Fantasporto 2019 – Os filmes, Parte 3 – 28 Fev. a 2 Mar.

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3ª e última parte da apresentação dos filmes a exibir no grande auditório do Rivoli – Teatro Municipal, na 39ª edição do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto, a decorrer de 19 de Fevereiro a 3 de Março. Consultem os posters, trailers e sinopses que disponibilizamos e escolham os filmes que vão ver. Depois da exibição, podem voltar e consultar as nossas apreciações e classificações. Deixo-vos mais uma vez os links para o programa oficial no Issuu e da página de facebook do festival

QUINTA, 28 DE FEVEREIRO

15:30 – “Isabelle”

Isabelle - Poster

Robert Heydon – 81’ – Canadá/USA- CF – EUROPEAN PREMIERE -horror fantasy

O sonho de um jovem casal de começar uma família está comprometido à medida que vão descendo os degraus da paranoia devido a uma vizinha arrepiante que parece exigir as suas próprias vidas. Segunda longa metragem do premiado realizador de “Ecstasy”.

Apreciação: Já todos vimos as situações retratadas neste filme, até porque não é fácil encontrar estórias novas para contar no terror. Muitas vezes as antigas servem, dependendo da forma como são feitas e contadas. E em “Isabelle”, é tudo bem feito. Desde a realização às interpretações, com algumas caras conhecidas como Adam Brody e Sheila McCarthy, a boa produção, enfim, tudo muito competente. Mas é mais do mesmo, e o fã mais calejado do terror não se deixa surpreender assim tão facilmente. Interessante, mas dentro da média, apenas para fazer número.

Classificação: 2.5 / 5

17:30 – “Painting Life”

Painting Life - Poster

Biju Kumar Damodaran – 140’ – India – SR/OE – EUROPEAN PREMIÈRE – Drama

Um hino à protecção do ambiente. Uma equipa de rodagem liderada por um realizador de Bollywood de sucesso chega a uma aldeia remota nos Himalaias para filmar uma sequência de dança e música. Cedo ficam isolados do mundo depois de chuvas torrenciais e deslizamentos de terra, sem tecnologia ou meios de comunicação, totalmente à mercê das forças da natureza. Primeiro filme em língua inglesa do realizador cuja obra tem sido exibida regularmente nos festivais de Cannes e Montreal, vencedor de 12 prémios nacionais e doze internacionais.

Apreciação: Este é um filme curioso porque não se passa absolutamente nada, mas ficamos entretidos, curiosos, quase hipnotizados com a beleza das imagens e com a calma que transmitem. E quando digo que não se passa nada, não estou a ser irónico. Lendo a sinopse, prevemos que este será um filme com bons efeitos especiais, a simular intensas catastrofes naturais. Nada, nem uma. Sabemos que aconteceram porque alguém diz. Sequências de dança: zero. Apenas um grupo de gente à espera que sejam restabelecidos os meios de circulação, electricidade e comunicações que lhes permitem começar a trabalhar. E vão passeando, e conversando, por belíssimas paisagens naturais e um templo budista. Este é o equivalente cinematográfico ao episódio “The Chinese Restaurant” de “Seinfeld“, mas aqui tem o efeito reconfortante de um spa.

Classificação: 4 / 5

21:00 – “Nancy”

Nancy - Poster

Christina Choe – 85’ – USA – SR – Drama

Lentamente, Nancy convence-se de que foi raptada em criança. Quando conhece um casal cuja filha desapareceu há 30 anos, cedo as suas dúvidas dão lugar à convicção. Com Andrea Riseborough (“Birdman”), Steve Buscemi e John Leguizamo. Premiado no Festival de Sundance e seleccionado para os festivais de Deauvile e Sitges, festival este onde a atriz Andrea Riseborough ganhou o prémio de interpretação feminina. Primeira longa-metragem de Christina Choe.

Apreciação: Aqui está um belíssimo pequeno filme que vai buscar a sua energia a um argumento interessante e bem escrito e à excelência do seu elenco, que nos entrega emoções puras, simples e sinceras, com destaque para Riseborough e Buscemi. O trabalho da realizadora é excelente porque entende que não precisa de encher o filme com mais nada, apenas mostrar-nos esta simplididade (e a força que a estória tem) da melhor mais natural maneira possível. É um dos grandes dramas do ano.

Classificação: 4.5 / 5

23:00 – “His Master’s Voice”

His Master’s Voice - Poster

Gyorgy Palfi – 110’ – Hungria – CF/Retro-Hungria — Drama/ Ficção científica

Baseado numa história de Stanislaw Lem (Solaris), o filme traça o percurso de Peter em busca do seu pai cientista que abandonou a família nos anos 70, no período da Hungria comunista. Reconhecendo-o num documentário antigo, Peter viaja para a América. O trabalho do pai está, afinal, relacionado com eventos misteriosos no passado, trazendo à luz o facto de que, afinal, o universo não está mudo nem nós estamos sós. Uma história de ficção- científica vinda do conhecido realizador de “Taxidermia”, Prémio do Público do Fantasporto 2007.

