Cinema 2012 – O Veredicto do laxanteCULTURAL.

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Mais uma vez, é com algum atraso que vos trago as minhas escolhas para os melhores filmes do ano passado, atraso esse que se deveu ao ter de visionar ainda alguns títulos em falta, de forma a fazer uma escolha o mais objectiva possível. Assim sendo, aqui fica a minha lista dos melhores, menos bons e até maus filmes de 2012, com o surpreendente pormenor de tanto o melhor como o pior filme serem portugueses:

Os Melhores.

1 – “Tabu”  (Miguel Gomes).

O aclamado e multi-premiado filme de Miguel Gomes é um prodígio narrativo, com uma estória universal e intemporal filtrada por um olhar estético inovador que a despe de artifícios e a reduz ao essencial, aumentando-lhe a força e a beleza. Pura poesia.

2 – “Vergonha” – “Shame” (Steve McQueen).

Retrato cru e cruel de um flagelo poucas vezes abordado na ficção. A sexualidade como doença num contexto pessoal e social, servido por uma realização sóbria e interpretações com a sensibilidade à flor da pele.

3 – “Os Descendentes” – “The Descendants” (Alexander Payne).

A perda como ponto de partida para a reconstrução de afectos, numa estória tão normal quanto arrebatadora, graças à surpreendente vulnerabilidade de George Clooney e a uma realização segura de Alexander Payne.

4- “Amor” – “Amour” (Michael Haneke).

A crueldade não é nova em Haneke, mas aqui vai ao limite do suportável, ao confrontar o espectador com a inevitabilidade da morte de quem mais amamos, e vermos nela o reflexo da nossa. As interpretações principais são de uma beleza e força desarmantes.

5- “A Invenção de Hugo” – “Hugo” (Martin Scorsese).

Um surpreendente e enternecedor hino ao Cinema, por aquele que é um dos seus mestres. Scorsese, ao recordar o passado, dá também um salto para as novas tecnologias, entregando um dos poucos filmes a justificar a utilização do 3D.

6- “Holy Motors” (Leos Carax).

Embriagante puzzle narrativo de Carax que referencia e questiona a diversidade da criação artística e cinematográfica. Hipnotiza o espectador e transforma-lhe a incredulidade em deslumbramento.

7- “Temos de Falar Sobre Kevin” – “We Need to Talk About Kevin” (Lynne Ramsay).

Mais uma narrativa cruel, que reduz ao seio familiar a brutalidade humana. Um assustador e poderoso pequeno filme com um final surpreendente e atormentador.

8- “Era Uma Vez na Anatólia” – “Bir zamanlar Anadolu’da” (Nuri Bilge Ceylan).

Nunca a investigação policial foi tão contemplativa. A zona rural da Anatólia é o cenário perfeito para uma intrigante estória de paixão e violência contidas, contada de forma pausada e envolvente, com um dos melhores trabalhos de fotografia do ano.

9- “Skyfall” (Sam Mendes).

Bond nunca esteve tão fotogénico. Mendes celebra o 50º aniversário do franchise injectando vitalidade na fórmula antiga, dando consistência narrativa e visual aos truques de sempre. O regresso de Bond ao passado dá-lhe profundidade e perspectiva-lhe um longo futuro.

10- “Looper – Reflexo Assassino” – “Looper” (Rian Johnson).

Johnson consegue aqui a proeza de, desconstruindo o género, criar um épico de ficção-cientifica, numa vertente já muito (ab)usada: as viagens no tempo. Com uma estória bem construída e personagens fortes, “Looper” guarda para o final as maiores surpresas, com um twist que dá credibilidade ao género e recompensa o espectador pela confiança que lhe é depositada durante grande parte do filme.

Atribuo ainda algumas menções honrosas, a filmes que, em 2012, deixaram a sua marca:

Uma Lista a Abater” – “Kill List” (Ben Wheatley);

Procurem Abrigo” – “Take Shelter” (Jeff Nichols);

As Vantagens de Ser Invisível” – “The Perks of Being a Wallflower” (Stephen Chbosky);

Moonrise Kingdom” (Wes Anderson);

Argo” (Ben Affleck);

Florbela” (Vicente Alves do Ó);

Frankenweenie” (Tim Burton);

O Cavaleiro das Trevas Renasce” – “The Dark Knight Rises” (Christopher Nolan);

Cloud Atlas” (Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski).

Entre as menções honrosas e os piores filmes, tenho ainda de mencionar a desilusão do ano:

Brave – Indomável” – “Brave” (Mark Andrews, Brenda Chapman, Steve Purcell).

Não é um mau filme, muito pelo contrário, mas da Pixar, que já nos deu alguns dos mais inovadores e criativos filmes de animação, esperava-se muito mais. Depois de um excelente primeiro acto, o filme verga-se e presta vassalagem à casa-mãe Disney, transformando-se num vulgar conto de fadas com princesas e feitiços, na linha de “Branca de Neve“, “Cinderella“, “A Bela Adormecida” ou “A Bela e o Monstro“. Demasiado dejá-vú.

Quantos aos piores filmes de 2012, o primeiro lugar é do realizador Nicolau Breyner. Depois de tanta conversa sobre a pretensão de fazer um bom filme que fosse comerciável também no estrangeiro, o resultado é absolutamente desastroso. Uma estória sem pés nem cabeça com situações e diálogos ridículos, actores à nora, sem personagens credíveis a que se agarrar, num filme que para tentar ludibriar o espectador acaba por se ludibriar a si próprio. Fica a lição de que a mania de ser bom é o prenuncio de se vir a ser muito mau. Os nomes envolvidos mereciam melhor que este desastre.

Os Piores.

1 – “A Teia de Gelo”  (Nicolau Breyner);

(REC) 3 Genesis” – “[REC]³ Génesis” (Paco Plaza);

Piranha XXL” – “Piranha 3DD” (John Gulager);

Uma Fuga Perfeita” – “A Perfect Getaway” (David Twohy).

 

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