É a 3ª e última parte da programação da 42ª edição do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto, a decorrer no Teatro Municipal Rivoli de 1 a 10 de Abril. Abaixo poderão conhecer mais alguns dos filmes a ser exibidos no grande auditório Manoel de Oliveira. As informações são as fornecidas pela organização do festival. Após cada sessão, podem encontrar aqui a apreciação/crítica e classificação de cada um dos filmes exibidos. Quando a venda de bilhetes abrir (a 15 de Março) colocarei o link de compra dos bilhetes para cada sessão. Podem também consultar a programação do Auditório Isabel Alves Costa aqui.
5ª FEIRA, 07 de ABRIL
16:00 • “Entombed”
Kjell Hammerø – 99’ (Noruega) – CF – Terror – v.o. ingl | Bilheteira
Num futuro próximo, a civilização foi devastada. Fugindo na floresta dos “walkers”, Seamus encontra um alçapão que o leva a um antigo bunker. Lá está Konrad e a sua mulher, em coma há muito tempo, diz o homem. O filme foi premiado nos Swedish Film Awards nas categorias de Melhor Filme, Realizador e Actor e ainda Melhor Filme nos World Première Film Awards.
Apreciação: Filme de baixo orçamento com algum interesse, mas sem uma direção que que seja inventiva o suficiente para lidar com os meios à disposição. Para um filme deste género, quanto mais baixo é orçamento maior tem de ser a criatividade. Este é o problema deste filme, a falta de criatividade. E isso começa no guião. O segundo acto é arrastado e redundante, a conclusão não é o ponto alto que se esperava e não resistiram à tentação de pôr zombies num filme de zombies. Eles não tinham feito falta até ali, não era preciso terem gasto dinheiro nos extras e na caracterização. E é uma pena, porque a direcção artística não está má, os actores são competentes q.b. (embora o protagonista seja um bocado canastrão a espaços) e o design de som é eficaz na criação das ameaças que não vemos. Mas o filme é chato (podia ter ganhado mais se tivesse à volta de 80 minutos) e não traz absolutamente nada de novo ao género, por falta de, lá está, criatividade.
Classificação: ★★★★★
18.00 • “Vortex: The Dawn of Sovereignty”
Michel Rousseau – 72’ (Fra) – CF/ ANIMA-TE – Ficção Científica – v.o. leg. ingl. | Bilheteira
Michel Rousseau e a sua visão do nosso futuro longínquo num filme de animação fabuloso. A jovem Serena inventou uns óculos que lhe permitem detectar vértices que levam a fabulosos mundos, cheios de robots e androides. Filme já com 29 prémios internacionais entre os quais o Cannes World Film Festival (Melhor Filme de Ficção Científica), Hollywood Film Awards (Melhor Filme, Montagem, Banda-sonora, Som), Los Angeles Film Awards ou New York Film Awards. Primeira longa-metragem do realizador.
Apreciação: Felizmente não me deixei enganar pelo poster, cheio de palmas e prémios, e fui por aquilo que o trailer deixa antever. Um filme mal executado, com um guião absolutamento esquizofrénico, amador em todos os aspectos técnicos e artísticos. Parece um filme académico que teve nota mediana. Isto foi alguém que viu uns tutoriais de como fazer modelação e animação 3d e criação de efeitos no after-effects, juntou amigos e familia e cai vai disto. É demasiado incompetente para ser levado a sério. Nos primeiro 5 minutos ainda há um ou outro plano interessante, mas depois viram que demorava muito tempo a renderizar e foi o resto a despachar. E, se querem fazer um filme de animação, façam um filme de animação. Se querem fazer um filme de imagem real, façam um filme de imagem. Mas não façam um filme que junta as duas coisas quando a animação 3d não é realista o suficiente. Custa a crer que um filme de 72 minutos possa ser chato e redundante, mas este é-o.