Apreciação: Filme com uma estória interessante que o realizador vai pontuando com elementos prescindíveis que conferem à narrativa que interessa um tom que ela não tem. Se por um lado estes elementos são visualmente interessantes, por outro deixam o espectador confuso acerca do seu significado. É o contrário do filme anterior, em que aqui é adicionado à estória aquilo de que ela não precisa. O que é interessante é que, segundo o que o realizador disse na apresentação, a estória foi criada posteriormente, porque não existia no material de origem de Lem. Está bem realizado, com bons efeitos especiais, é atractivo e interessante, mas fica a sensação que seria muito melhor se tivesse apenas um terço do orçamento.

Classificação: 3.5 / 5

SEXTA, 1 DE MARÇO

15:30 – “Lust”

Lust - Poster

Severin Eskeland – 84’ – Noruega – 2017 – P&P – Horror

Lisa, uma famosa escritora de livros violentos e eróticos, isola-se em casa depois de ter sido violada. Quando os pesadelos aumentam, começa a questionar-se sobre o que é realidade ou ficção. Poucos a podem ajudar. Selecção do Night Visions Festival.

Apreciação: Thriller psicológico sobre os efeitos da violação numa vítima, apresentado sobre a perspectiva da mesma, resultando num projecto confuso e cuja mensagem fica até um pouco dissimulada. A opção é óbvia, este é um produto de entretenimento, sem qualquer pretensão de iniciar uma discussão sobre o tema, o que, em plena era #metoo, não deixa de ser uma opção interessante. Também interessante é o facto de ser um filme que a determinada altura opta pelo gore puro e duro (bastante bem executado e realista), deixando clara a vontade de não ser levado a sério. Como entretenimento, é competente e bem executado, mas perdeu-se uma boa oportunidade de ter aqui assunto para uma boa conversa.

Classificação: 3 / 5

17:30 – “Decision: Liquidation”

Decision: Liquidation - Poster

Alexander Aravin – 97’ – Russia – P&P – war/ action

Baseado em factos reais. Depois do ataque à escola de Beslan em que morreram centenas de crianças, o que aconteceu ao comando muçulmano que foi responsável pela tragédia? Numa guerra sem tréguas, os serviços secretos russos tentam matar o sanguinário chefe da guerrilha e saber qual o passo seguinte. Produzido pela Mosfilm e pelo conhecido realizador Karen Shaknazarov.

Apreciação: Filme de guerra russo que tem a particularidade de se debruçar sobre a guerra ao terrorísmo. E é interessante porque aquilo que sobressai é a intenção clara de roubar o protagonismo nesta guerra (ou reclamar parte dele) aos Estados Unidos. Até porque este filme não difere muito do que se faz do lado de lá do Atlâtico. A mesma linha narrativa, os mesmos meios de combate, as mesmas estratégias. A Rússia quer mostrar que faz parte desta luta, com um produto bem realizado e principalmente muito bem produzido. Os efeitos especiais não ficam nada atrás dos americanos, muito pelo contrário. Aquilo que os americanos fazem digitalmente, os russos continuam a fazer à antiga (principalmente as muito realísticas explosões). É digno de nota e reconhecimento, apesar de não trazer nada de novo ao género.

Classificação: 3 / 5

21:00 – “Deadtectives”

Deadtectives - Poster

Tony West -93’ – USA – CF – Comédia de terror

Uma equipa de desajeitados investigadores do paranormal de um reality show vão à casa mais assombrada do México à procura de melhor audiência para o programa. Quando os verdadeiros segredos da casa se revelam, descobrem que a casa não é um embuste. Sem verdadeiras armas contra os fantasmas, o grupo tem de descobrir como dar cabo dos fantasmas e sair de lá vivos. Esta é a primeira longa-metragem de Tony West, vencedor do Festival de Houston com a curta “Dartsville” (2007).

