Fantasporto 2022 – Os Filmes – Parte 2/3.

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É a 2ª parte da programação da 42ª edição do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto, a decorrer no Teatro Municipal Rivoli de 1 a 10 de Abril. Abaixo poderão conhecer mais alguns dos filmes a ser exibidos no grande auditório Manoel de Oliveira. As informações são as fornecidas pela organização do festival. Após cada sessão, podem encontrar aqui a apreciação/crítica e classificação de cada um dos filmes exibidos. Quando a venda de bilhetes abrir (a 15 de Março) colocarei o link de compra dos bilhetes para cada sessão. Podem também consultar a programação do Auditório Isabel Alves Costa aqui.

2ª FEIRA, 04 de ABRIL

16:00 • “Alchemy of the Spirit”

Steve Balderson – 92’ (E.U.A.) – CF – ANTESTREIA EUROPEIA – Fantástico – v. o. Ingl. | Bilheteira

Oliver, um artista que sobe em notoriedade, enfrenta a morte da mulher. O seu espírito volta 5 vezes, habitando uma dança entre a Vida, a Arte e a Morte. Excelente trabalho dos actores principais, a actriz Sarah Clarke e o actor-artista Xander Berkeley cujo verdadeiro trabalho é apresentado no filme, mostrando a realidade por detrás do acto de criação. O realizador Steve Balderson visitou o Fantasporto em 1999 para apresentar “Pep Squad”.

Apreciação: Balderson volta ao Fantas com uma belíssima estória intimista sobre a perda e a criação durante a perda. Assente em dois grandes actores, Xander Berkeley e Sarah Clarke (casados desde 2002, depois de se terem conhecido no set de “24“), é um elogio ao amor, enquanto estado onírico e passageiro, ponto alto mas ilusório da condição humana. O filme é belíssimo, mas perturbador, com um ritmo lento mas apropriado ao estudo que quer fazer. Não será para todos, a auto-reflexão não é bem digerida por toda a gente, e o filme olha de volta para o espectador. Não é perfeito, claro, porque existe uma subjeção inerente ao seu visionamento. Há contudo uma coisa que me incomodou: algumas opções de iluminação, que se tornam muito distractivas. A nível de enquadramentos a fotografia é perfeita, mas a iluminação abusa de focos de luz direccionais que queimam muitos dos planos, para reforçar um onirismo que já é tão forte no tema que não precisava de ser tão óbvio. Tem também uma apropriada e excelente banda sonora de Heather Turney Schmidt.

Classificação: ★½

18.00 • “Eviction”

Maté Fazekas – 87’ (Hun) – SR – drama – v.o. leg. ingl. | Bilheteira

Richard é um ambicioso oficial de diligências a quem finalmente entregam um caso de despejo, uma casa onde vive uma senhora de idade que se recusa a sair. O que parecia uma acção de rotina torna-se num caso importante na cidade com o envolvimento de todas as forças e autoridades locais. Primeira longa-metragem do realizador Maté Fazekas.

Apreciação: Nos últimos anos, alguns dos meus filmes preferidos do Fantas são hungaros, por isso a minha expectativa para este era grande. “Eviction” é um filme competente e simpático na forma como aponta o dedo ao sistema judicial húngaro e à sua subserviência ao poder financeiro. O realizador classificou-o como uma comédia dramática, e esse é o seu maior problema. Pender para um dos lados teria dado ao filme mais objectividade e relevância. Assim, ficou-se pela simpatia.

Classificação: ★★★★★

21.00 • “Saralish”

Yaser Ahmadi, Behrooz Bagheri – 76’ (Afeg/ Irão) – SR – Drama – ANTESTREIA MUNDIAL – v.o. leg. Ingl. | Bilheteira

“Saralish” significa casamento arranjado. No Irão rural de hoje, dois homens combinam a troca das filhas. Uma menina, Anar, é trocada por outra, Tara, sem qualquer intervenção das mães e torna-se mulher de um homem velho. E quando uma afegã que viveu na Alemanha regressa à aldeia para resolver o seu próprio casamento arranjado ainda no ventre da mãe, a sorte de todas as mulheres da terra só piora. Um alerta para a situação dos direitos humanos nestas paragens.

