Mas… Está tudo doido? “The Kids Are All Right” foi o vencedor do Golden Globe para Melhor Comédia ou Musical, e não é uma coisa nem outra. Trata-se antes de um drama familiar na melhor tradição do género, e merecia melhor sorte por parte da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood. Reduzi-lo a uma piada por se centrar num casal lésbico em que ambas foram inseminadas artificialmente com o esperma do mesmo homem, demonstra um total alheamento da sociedade actual, além de prestar um péssimo serviço ao filme, e à sua relação com o espectador.
A estória é simples: num momento menos bom da vida do casal, as coisas vão complicar-se ainda mais quando os dois filhos adolescentes movem esforços para se encontrarem com o pai biológico, encontro esse que vai desequilibrar por completo o núcleo familiar e pô-lo à prova.
“Os Miúdos Estão Bem” cumpre na perfeição o seu objectivo que, repito, não é o de nos divertir, mas antes familiarizar com a realidade actual, seja pela aceitação de casais do mesmo sexo, dos mesmos poderem ser pais, ou ainda de, no momento da concepção, pai e mãe não interagirem ou mesmo não se conhecerem. No entanto, o maior trunfo do filme é não querer ser pedagógico, interventivo, e muito menos panfletário (como o era, por exemplo, “Milk“), mas antes limitar-se a querer contar uma boa estória, entretendo e emocionando o espectador.
Com um currículo onde predomina a realização de episódios de excelentes séries televisivas como ”Sete Palmos De Terra”, “A Letra L” ou “Hung”, Lisa Cholodenko consegue aqui um trabalho sólido, principalmente no que diz respeito à direcção de actores. Num filme centrado num núcleo familiar, a caracterização das personagens é fulcral para o envolvimento do espectador, e o trabalho dos actores assume uma importância extrema e fundamental para o filme.
Nesse aspecto, o filme é exemplar. Com actores de idades tão díspares, a solidez do elenco é irrepreensível. No casal lésbico, Annette Bening e Julianne Moore parecem viver juntas desde sempre. O seu envolvimento e química são mais credíveis do que muitos dos casais heterossexuais cinematográficos, sendo que Bening assume a contenção, o que curiosamente lhe dá mais força e visibilidade (colocando-a mesmo na pole position das cerimónias de prémios). Mia Wasikowska é uma das mais seguras jovens actrizes da actualidade e Mark Ruffalo é o porreiraço de serviço que se transforma em ameaça, dualidade que o actor torna natural e inocente.
Mas, no fundo, o que fica do filme é apenas isto: uma estória simples e honesta que transforma lugares comuns, mas que não chega a ter força para bater o pé ao sistema social e moralista, ficando-se como nota de rodapé no palmares do ano cinematográfico. Não fossem estes actores, e nem isso seria…
Classificação: 3/5