“Killer Elite – O Confronto” – A Insustentável Leveza Das Personagens.

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O grande atractivo que “Killer Elite” tinha para mim, era o facto de, num filme de acção puro e duro, contarmos com um trio de grandes actores nos papéis principais. Infelizmente, Jason Statham (sim, considero-o um excelente actor, apesar das suas qualidades interpretativas serem raras vezes utilizadas), Clive Owen e Robert De Niro acabam por ser quase os únicos motivos de interesse do filme.

Quando Hunter (De Niro), falha uma missão, o Sheik para quem trabalhava rapta-o, para obrigar Danny (Statham) a completar a tarefa: matar os três ex-membros das SAS responsáveis pela morte de três dos seus filhos. À medida que os alvos vão sendo eliminados, Spike (Owen), outro ex-membro das SAS, vai tentar perceber o porquê daquelas mortes e matar os culpados.

Ao nível da intriga de espionagem que lhe dá o mote, “Killer Elite” até nem é mau de todo. Podia esforçar-se menos em impingir-nos aquilo como uma estória baseada em factos reais, até porque como diria Tom Waits, o facto de um filme ser baseado numa história real, não o torna necessariamente melhor. As cenas de acção são realistas e bem executadas, e o jogo estratégico é suficientemente interessante para nos manter interessados durante boa parte do filme.

Onde tudo falha é onde menos podia falhar: na caracterização dos personagens. Ou melhor, na falta dela. Todos os personagens são finos como uma folha de papel de bíblia, e quando há uma ténue tentativa de lhes dar espessura, é através de clichés tão desactualizados quanto desinteressantes. A dada altura, a única coisa que nos mantém a ver o filme é a espectacularidade das cenas de acção, mas onde não nos interessa quem ganha ou perde, visto não termos qualquer vinculo emocional com os personagens.

E a culpa não é dos actores, muito pelo contrário. O trio de protagonistas faz o que pode com o pouco que o argumento lhes dá. Statham é sólido e intenso como protagonista e Owen é o duro de serviço, o antagonista mutilado e impossível de parar. Mas é De Niro que, apesar de tudo, acaba por roubar o filme. O homem luta, corre, dispara todo o tipo de armas e ainda diz umas piadas, num esforço físico que não o via fazer desde “Heat – Cidade Sob Pressão”. Há ainda uma boa prestação de Dominic Purcell (o Lincoln de “Prison Break”), como um dos aliados de Statham. Mas é também pelo facto de ter estes actores, que a péssima caracterização dos personagens é impossível de perdoar.

Gary McKendry estreia-se aqui na realização de uma longa-metragem, após a multi-premiada curta “Everything in This Country Must”, de forma inglória, apesar de ser sobre Matt Sherring, o argumentista estreante, que recaem as culpas do fracasso. A inconsistência dos personagens e de alguns momentos da estória são imperdoáveis a este nível. Por exemplo, no inicio do filme levamos com uma legenda que, além de nos informar que os factos são reais, faz questão de nos dizer que estamos em 1980. Após a sequência inicial, outra legenda informa-nos que passou um ano. Mais à frente, vemos num jornal o obituário de um dos alvos, com o ano da morte 1980. Como é que a história pode ser real se desafia o tempus continuum?

Salva-se também, além das cenas de acção e o esforço dos actores, a reconstituição de época, uma das melhores coisas do filme. É mesmo um prazer ver perseguições em carros dos anos 70, a lembrar filmes como “Bullit” ou “The French Connection”. Mas é muito  pouco para um filme que, tendo como base factos interessantes e um elenco de primeira, tinha obrigação de ser bem melhor e entreter muito mais.

Classificação: 2.5/5

 

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