Apreciação: O mais impressionante em “Saralish” é a sua honestidade e competência artística. Honestidade porque fala directamente de um tema duro e, desde sempre, polémico (seja de que lado estivermos), e competência artística porque não é normal vermos um filme tão visualmente perfeito vindo destas paragens. A fotografia é aliás o seu ponto mais forte, quer nas cenas intimistas quer nas mais abrangentes. Mas também, o seu pragmatismo. Em cerca de uma hora e um quarto a dupla de realizadores diz tudo o que tem a dizer, sem correr o risco de ser redundante ou maçador. Tem a duração, o aspecto e a intensidade certos para transmitir o que quer, deixando os juízos para quem os quizer fazer.

Classificação: ★★★★

22.30 • “2049: The Hedgehog Effect”

Hsu Li Da– 162’ (Taiwan) – SR – ANTESTREIA MUNDIAL – Ficção Científica – v.o. leg. ingl. | Bilheteira

Os efeitos especiais de alta qualidade tornam credível este futuro próximo e um exemplo do que poderá ser a nossa vida com a tecnologia a invadir tudo. Num futuro possível uma mulher tenta matar-se no alto de um arranha-céus, rodeada de drones.

Apreciação: Este é outro daqueles objectos que não se percebe o que está a fazer num festival de cinema que quer recuperar a relevância que outrora teve. Selecionar uma série de televisão é, à partida, estranho. E eu consumo muita televisão e sei que há séries que tem muito mais cinema que muitos dos filmes que se fazem actualmente. Qualquer das séries que o Mike Flanagan fez para a Netflix serviriam que nem uma luva no Fantasporto. Mas não é este o caso. “2049: The Hedgehog Effect” tem um ritmo e estrutura marcadamente televisivos, que se tornam ainda mais marcados quando se colam os episódios todos de seguida. Todos os episódios de cerca de 27 minutos têm uma estrutura simples em 3 partes: introdução/recapitulação, desenvolvimento e clifhanger/conclusão. Repetir isto 6 vezes de seguida não funciona, porque aborrece. Esta é uma série que, se estivesse na Netflix, ninguém a veria de uma vez. E aqui, muita gente foi abandonando a sala a partir do segundo episódio. Porque não faz sentido ver isto, desta forma, aqui. E depois, dizer que isto é ficção ciêntifica é gozar com a ficção ciêntifica. Isto é um drama familiar puro e duro. A ciência futurista serve apenas como pano de fundo e não tem qualquer relevância para a estória. É, se quisermos, um MacGuffin. E é por ser tão absurdo isto estar aqui, no Fantas, que não é possível dar uma classificação objectiva.

Classificação: Sem classificação

3ª FEIRA, 05 de ABRIL

15:00 • S.O. CURTAS-METRAGENS COMPETIÇÃO C. FANTÁSTICO – 153’ – v.o. leg. ingl.

(A ordem de exibição dos filmes pode não ser a abaixo referida) | Bilheteira

Fledge” – Hanni Dombe, Tom Kouris – 15’25’’ (Israel)

A Avó e a Neta. A magia expressa-se através das folhas que lhes crescem nos braços. Mas a juventude rebelde nem sempre respeita a herança. Poesia e afecto dominam apesar de tudo.

Visitors” – Kernichi Ugana – 16’21’’ (Jap)

Um lugar estranho com gente ainda mais estranha. Afinal quem é aquela gente? Tudo ao melhor estilo do clássico fantástico de horror.

Elena” – Biruté Sodeikaité – 13’ (Lit/Fra/Croá)

Elena voa e encontra o seu par. Beleza num bailado como só o cinema de animação consegue mostrar.

Night Breakers” – Gabriel Campoy, Guillem Lafoz – 17’ (Esp)

Um grupo de homens e mulheres tentam preservar a luz que os mantém vivos e protegidos do perigo que os vai dizimando.

Zmiena” – Pierre Renverseau – 13’46 (Fra)

Um homem, um quarto. Lá fora, a Natureza. Kafka segundo o francês Pierre Renverseau.

Part Forever” – Alan Chung-An Ou – 12’ 33’’ (Taiwan)

Uma mulher lamenta a morte da irmã. E o marido não a consegue arrancar do caixão. Até que o inesperado acontece.

Unheimlich” – Fabio Colonna – 15’ (Méx)

Uma mulher acorda ao ouvir ruídos. Que casa é aquela, que monstros a habitam? Curta Vencedora do Prémio Paul Naschy do Festival de Sitges 2021.

Grandpa” – Valentine Rolland, Théo Bongiovanni, Hugo Martins, Sophie Ouvrard, Thomas Piot, Nell Molinier – 6’ 46’’ (Fra)

A neta aprende a lidar com a morte do avô lembrando o que ele costumava fazer.

The Flight of Banog” – Elvert Bañares – 9’ (Filip)

As lendas dos povos indígenas das Filipinas, histórias de amor e ressurreição.

