“Weapons” – Sugestão para o Halloween 2025.

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Weapons - Halloween

Introdução

Quando publiquei as minhas sugestões para o Halloween 2025, queixei-me de que “Weapons“, um dos melhores filmes do ano ainda não estava disponível em nenhuma das plataformas de Streaming em Portugal. Felizmente, no mesmo dia, soube que iria fazer farte do catálogo da HBO Max a partir de 24 de Outubro. Para não ter de esperar um ano para vo-los sugerir, resolvi fazer esta adenda, com a crítica mais alargada ao filme e o respectivo link para o verem.

Weapons - Halloween

A Premissa de “Weapons”

A premissa é simples e está no poster e no trailer e em todo o lado, basicamente. Às 2.17 da manhã, todas as crianças (excepto uma) de uma turma, levantaram-se a meio da noite, saíram porta fora a correr para a escuridão, sem voltarem a ser vistas. A escola esteve fechada um mês enquanto se investiga o caso. Quando reabre, começa a nossa estória.

Weapons - Halloween

A voz off em “Weapons”.

Primeiro que tudo, não sou apreciador de voz off nos filmes. Geralmente são uma forma preguiçosa de demonstrar emoções, pensamentos de personagens que implicam exposição, etc. Ora, a premissa acima é precisamente debitada por uma voz off, sobre imagens dos acontecimentos descritos. Só que é a voz de uma criança, que começa por dizer que esta é uma estória verdadeira. Mas, ao contrário do que a premissa pode indicar, “Weapons” não é um policial.

É um filme de horror paranormal, com sustos e gore, sendo que a primeira frase do filme é enganadora de propósito. A voz usada ( de Scarlett Sher) é perfeita na narração dos acontecimentos, a sua calma é inquietante e define o tom do filme e as expectativas do espectador. Volta a aparecer no final, depois do desfecho, para nos contar o destino das personagens a quem nos afeiçoámos, com o mesmo tom e a mesma inquietude do inicio.

Weapons - Halloween

A estrutura de “Weapons”

Portanto, a voz off funciona como bookends, aquela coisas que se poem nas estantes para segurar os livros de cada lado, porque no meio é que está a virtude. E onde “Weapons” mais me ganha é na sua estrutura dividida em capítulos, cada um representando o ponto de vista de um personagem. Começamos por seguir a professora (Julia Garner), depois o pai de um dos alunos desaparecimentos, (Josh Brolin), um polícia (Alden Ehrenreich), um toxicodependente (Austin Abrams), o director da escola (Benedict Wong) e até a única criança daquela turma que não desapareceu (Cary Christopher).

Claro que eles se vão cruzando, e a cada capítulo vamos revendo situações de outro ponto de vista e recolhendo cada vez com mais informação.”Weapons” é portanto um puzzle que vamos montando, até percebermos tudo o que se passou. Mas é um puzzle que queremos desesperadamente montar, fruto do seu storytelling intrincado e de um magnifico ritmo narrativo, também ele fruto da sua divisão em capítulos. E sim, eu sei que esta maneira de contar estórias não é nova e já foi muito usada (por Mike Flanagan, Quentin Tarantino e tantos outros), e aqui não é um mero exercício de estilo, mas aquilo que faz com que o filme funcione tão bem.

E é este o seu trunfo, porque se fosse contado de forma linear, seria apenas mais um filme de terror paranormal e algumas coisas seriam mais expectáveis. Por exemplo, e comparando o que não é comparável, “Sinners” é o outro melhor filme do ano e conta a estória de forma linear, o que faz com que a determinada altura, os acontecimentos seguintes sejam previsíveis. Claro que o filme tem outros recursos que fazem com que esse facto não o prejudique. Aqui, sendo apenas um filme de terror, com tudo o que os filmes de terror já tem de previsível, o foco na estrutura, desvia-o dessa previsibilidade.

Weapons - Halloween

A técnica de “Weapons”

Tecnicamente “Weapons é um filme perfeito. A fotografia é minuciosa e atenta ao que cada cena precisa a cada momento. Seja nos planos sequência, nos seus movimentos e cortes a complementar a narrativa no que dia respeito a assustar o espectador sem que ele o espere. A nível de som tudo é bem feito, seja a sublinhar os sustos, seja na forma como os sons ilustram as cenas mais tensas ou mais gore. E sim, há muito gore e muito bem feito, na sua maioria com efeitos práticos.

E uma nota especial para o argumento. Já todos vimos filmes de terror que nos envolvem e prendem, mas cujo final desilude e, muitas vezes, estraga tudo o que de bom foi feito até ali (“Hereditary” vem-me imediatamente à cabeça). O final de “Weapons” é perfeito, pois compensa o espectador com uma libertação da tensão acumulada até ali, com uma sequência que é uma descarga de adrenalina e um desfecho com um sentido de justiça (que neste caso não é divina, mas demoníaca) apropriado e muito satisfatório.

Quanto às interpretações, não há nenhuma falha a apontar, mesmo nas crianças que tem papeis que não são propriamente fáceis de executar. Garner e Brolin como os protagonistas tem uma química intencionalmente inconstante, Wong é surpreendente e os restantes também, porque todas as personagens acabam por ter bons arcos narrativos , o que é raro, principalmente num filme de género. Falta-me referir um nome sem entrar em detalhes para não estragar nada: Amy Madigan, absolutamente genial.

Weapons - Halloween

Conclusão

Zach Cregger vinha de “Barbarian“, filme de terror que já dava sinais de que havia ali uma forma inventiva e provocante de contar uma estória. “Weapons” não só o confirma como eleva e muito a fasquia. É um filme de género sólido, bem construído (e desconstruído, principalmente na narrativa), que nos deixa a sensação de que vimos mais do que um filme de terror, participámos dele também. É um dos melhores filmes do ano, num ano que nos trouxe muitos e bons filmes do género.

Classificação: ★★★★

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