Classificação: ½★★★★
21.00 • “Barbarians”
Charles Dorfman – 90’ (UK) – CF -Terror – v.o. ingl. | Bilheteira
Adam e Eva vivem há pouco tempo no campo, numa quinta de luxo. Numa noite do aniversário recebem a visita dos amigos Lucas e Chloe. Até que uma inesperada e assustadora invasão acontece e altera as forças em questão. Primeira realização de um experiente produtor, Charles Dorfman, duas vezes nomeado para os Oscares (“The King’s Speech” and “The Lost Girl”, já em 2022), com excelentes interpretações de Iwan Rheon (Ramsay Bolton de “Game of Thrones”) e a nomeada para os Óscares Catalina Sandino Moredo (“Maria Full of Grace”).
Apreciação: Filme bastante interessante, com uma só localização e várias tonalidades. Juntem um bom grupo de actores, um guião interessante e meios de produção razoáveis e têm um filme que não inventa a roda (nem quer fazê-lo), que pretende ser um entretenimento confortável, com bons picos de tensão e divertimento, e consegue-o. É preferível ser comedido na ambição e atingir o objectivo, do que ser demasiado ambicioso e ficar aquém. Aborda os clichém com competência e elegância, e isso coloca-o muito acima da maioria da selecção deste festival.
Classificação: ★★★★★
23.00 • “The Good Father”
Ainda não há poster para este filme.
Sho Kataoka – 100’ (Jap) – SR/CF -Drama / Horror – ANTESTREIA MUNDIAL – v.o. leg. ingl. | Bilheteira
O médico Shiro Kubo, cuja família sofreu um grande acidente de viação, deixando a mulher em coma, é chamado para tratar uma doença misteriosa. A filha desconfia da mãe quando esta deixa finalmente o hospital. Quem é a mulher que se faz de sua mãe? Um pai tem de fazer tudo para trazer tranquilidade à família. Dos produtores de “Ghostmaster”, vencedor do Fantasporto 2020 e “Drive my Car”, com 4 nomeações para os Óscares de 2022.
Apreciação: Mais um filme japonês (já lhes perdi a conta), que aparentemente não tem nada a ver com o anterior, mas que consegue igualmente moderar a sua ambição, para atingir o objectivo. Foca-se no que é importante: guião, interpretações (a entrega dos actores é evidente), tom, ambiente, ritmo. Tudo está equilibrado e é bem conseguido. A narrativa exige um pouco mais de suspenção da descrença, mas compensa. Eu consegui prever um dos twists, mas isso não estragou a experiência, o que significa que é um filme de género competente e criativo o suficiente para se manter interessante e compensador até ao último plano.
Classificação: ★★★★★
Ainda não há trailer para este filme.
6ª FEIRA, 08 de ABRIL
16:00 • “Chicken of the Mound”
Xi Chen – 83’ (Chi) – CF – Ficção Científica – ANTESTREIA EUROPEIA – v.o. leg. ingl. | Bilheteira
Os robots dominam a Terra mas não escondem a nostalgia dos humanos que já não existem. E fazem o que eles faziam – lutam. Máquinas infernais, caranguejos e humanóides, numa fabulosa animação de ficção científica, seleccionada para o Festival de Annecy e para o Festival de Ottawa.
Apreciação: Se olharmos para a lista de créditos, vemos apenas dois nomes: o da pessoa que fez a voz off e Xi Chen em todas as outras categorias, argumento, realização, animação, iluminação, etc. Isto nota-se no resultado final. É um exercício narcisista de Chen que é chato, monocórdico e muito desinteressante.
Classificação: ½★★★★
18.00 • “Night at the Eagle Inn”
Erik Bloomquist – 70’ (E.U.A.) – CF – Horror – v.o. ingl. | Bilheteira
Dois gémeos, um rapaz e uma rapariga, viajam para a remota Eagle Inn, depois de uma vida com famílias de acolhimento, à procura de saber o que aconteceu aos pais. Horror clássico numa realização de Erik Bloomquist que no Fantasporto 2021 apresentou o muito interessante “Ten Minutes to Midnight”. O realizador foi vencedor de um Emmy com a série TV “The Cobblestone Corridor”.