Told You” – Cashell Horgan – 9’ (Irl)

Um rapazinho é mandado para a cama. Os temores começam mas ninguém se importa muito. Mas, felizmente, alguém está atento.

Tranvia” – Carlos Baena – 8’50’’ (Esp)

Uma mulher entra num carro-eléctrico muito especial. O que a aguarda é uma viagem aos infernos. Ou é apenas um sonho?

While We Stayed at Home” – Gil Versely – 5‘ (Israel)

Uma passagem de peões, em plena pandemia. Um homem e uma mulher esperam em lados diferentes pelo sinal de travessia para peões. A sedução começa.

Shiny New World” – Jan van Gorkum – 8’43’’ (The Nederlands)

Tudo num dia normal de trabalho. Mas será mesmo? Uma comédia de horror que mete limpezas muito originais.

18.00 • “Broken Blooms”

Luisito Lagdameo Ignacio – 107’ (Filip) – SR – Drama – ANTESTREIA MUNDIAL. – v.o. leg. ingl. | Bilheteira

No início da pandemia, Cynthia e Jeremy são dois jovens recém-casados. Na sua pobre comunidade, não há só dificuldades, há também solidariedade e calor. Entre todos, a vida continua entre choros e risos. Um filme de Luisito Lagdameo Ignacio, depois do brutal “School Service”, apresentado no Fantasporto 2019 na presença do realizador, e que ganhou prémio da Melhor Actriz.

Apreciação: Nos últimos anos, o cinema Filipino tem sido uma aposta forte do Fantasporto. E com razão, é uma cinematografia genuína, pragmática e honesta. Aquilo com que me debato, é que uma dezena de filmes mais tarde (tirando os filmes de terror) os filmes parecem sempre o mesmo. São um retrato de classes sociais baixas e desfavorecidas com os problemas inerentes, e respectivas situações familiares. De Ignácio já tinhamos inclusivamente visto “School Service” em 2019 e em cuja crítica já tinha dito mais ou menos o mesmo aqui). “Broken Blooms” volta a ser mais do mesmo, num estilo documental despojado de glamour seguimos um núcleo familiar com problemas financeiros e os seus vizinhos. E é apenas isto. A única diferença é que inclui na estória a Covid-19, mas não chega a ter influência no resultado, que é um filme competente, fascinante para quem não conhece esta realidade e cinematografia, mas que neste contexto do Fantas (e mais concretamente para os seus frequentadores assíduos) começa a ser redundante.

Classificação: ★★★★★

Ainda não há trailer para este filme.

21.00 • “Follow Her”

Sylvia Caminer – 95’ (E.U.A.) – CF – Terror – ANTESTREIA MUNDIAL- v.o. ingl | Bilheteira

Uma mulher vive dependente dos vídeos que põe na net e na quantidade de seguidores que consegue. Um dia, é convidada para ajudar a finalizar um argumento, o que a obriga a deslocar-se para um lugar remoto. Uma reflexão profunda sobre a invasão de privacidade e os tempos modernos. Um olhar perturbador e novo, mas cheio de originalidade, sobre um problema muito actual. Primeira longa de ficção de uma experiente realizadora americana.

Apreciação: Sem dúvida que o melhor de “Follow Her” é o seu argumento (escrito pela também protagonista Dani Barker). Já vimos desenas de vezes esta premissa: uma mulher é atraída para um lugar remoto, por um homem que não conhece e que a alicia com uma proposta de trabalho, mas com segundas intenções. Geralmente isto dá em violência física e psicológica, e muito, muito gore. Ora, Caminer e Barker sabem bem o terreno que pisam e conseguem evitar praticamente todos os clichés a partir da exposição, desarmando o espectador a cada curva da estória, despindo-o de expectativas e certezas. Há simultaneamente uma frescura e entusiasmo na incerteza que nos é alimentada durante todo o filme. Não só isso, como a narrativa vai ganhando folêgo no espectador, alimentando-se da crescente curiosidade. E isso é tudo bem sustentado, das interpretações à direcção artística, da banda sonora à fotografia, tudo está no ponto certo. É um projecto arricado, não é fácil frustar as expectativas do espectador e contentá-lo ao mesmo tempo, mas “Follow Her” consegue-o. O cinema de género (e até o cinema em geral) precisam de gente como Caminer e Barker, que não têm medo de arriscar. Aqui, compensou.

