimento que o filme provoca é esse, dejá.vú. E continua assim durante grande parte, sendo que o grande interesse é Georgia Chara, actriz que praticamente leva o filme às costas. Acontece que, a dada altura, o filme fragmenta a sua estrutura, e torna-se bastante mais interessante. Continua a não trazer nada de novo ao género, mas a forma como nos entrega a narrativa mantém o interesse na mesma até ao final. O uso dos nazis aqui, apesar de não ser novo, torna o produto mais sólido e minimamente interessante dentro do género…

 

Classificação: 3.5 / 5

21:00 – “School Service”

School Service - Poster

Louie Lagdameo Ignacio – 95’- Filipinas- SR/OE – Drama

As crianças estão a salvo quando vão para a escola? O filme segue a trágica história de Maya, uma menina raptada e que é mandada como pedinte para as ruas violentas de Manila, sorte que partilha com outras crianças. Do realizador de “Laut”, premiado no Fantasporto 2018, este é mais um exemplo da vitalidade do actual cinema filipino.

Apreciação: Voltamos aos filmes Filipinos a que estamos acostumados: pobreza, violência física e social, crianças nas ruas, etc. Sinceramente, estou um bocado farto destes filmes, que parecem todos o mesmo (e já perdi a conta às vezes que já o vi no Fantas), mas tenho de ser objectivo até porque tenho um serviço a prestar a quem nunca viu nenhum e segue este blog. Este é um cinema sincero, visceral, nú, dinâmico e impiedoso. A forma como os filipinos filmam a rua, geralmente com poucos meios, no meio do caos urbano (e maioritariamente à noite) é sempre surpreendente. A forma como todos parecem actores profissionais (sobretudo as crianças) é sempre surpreendente. A forma como, no final de cada filme, parecemos conhecer tão bem cada uma daquelas personagens é sempre surpreendente. Só falta surpreenderem-nos com outro tipo de estórias…

Classificação: 4 / 5

23:00 – “The Fare”

The Fare - Poster

D. C. Hamilton – 80’ – USA – CF – WORLD PREMIÈRE – Fantasy drama

Um taxi, conduzido por Harris, apanha uma jovem, Penny, levando a uma atracção imediata. Isto até que ela literalmente desaparece do assento de trás. Quando a confusão dá lugar à realidade, ele acerta o taquímetro e é transportado para o momento em que ela entra no carro. Os dois têm de compreender o que se passa. A vida de Harris mudará para sempre. Segunda longa-metragem do realizador e um dos filmes mais originais da colheita deste ano.

Apreciação: Este é um daqueles objectos estranhos, que primeiro se estranha, depois se entranha e no final se volta a estranhar novamente. Havia algum preconceito inicial ao filme, porque filmes em que uma situação se repete até que algum factor externo mude, há-os aos pontapés, principalmente depois do sucesso merecido de “Groundhog day“, mas de cada um que aparece a fórmula parece mais gasta e a qualidade vai diminuindo. E este nem começa mal: da subtileza da paisagem à situação em si, vai preparando um clima de suspense e estranheza prazeroso e envolvente. E no desenvolver da narrativa, com as sucessivas repetições, essa envolvência vai-se acentuando e passamos a gostar destas personagens. Só que depois é preciso dar uma explicação plausível para a situação, e é aí que o caldo fica entornado. Não que a explicação não seja plausível, que é, mas pela tom negro e esótérico (ou teológico, dependendo da crença) empregue a uma estória que era, até então, bastante agradável. A realização é interessante, as interpretações são excelentes, a fotografia e banda sonora são eficazes, mas o argumento poderia ter sido mais bem estruturado e o salto que nos é pedido no final poderia não precisar de tanta fé.

Classificação: 3 / 5

QUARTA, 27 DE FEVEREIRO

15:30 – “A Mata Negra”

A Mata Negra - Poster

Rodrigo Aragão – 100’ – Brasil – CF – Terror

Uma jovem que vive na floresta enfrenta os demónios, os espíritos do outro mundo, mortos que ressuscitam e, sobretudo, um pregador que a demoniza. Na posse de um livro de encantamentos, a jovem vai tentar sobreviver aos ataques de todos, e ao mesmo tempo recuperar um saco de moedas de ouro que encontrou. Uma grande produção com Carol Aragão, Jackson Antunes e Francisco Gaspar, cheia de efeitos especiais da autoria do próprio realizador, Rodrigo Aragão, que tem já vários filmes do fantástico selecionados para o Fantaspoa e Festival de Sitges.

Apreciação: Primeiro temos de contextuar o filme. É um filme de terror brasileiro, de baixo orçamento, filmado na selva (principalmente à noite) e com muito efeitos especiais. Tinha portanto tudo para correr mal, e corre, mas não onde seria de esperar. A fotografia, a montagem, os efeitos especiais e a banda sonora estão todos bem executados e cumprem bem o seu propósito. Onde o filme falha é naquilo que supostamente seria de mais simples execução: o argumento e as interpretações. O argumento é uma manta de retalho de clichés roubados a muitos filmes, sendo que o mais óbvio será talvez “The Evil Dead“, como base desta estória (até usam um livro da mesma forma). O problema maior até nem é esse, são as inconsistências narrativas, os diálogos muito fracos e a forma como estes actores os entregam. É mesmo penoso ver todas as cenas com a actriz principal, que decorou o texto, a dizê-lo como se o estivesse a ler, sem um pingo de naturalidade. Seria um filme de terror competente e divertido, mas os factores que referi distraem e tiram-lhe vitalidade.

