“Fringe” – 1ª Temporada e promo da 2ª.

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Fringe” é a nova série criada por J.J. Abrams, Alex Kurtzman e Roberto Orci. E se o primeiro dispensa apresentações, eu vou fazê-las na mesma. Abrams foi o guionista e produtor de fimes como “Forever Young” (veículo para Mel Gibson no inicio dos anos 90), “Regarding Henry” (idem para Harrison Ford) e “Joy Ride” (pequeno e interessante filme de John Dahl) e escreveu também “Armageddon” (o meu guilty-pleasure de Michael Bay), antes de se voltar para a televisão e criar séries como “Felicity“, “Alias” e “Lost“. Kurtzman e Orci trabalham juntos desde os tempos de “Hércules” (série de TV com Kevin Sorbo), passaram por “Alias” e voltaram-se para o cinema com, por exemplo, “The Legend Of Zorro“, “The Island” e “Transformers” (ambos de Michael Bay (o primeiro bastante interessante, o segundo com um guião involuntariamente hilariante) e “Mission: Impossible III“, já com Abrams. O facto de, de todos estes trabalhos de qualidade variável, a única referência no cartaz de Fringe ser a “Transformers”, fez-me ficar apreensivo em relação à série. Além disso, ela vinha descrita como sendo um cruzamento entre as séries “The X-Files, The Twilight Zone e Dark Angel” e o filme Altered States. Uma grande confusão portanto.

Fringe, além da tradução literal para franja, orla ou margem, vem do termo Fringe Science, que designa um inquérito científico num determinado campo de estudo, que se separa significativamente das teorias principais ou ortodoxas, e classificado nas margens da disciplina académica corrente e credível. Os cientistas académicos referem-se vulgarmente a este conceito como Ciência Especulativa. Logo no genérico da série, podemos encontrar conceitos como Teletransporte, Precognição, Inteligência Artificial, Cibernética, Nanotecnologia, Animação Suspensa, Matéria Escura ou Psicocinese. E é precisamente nestes “terrenos” que se move a trama de Fringe.

Mas a série acaba por ser muito mais do que isto. Somos introduzidos a todos estes conceitos através de uma investigação do F.B.I. a um estranho acontecimento num avião comercial (Abrams e os aviões…) em que todos os passageiros e tripulação perdem a vida. Quando a agente Olivia Dunham investiga o caso e a vida do seu amante (também agente) fica em risco, encontra o único homem que pode saber do que se trata e como salvá-lo. Walter Bishop é um antigo cientista, dos mais brilhantes e inteligentes no Mundo, considerado pelos seus contemporâneos como o próximo Einstein. Walter está há 17 anos num Instituto Psiquiátrico, por alegadamente ter causado a morte de um dos seus assistentes, sendo depois considerado louco. Para o libertar, Olivia recorre à ajuda (forçada) do único familiar de Walter, o seu filho Peter, com um Q.I. de 190, mas pouca disciplina e vontade de ajudar o sistema e aproximar-se do seu pai.

Depois da resolução do caso, os três são recrutados por Philip Broyles, da Segurança Interna dos E.U.A., para integrarem a equipe que investigará O Padrão, sucessão de eventos científicos que sugerem uma estratégia maior, um esforço coordenado. Ou, como é explicado a Peter, coisas assustadoras e inexplicáveis que estão a acontecer e, de alguma forma, estão interligadas. Recuperam o antigo laboratório de Walter e lançam-se no estudo e investigação dos  casos, uns mais bizarros ou inacreditáveis do que outros, mas sempre inseridos no tipo de ciência em que ninguém acredita ou não quer acreditar.

Episódio a episódio, os casos vão-se sucedendo: Uma mulher dá à luz menos de uma hora depois de engravidar, e o bebé morre quatro horas depois, de velhice; Um gás que é libertado num autocarro e que solidifica o ar, asfixiando e imobilizando as pessoas, como mosquitos presos no âmbar; Um homem que pode gerar fenómenos eléctricos, e é o centro de uma série de mortes envolvendo aparelhos electrónicos; Um assalto a um banco que resulta na morte de um dos assaltantes, que fica embebido na parece de betão do cofre; E muitos mais casos estranhos, num total de 20 que compõem a primeira temporada.