Classificação: ★★★

23.00 • “Confession”

Yoon Jong-seok – 105’ (Cor. Sul) – SR – Thriller – INTERNATIONAL PREMIÈRE – v.o. leg. ingl. | Bilheteira

Um homem casado com a filha de um magnata tem um acidente de carro quando volta com a amante de um encontro amoroso. Nesse acidente, morre um homem. Tentando encobrir o sucedido, ele e a amante inventam uma história. E quando uma advogada se apresenta para o defender, as coisas complicam-se a sério. Um filme cheio de reviravoltas inesperadas, a mostrar a vitalidade do cinema coreano.

Apreciação: “Confession” é um thriller sul-coreano. E a malta assídua do Fantas sabe o que isto quer dizer: um filme sobre vingança, com mais 20 minutos do que devia ter, com voltas e reviravoltas no final, e muito sangue e violência. Ora, neste caso, fomos surpreendidos com um whodunnit na melhor tradição de Agatha Christie, mas ao contrário, ou seja, temos o culpado, mas de que crime? Sim, há aqui vingança como sub-plot, mas no essencial estamos perante um elaborado puzzle com vários personagens a distribuir as peças que temos de perceber se são boas e encaixam ou temos de esperar por melhores. O ambiente é tenso, os diálogos são inteligentes e bem interpretados (que surpresa ver Yunjin Kim depois de “Lost“), o design de produção e a banda sonora são claustrofóbicos. Faltou descambar na ultra-violência que geralmente vem ao Fantas desta proveniência, mas este é um policial acima da média, que demonstra que a cinematografia coreana pode ser mais do que isso.

Classificação: ★★★

4ª FEIRA, 06 de ABRIL

16:00 • “SoulPark”

Róbert Odegnál, Illés Horváth – 77’ (Hun) – CF – Fantástico – v.o. leg. ingl. | Bilheteira

Um homem aparece nu na jaula dos crocodilos de um jardim zoológico. Não se lembra como foi lá parar nem onde andou nos últimos 3 anos. Um polícia em pré-reforma e uma jovem investigadora vão tentar descobrir o que se passa. Primeira longa-metragem dos dois realizadores.

Apreciação: Ainda não vi um filme húngaro no Fantas de que não tenha gostado, e este “SoulkPark”, apesar de ter alguns problemas no terceiro acto, não foge à regra. Enquanto policial, o filme de Odegnál e Horváth é quase perfeito. Bom ritmo, excelentes personagens, bom humor negro e um mistério que nos deixa entusiasmados. O problema é quando no terceiro acto resolve mudar de registo de forma abrupta, e tem uma conclusão de filme de terror que a muito custo aceitamos que faça parte do mesmo filme. Podiam ter esticado a sua duração em 10 ou 15 minutos para preparar e estruturar melhor a conclusão do mistério e saltaria para o top dos filmes húngaros no festival. Assim, fica a meio da tabela e é concorrente ao prémio de melhor dupla de protagonista desta edição.

Classificação: ★★★½

18.00 • “Sometimes in the Dark” / “A Volte Nel Buio”

Carmine Cristallo Scalzi – 122’ (Ita) – CF – Horror – v.o. leg. ingl. | Bilheteira

Uma aldeia remota nas montanhas cuja comunidade é afectada por uma doença misteriosa. Gorecki, o chefe dos doentes, apega-se a Giacomo, um rapaz “saudável”, e em quem vê uma oportunidade para a redenção e a salvação. Originalidade e imaginação a não perder nesta primeira longa do realizador que foi selecção do Festival de Trieste.

Apreciação: Este é um caso complicado porque “A Volte Nel Buio” é mais uma instalação artística do que um filme. Tem alguns dos planos e sequências mais bonitos que eu já vi, e no entanto teima em manter distância emocional em relação ao espectador. A estória é muito lenta (e o filme tem cerca de duas horas) e tem, se tanto, meia dúzia de linhas de diálogo. Tudo o resto é em voz off, enquadrando e descrevendo aquilo que estamos a ver, como se de um livro se tratasse. Dizem que uma imagem vale mil palavras, mas aqui são gastas mais para as enquadrar. É hipnótico no sentido menos bom da palavra. Depois está dividido em capítulos, sendo que não se nota grande diferença nos primeiros 5/6, nem de ritmo , nem de direcção da estória. Mas é inquietante o suficiente para nos manter agarrados. Gostaria de pendurar alguns frames nas paredes lá de casa, mas não gostaria de gastar mais duas horas a revê-lo.