Classificação: 2.5 / 5

17:30 – “Kuya Wes”

Kuya Wes - Poster

James Robin Mayo – 90’ – Filipinas – SR/OE – INTERNATIONAL PREMIÈRE – Comédia

Kuya Wes é um tímido e honesto empregado de uma empresa bancária que se apaixona por uma cliente, Erika, que se encontra em dificuldades financeiras. Quando decide ajudá-la com dinheiro do seu bolso, o irmão, com quem partilha a casa, não concorda e obriga-o a mudar. O realizador é conhecido por ter vencido no Young Critics Circle Award com o seu primeiro filme, “The Chanters”.

Apreciação: Depois de criticar o cinema filipino por nos contar sempre a mesma estória, eis que tenho de engolir as minhas palavras e prestar homenagem a James Robin Mayo. “Kuya Wes” é uma lufada de ar fresco para quem segue esta cinematografia, porque nos conta uma estória simples, humana  e terna de uma personagem socialmente limitada, com um emprego (coisa rara nos filmes que nos chegam ao fantas com o logo da cinemalaya), e que basicamente é um drama disfarçado de comédia romântica. E quando digo basicamente, não é no sentido depreciativo, é um elogio sincero. Feito com a honestidade e profissionalismo filipinos a que estamos acostumados, este é um filme simultâneamente divertido e triste, com personagens sólidas e tridimensionais, que não tenta impor ou manipular sentimentos, mas que o faz na perfeição. Realização e interpretações (todas) excelentes num filme que foi uma agradável e necessária surpresa.

Classificação: 4 / 5

21:00 – “Werewolf”

Werewolf - Poster

Adrian Panek – 88’ – Polónia/Alem/Hol – SR – Drama, Horror

Um grupo de crianças libertadas de um campo de concentração nazi encontram refúgio numa mansão. Lá fora esta uma matilha de cães também ficou livre na mesma altura. Encurralados, a luta pela sobrevivência continua. Filme vencedor do Prémio Melhor Filme no Polish Film Festival 2018.

Apreciação: Desengane-se quem pensa que vai ver um filme de terror com lobisomens passado no rescaldo da 2ª Guerra Mundial, com nazis à mistura. O título aqui é metafórico, referindo-se à capacidade das pessoas de se transfigurarem, de possuirem a dualidade de cometerem bos e maus actos simultaneamente. O filme é crú e tem uma base narrativa muito sólida, com um desenrolar de acontecimentos que vai mudando a natureza de algumas personagens e até mesmo dos cães que as ameaçam. Até mesmo os soldados russos são capazes de actos de bondade e das maiores atrocidades. É sobre isso que este filme nos deixa a pensar, servido com uma excelente realização e fotografia, e uma direcção de actores sólida e que resulta em belíssimas interpretações capazes de entregar um leque abrangente de personagens, apesar da origem e infortúnio comuns. Negro, profundo e desafiante, é um belíssimo ensaio sobre a condição humana.

Classificação: 4 / 5

23:00 – “Daddy’s Girl”

Daddy’s Girl - Poster

Julian Richards – 80’ – USA/Rep Georgia – CF- Terror

Uma investigação sobre pessoas desaparecidas leva um polícia novato e uma guarda da unidade de desaparecidos a conhecer um assassino em série que usa a filha para atrair as suas vítimas. As tentativas de a salvar levam-nos ao encontro do pai e deixam-nos à mercê de uma jovem muito confusa com tendências suicidas. Com o actor Costas Mandylor (“Saw”), do realizador de “The Last Horror Movie” e “Darklands”, ambos premiados no Fantasporto.

Apreciação: No artigo anterior critiquei muito “Reborn“, de Julian Richards, e temi que este filme padecesse dos mesmo erros. Felizmente, Richards corrigiu-os a todos menos um, mas talvez o mais importante: a verosimilhança. E aqui esse erro existe sobretudo no argumento. À semelhança do filme anterior, Richards está convencido de que tudo o nos diz nós temos de acreditar, por muito absurdo que nos pareça. E parece, principalmente a nível de motivação das personagens. Neste filme, personagens têm atitudes e reacções que simplesmente não fazem sentido. O maior exemplo disso é a principal personagem feminina, a do título, que me faz pensar que Richards não sabe escrever para mulheres. E, já agora para polícias. As motivações destas personagens, para estarem nestas situações, para não sairem delas mais cedo, para reagir numas alturas e anuirem noutras, são totalmente aleatórias, e num filme com estas características, não podem ser. Fora isso, o filme é até bastante razoável, tendo por base uma estória com contornos sádicos e maquiavélicos, um clima de suspense intenso e claustrofóbico, bons efeitos práticos de tortura e uma direcção artística bem mais controlada do que no filme anterior. E as interpretações são também mais sólidas e convincentes. Talvez lhe fizesse bem entregar a escrita do próximo a outra pessoa…

Classificação: 2.5 / 5

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