Há ainda uma grande empresa de investigação cientifica, a Massive Dynamics, fundada pelo ex-sócio e colega de Walter, William Bell. Bell está desaparecido e só Nina Sharp, a actual directora da empresa parece saber do seu paradeiro, mas não o revela, negociando em troca a ajuda necessária à solução de alguns dos casos. Há um grupo terrorista, ZFT, criado por Bell, embora não propriamente para aquele fim. Há um bio-terrorista, David Robert Jones, que se evade de uma prisão alemã, aparentemente por tele-transporte, depois de negociar com Olivia a resolução de um caso. Há o ex-colega e amante de Olivia que, apesar de morto, continua a ser uma peça chave nas investigações. Há até um jogo, do género “Onde está o Wally” em que o espectador pode, em cada episódio, tentar descobrir O Observador, um estranho homem que parece estar presente sempre que o padrão se manifesta. E existem ainda os misteriosos passados dos três protagonistas que, pontualmente, podem conter a chave para a resolução dos casos.

Fringe poderá não ser a mais original das séries, indo beber inspiração a inúmeros filmes e séries do passado, como os já referidos ou outros, como “The Twillight Zone“. O que a torna tão apelativa é a combinação de todos estes elementos, aliada a uma escrita inspirada e uma execução impecável. As personagens são sólidas e extremamente interessantes, interpretadas na perfeição por um grupo de actores de segunda linha (ou até desconhecidos como Ana torv, que interpreta Olivia). A criação de ambientes é excelente e o convincente suporte científico que dá o mote à série, é bastante credível e suficientemente fundamentado. Efeitos especiais que rivalizam com os do cinema, incluindo alguns aparentemente tão simples como a inserção de uma legenda de localização, tornam a série um divertimento acima da média. A tensão é constante e os mistérios (muitos deixados em aberto) são planeados para suscitar uma extrema curiosidade. Nunca fui grande fã de Lost, apesar de lhe reconhecer qualidade e ter visto todos os episódios já transmitidos, mas sempre me pareceu que a série era pouco planeada (a partir da 2ª temporada) e que os mistérios se iam multiplicando ou resolvendo segundo uma regra pouca arbitrária ou sujeita a condicionalismos autónomos à sua estrutura narrativa (penso mesmo que foi por esta razão que, após ter ganho o Emmy para melhor série na 1ª temporada, não voltaria a ser nomeada). Em Fringe, a sensação é a oposta. Tudo é pensado ao pormenor e exposto (ou não) na altura certa. Aquilo que é explicado é tão importante como o que fica por explicar. E o final é absolutamente genial, dando a sensação que, ao invés de se concluir alguma coisa, agora é que tudo vai começar. No final, muito é respondido, mas respondido sob a forma de perguntas, muito mais inquietantes que as iniciais. Aliás, a série foi renovada para uma 2ª temporada já muito perto do final da 1ª, estando mesmo em risco de não continuar e, depois de ver o final, quase que aposto que este foi a razão da sua renovação. É das coisas mais inteligentes e psicologicamente esmagadoras que vi em muito tempo, e tenho visto muita coisa. E até a (muito) breve participação de Leonard Nimoy (pelo menos para já), vem solidificar a teoria de que todas as criações de Abrams se tocam e fluem num híbrido cultural sólido e fascinante. Esta é, na minha opinião, uma série a não perder e, convém avisar, ver com extrema atenção, não vendo um episódio sem ter visto o anterior, pois apesar dos casos em investigação serem autónomos, a linha narrativa de toda a série é extremamente complexa e exigente. Mas, chegados ao fim, essa exigência é largamente compensada. Será seguramente uma das séries mais nomeadas para prémios do corrente ano e é, para mim, um dos mais aguardados retornos da próxima temporada. Aqui fica um cheirinho…

…e a promo da 2ª temporada.

Complemento:

O Lima, do xigli, também um fã desta série e, inspirado por este artigo, disponibilizou uma extensa galeria de posters promocionais da série. Está aqui.

2 comentários em ““Fringe” – 1ª Temporada e promo da 2ª.”

  1. Parabéns.
    Deixo aqui a minha opinião em relação à serie e ao post.
    Para mim é das séries mais bem conseguidas até ao momento.
    Na realidade o que me faz comentar este post é a forma fascinante como os textos foram estruturados.
    Quem ler o post e conhecer a estória, vai certamente reviver alguns dos momentos da série, o que faz dos textos quase uma pequenina e curta síntese da mesma em poucas palavras.
    Mas não me alargo mais pois a estória está toda no post.
    Parabéns mais uma vez pelo trabalho aqui realizado.
    Abraços.
    Nuno Couto

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    • Mais uma vez, muito obrigado pelo teu comentário e pelo apoio dado ao laxanteCULTURAL. Essa é, sem dúvida, uma das razões porque me dá prazer fazê-lo. Até ao próximo…
      Abraços

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