Apreciação: Este é o filme deste Fantas que mais dor de cabeça me deu para classificar. Para mim, uma comédia de terror tem de ser duas coisas: cómica e assustadora. Esta não é nem uma coisa nem outra. O humor é do mais batido possível, são piadas ouvidas muitas vezes, as situações são repletas de clichés do género e os sustos simplesmente não existem. Tenta-se que o terror tenha também graça, mas não consegue. Este é um Caça-fantasmas sem inspiração nem chama. Sinceramente, o meu primeiro instinto era dar-lhe um zero, aquilo que ele significa para mim, mas isso não seria justo, porque o filme nem está mal feito, não é incompetente, tem é mau gosto. E o problema provavelmente até é meu, tendo em conta a recepção que teve no Rivoli. Comparando com os filmes a que dei as notas mais baixas, “Reborn” e “In Fabric“, “Deadtectives” tem muito mais competência do que o primeiro, e padece exactamente dos mesmos problemas do que o segundo. Assim sendo…

Classificação: 1.5 / 5

23:00 – “St. Agatha”

St. Agatha - Poster

Darren Lynn Bousman – 98’ – USA – P&P – Terror

Do realizador Darren Lynn Bousman (Saw II, III, IV). Numa localidade pequena de Georgia, uma mulher condenada grávida refugia-se num convento, isolada de tudo. O que parece ser o sítio ideal para ter a criança é afinal um local onde o silencio é forçado, segredos terríveis são escondidos e toda a força de vontade de Agatha posta à prova.

Apreciação: Darren Lynn Bousman, a par de Eli Roth, é dos realizadores actuais que mais deve ao movimento exploitation, e com a particularidade de explorarem graficamente a tortura mental e física. Em “St. Agatha”, apelidado de “Nunsploitation” Bousman traz-nos mais do mesmo. Não há aqui nada de novo, nem na forma nem no conteúdo, mas Bousman fá-lo com competência, quer tornando a narrativa interessante de acompanhar (apesar de previsível), quer entregando sequências de puro desconforto para o espectador. A consolidar o produto destacam-se as prestações seguras de Sabrina Kern e Carolyn Hennesy a conseguirem dar tridimensionalidade a personagens estereótipadas. Para os fãs do género.

Classificação: 3 / 5

SÁBADO, 2 DE MARÇO

15:30 – “The Sonata”

The Sonata - Poster

Andrew Desmond – 88’ – UK/Fra – CF – WORLD PREMIERE – mystery fantasy

Primeira longa-metragem de Andrew Desmond, um conto clássico de magia e horror. Uma jovem e talentosa violinista descobre a história desconhecida do passado do pai, libertando forças obscuras para além da imaginação. Com Rutger Hauer (“Blade Runner”), James Faulkner (“Game of Thrones”) e Freya Tingley (“Jersey Boys”).

Apreciação: Uma boa surpresa, com um filme muito bem conseguido, com tudo no sítio, uma estória interessante e envolvente, excelente banda sonora (peça fundamental da narrativa) e muito boa produção artística. Antecipávamos um filme banal e com alguns problemas narrativos e saiu-nos uma das obras mais sólidas deste Fantas. Só peca por não ser um pouco mais arrojado e original.

Classificação: 4 / 5

17:30 – “Two Times You (Dos Veces Tú)”

Two Times You (Dos Veces Tú) - Poster

Solomón Askenazi – 96’ – México – P&P – WORLD PREMIÈRE

Tania e Daniela trocam de maridos durante um casamento apenas para se divertirem. Mas um acidente de automóvel a seguir vai criar novos e estranhos relacionamentos.

Apreciação: Mais um filme que não traz originalidade, com uma estória a separar-se em duas que se vão intercalando. Já vimos esta estrutura em narrativas com bastante mais interesse e menos entediantes. Boa produção e interpretações interessantes, mas fica-se por aí.

Classificação: 2.5 / 5

21:00 – Sessão de Encerramento – “The Russian Bride”

The Russian Bride - Poster

Michael S. Ojeda – 103’- USA – CF – INTERNATIONAL PREMIÈRE – Thriller

Com o veterano Corbin Bernsen, actor nomeado para dois Globos de Ouro, conhecido por “The Dentist”, “L.A. Law” e uma das caras mais reconhecíveis do cinema de terror, com a atriz revelação Oksana Orlan no papel de Nina e a jovem Kristina Pimenova, esta é uma história dos tempos modernos, das redes sociais e da fragmentação da família. Um milionário conhece na net uma bela russa e a sua filha e convence-as a virem para os Estados Unidos. Mas em breve as suas vidas vão ser transformados num inferno. Do realizador de “Avenged”, apresentado no Fantasporto 2014.

Apreciação: Foi preciso esperar pela sessão de encerramento para termos um verdadeiro filme “à Fantas”. E foi uma verdadeira surpresa. Começa com uma normal estória de uma mulher que se envolve com um homem com intenções perversas, mas a dada altura escala em violência e irracionalidade, bem ao gosto deste público. E foi um festim que teve até uma ovação na morte final. O filme não pretende ser mais do que um divertimento e consegue-o. A realização é segura, as interpretações (principalmente dos protagonistas) são primorosas e a violência e o gore estão no ponto certo. E teve a capacidade de, durante hora e meia, trazer-nos o Fantas de outros tempos.

Classificação: 4 / 5

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