Apreciação: Depois de “Ten Minutes to Midnight”, exibido no Fantas do ano passado, esperava o pior deste filme de Bloomquist. Talvez por a fasquia estar tão baixa, “Night at the Eagle Inn” até me surpreendeu. A criação de ambiente resulta, os actores são interessantes, a banda sonora é eficaz. Claro que continua a ser uma colecção de clichés, num argumento que não tem nada de original, servido por um orçamento muito baixo, mas nota-se uma intenção de contar uma estória, o que não acontecia no filme anterior. Para o propósito que foi concebido, duplicar uns trocos, “Night at the Eagle Inn” é competente.
Classificação: ★★★★★
21.00 • “Ms Lupin” a.k.a. “Daughter of Lupin”
Hideki Takeuchi – 106’ (Jap) – CF – Comédia fantástica – ANTESTREIA MUNDIAL – v.o. leg. ingl. | Bilheteira
Cinema de divertimento, muita acção e delírio burlesco que faz homenagem aos dramas entre famílias de criminosos, mas também à animé japonesa. Uma família de ladrões sabe que o seu patriarca pretende reformar-se, mas falta ainda o último golpe: o roubo da verdadeira coroa dos Habsburgos. Porque a falsa já eles roubaram. Para isso, têm todos de vir à Europa. Roubos à Arsène Lupin, o celebrado ladrão francês, mas em estilo manga.
Apreciação: Mais um projecto televisivo que não tem interesse cinematográfico nenhum. Não sou fã do humor estriónico e infantil (ou inocente) japonês e é isso que nos é servido aqui. A estória mistura referências como heist movies, “Back to the Future”, “Honey, I Shrunk The Kids” ou “Mamma Mia” (na sua versão karaoke), numa salgalhada que se torna cansativa e que falha a intenção principal de ser divertida. Tem um grande orçamento e isso nota-se na sumptuosidade, mas faltou investirem na coerência.
Classificação: ★★★★★
23.00 • “The Mole Song”
Takashi Miike – 129’ (Jap) – CF -Comédia/ Horror – INTERNATIONAL PREMIÈRE – CENAS EVENTUALMENTE CHOCANTES – v.o. leg. ingl. | Bilheteira
Com o exagero e a violência que lhe são característicos, este realizador de culto faz-nos penetrar numa luta pelo poder que mete mafiosos sicilianos e japoneses. Reiji é um policial cheio de processos por mau comportamento que está em missão clandestina para destruir o maior traficante de droga do Japão e o filho. Sempre original e criativo, mas não se espere deste prolífero realizador de “Audition”, um filme brando.
Apreciação: Um projecto semelhante ao anterior na sua essência, mas que resulta um pouco melhor. O humor é mais adulto e corrosivo e, quando se foca na parte policial da trama, é eficaz. Mas o estilo pop japonês, principalmente na primeira metade, fragmentado e frenético, é apenas para fãs do género.
Classificação: ★★★★★
SÁBADO, 09 de ABRIL
15:30 • FANTASCLASSICS/ HOLLYWOOD STARS – “Casablanca”
Michael Curtiz– 102’- 1942 – 80 Anos – v.o. leg. port | Bilheteira
Num café em Casablanca, Marrocos, durante a governação francesa, o dono americano (Humphrey Bogart) divide-se entre manter o café aberto, agradando aos ocupantes nazis, e ajudar a sua antiga amante (Ingrid Bergman) e o marido desta a seguirem para Lisboa e daí para a América. Filme vencedor de 3 óscares, Melhor Filme, Melhor Realização (Michael Curtiz) e Melhor Argumento, é considerado por muitos o melhor filme da História do Cinema.
Apreciação: O mais impressionante de “Casablanca” é que, aos 80 anos não envelheceu nada. Eu sou daqueles que defende que é o melhor filme de sempre, ou, pelo menos, o mais completo. É filme noir, comédia, acção, espionagem e, principalmente o filme mais romântico de sempre. As suas frases icónicas são ditas mesmo porque nunca o viu. A sua fotografia é deslumbrante, os actores são maravilhosos, mesmo os mais secundários, e os diálogos são todos brilhantes, do principio ao fim. Já o vi dezenas de vezes e encontro sempre um pormenor novo. Poderão passar 100, 200 anos ou até que se vejam filmes e “Casablanca”, por falar de temas universais e ciclícos, estará sempre actual. É um dos filmes da minha vida e foi a primeira vez que o vi num ecrã de cinema. Melhor que nunca.