Classificação: ★★★★★

20.30 • “Escape from Mogadishu”

Seung-wan Ryoo – 153’ (Cor. Sul) – SR – Drama – v.o. leg. ingl. | Bilheteira

Em 1991, quando a Coreia do Sul e a Coreia do Norte lutam ainda pelo reconhecimento como países separados na Nações Unidas, o embaixador da Coreia do Sul em Mogadishu, capital da Somália, recebe um pedido de ajuda do seu “inimigo”, o embaixador da Coreia do Norte, em fuga do caos e massacres que decorrem nas ruas. Filme candidato aos Óscares 2022 pela Coreia do Sul.

Apreciação: “Escape from Mogadishu” era o candidato sul-coreano aos Óscares deste ano e nota-se claramente porquê. É um filme para massas, baseado numa história real de humanidade em tempo de guerra, com cenas de acção intensas e claustrofóbicas. É uma história de sobrevivência e é estranho que não tenha caído no goto da academia. É uma grande produção e isso nota-se, na reconstrução histórica e de época, nos milhares de extras, nas elaboradas sequências de acção. Há uma perseguição automóvel pelas ruas destruídas de Mogadishu que é das melhores do ano. E nem sequer é do tipo de filmes coreanos que estamos acostumados a ver no Fantas. A vingança dá lugar à empatia e à generosidade. É bonito, sangrento e visceral, mas é também optimista e esperançoso. Apetece dizer, embora o cinema não tenha o poder de mudar nada, que é o filme certo para ver em tempo de guerra.

Classificação: ★★½

23.15 • “Duyster”

Thomas Vanbrabant, Jordi Ostir – 80’ (Bélgica) – CF – CENAS EVENTUALMENTE CHOCANTES – Drama Fantástico / Horror – v.o. leg. ingl. | Bilheteira

Duas estudantes fazem um trabalho sobre um carrasco da Inquisição do século XVII e procuram vestígios dos casos em que esteve envolvido para compreenderem uma sociedade que permitia matar como bruxas centenas de mulheres com os maiores requintes de sadismo. Mas o que as estudantes encontram é bem mais perturbador. Com imagens muito chocantes, este filme foi o vencedor do Prémio do Júri no Festival de Horror e Fantástico de Salto. Primeira longa-metragem dos dois realizadores.

Apreciação: O found footage é um género tramado, porque é díficil de criar algo verosímil. É preciso conhecer bem as regras e criar situações que acomodem a premissa em que o género assenta. Ora, “Duyster” atira a verosimilhança pela janela logo nos primeiros minutos, e não mais volta a ganhar a confiança do espectador a ponto deste suspender a descrença ao ponto que o filme exige. Eu explico: como quase em todos os filmes do génro, “Duyster” começa com uma legenda que explica que isto era um trabalho de estudantes, o que estudavam, e que desapareceram misteriosamente. Estas são as imagens encontradas. O problema é que a dada altura, eles usam duas câmaras nas gravações e aquilo que vemos é uma edição de planos entre as duas câmaras. Mesmo que não saibamos as regras do género, há qualquer coisa que sabemos não bater certo. E depois a estória nem faz muito sentido, pois é contada de uma forma fragmentada e episódica (como é normal neste tipo de projecto), mas em que as peças não parecem encaixar umas nas outras. Mas o pior são mesmo os minutos finais, com uma conclusão forçada e inesperada (porque, lá está, é inverosímil) e uma legenda final que comprova que não podiamos ver as imagens que acabámos de ver. Além de nada aqui ser original (a estória é quase decalcada de “Blair Witch Project“), é executado de forma incompetente e com pouco conhecimento (ou respeito) do género que se escolheu.

Classificação: ★★★★

1 comentário em “Fantasporto 2022 – Os Filmes – Parte 2/3.”

  1. Sobre o 2049

    Para começar, devo dizer que escolhi ver este filme/série,  por ser Taiwanês. Tenho uma ligação pessoal a esse país e cultura e por isso não me arrependo da escolha.

    Dito isto, concordo com a a ideia de que apresentar no cartaz  uma maratona de uma série como se de um filme se tratasse, é no mínimo,  um erro de casting. Não que tal maratona não tivesse lugar num festival deste tipo, mas apresentá-la assim a frio,  sem que o público soubesse do que se tratava, é claramente um erro.

    Spoilers a partir daqui:

    O final da série é uma completa subversão do investimento emocional de quem a vê até ao fim  com um clichê que embaratece tudo o que se passou até lá e uma “moral da história” perfeitamente dispensável.

    Recomendo The Soul a quem quiser ver um filme Taiwanês sobre assuntos semelhantes, mas mais bem feito na minha opinião. Está disponível na Netflix.

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