Classificação: ★★★★★
17.45 • FANTASCLASSICS – HOLLYWOOD STARS – “Singin’ in the Rain”
Stanley Donen, Gene Kelly – 103’ – 1952 – 70 Anos – v.o. leg. port. | Bilheteira
Um glorioso exemplo do cinema musical norte-americano. A alegria transbordante de uma história de amor, coreografias fabulosas e música a não esquecer nunca. Gene Kelly canta à chuva (e quase todas as canções são clássicos dos anos do pós-guerra), Debbie Reynolds torna-se numa das queridas da América e a sexy Cyd Charisse dança. “I’m Singin’ in the rain, just singin’ in the rain, what a wonderful feeling, I’m happy again!”…
Apreciação: É considerado um dos melhores, senão o melhor musical de sempre. Eu confesso que tive de o ver algumas vezes para digerir a sua estrutura fraccionada em quadros musicais, uns diferentes dos outros. A sequência que dá título ao filme, com Kelly a dançar na rua à chuva é talvez o meu momento musical preferido num filme. Mas há mais, como “Good Morning, Good Morning” ou “Make Them Smile”. Outro que nunca tinha visto no formato para que foi criado.
Classificação: ★★★★½
20.45 • SESSÃO OFICIAL DE ENCERRAMENTO E DE ENTREGA DE PRÉMIOS – “Everything, Nothing and Something Else“
Marina Kondratieva – 80′ (UCR) | Bilheteira
Trata-se de uma comédia dramática que ilustra a vida de um taxista de Kiev e das pessoas que com ele se cruzam durante uma noite. A variedade humana combina-se com os pequenos e os grandes dramas da vida quotidiana, num relato feito por nove histórias baseadas em episódios reais. Histórias de vida e morte, humanidade e caos. Filmado nas ruas de Kiev, capital de Ucrânia e relembra a sua beleza arquitetônica e a vida quotidiana própria de uma grande cidade.
Este filme recente é a segunda longa-metragem de ficção da realizadora ucraniana Marina Kondratieva, também ela uma excelente documentarista, e conta com actores populares como Denis Granchak, Tatiana Ignashkina, Anton Ravitskiy, Yuriy Kondratiev e Kateryna Molchanova, entre outros.
Apreciação: A sessão de encerramento prometia ser emotiva, com a apresentação deste filme Ucraniano. E foi. Mas falando apenas do filme, é simpático, bem executado, mas não deslumbra. talvez por parecer uma colecção aleatória de curtas, com o mesmo cenário e uma personagem em comum. Apenas isso. Não é muito original, mas é competente. Podia explorar mais alguns segmentos ou até ligá-los melhor, para conseguir extrair do espectador emoções mais fortes.
Classificação: ★★★½★
24.00 • FANTASCLASSICS / FILMES CULTO – “THX 1138”
George Lucas – 86’ (E.U.A.) – 50 Anos – v.o. leg. port. | Bilheteira
No futuro, no século 25, os humanos são numerados. Um homem e uma mulher vão revoltar-se contra a sociedade rígida em que os forçam a viver. Robert Duvall, num início promissor como actor, e a mestria de George Lucas, na sua primeira longa-metragem, anos antes da Saga “Star Wars”. Actividade sexual ilegal, robots, felicidade regulada, sociedade opressiva, tudo fez deste filme um marco inovador. “Buy Now, Buy More, Buy More Now!”, diz a voz.
Apreciação: Este futuro distópico que arrancou a carreira de realizador de George Lucas, apadrinhado por Francis Ford Coppola, demora um bocadinho a entranhar-se, mas entranha-se. Da estranheza ambiental fria inicial, percebe-se que a humanidade não mudou assim tanto, e aquilo que faz de nós humanos (a inteligência, as emoções, o desconforto) não pode ser domado. É incrivel o que Lucas consegue fazer com tão poucos meios, delegando a responsabilidade maior da credibilidade em Robert Duvall e Donald Pleasance.
Classificação: ★★★★★