“As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy II – Apocalipse” – A Sequela Perfeita.

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As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy II – Apocalipse” é a muito aguardada sequela do excelente e aclamado livro de BD “As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy“, de que já vos tinha falado aqui. Por se tratar de uma sequela, e porque as sequelas cinematográficas raramente cumprem as expectativas (sim, eu disse cinematográficas!), a enorme expectativa foi sendo doseada com alguma cautela. Mas o Filipe Melo não consegue desiludir, independentemente do tipo de projecto ou dos cúmplices por quem se faz acompanhar, e este é mais um tiro certeiro daquele que é um dos criativos mais interessantes do panorama nacional.

Na contracapa pode ler-se: ‘Um lobisomem de meia-idade, um distribuidor de pizzas, um demónio de seis mil anos e a cabeça de uma gárgula estão de regresso para salvar o mundo. Este improvável quarteto terá de enfrentar a maior das catástrofes – o Apocalipse, tal como descrito no Livro das Revelações. Pragas de insectos, criaturas gigantes e duzentos mil demónios invadem a Terra, arrastando os nossos heróis para uma aventura de proporções bíblicas! (…) O destino do mundo vai ser decidido em Lisboa… outra vez!’

Filipe Melo volta a depender de Juan Cavia, o desenhador, e Santiago R. Villa, o colorista, para continuar a sequência de homenagens aos filmes da sua (e da minha) adolescência, envoltas numa estória extremamente bem contada e ritmada, cheia de referências bíblicas e religiosas e (por isso mesmo) com um humor ainda mais corrosivo e certeiro do que no volume anterior.

Mas a primeira coisa que salta à vista ao folhear este segundo volume é a evolução de alguns aspectos gráficos que se prendem com Lisboa. A Cavia e Villa fez-lhes muito bem a descoberta da cidade entre a criação dos dois volumes, tanto a nível do desenho, com pormenores ainda mais detalhados e precisos, mas sobretudo a nível da cor. Por ter bastantes sequências diurnas e exteriores, a luz que só Lisboa tem está muito presente nestas páginas, captada e reproduzida por Villa na perfeição, tornando este volume menos monótono a nível cromático e dando por isso ainda mais movimento à estória. Fazendo um paralelo entre estes dois volumes e os filmes da série Indiana Jones, por exemplo, diria que o primeiro volume tem um ambiente mais “Indiana Jones e o Templo Perdido”, sendo que o segundo é mais ”Indiana Jones e a Grande Cruzada”.

A estória volta a trazer as grandes ameaças da humanidade para Portugal, desta vez saindo de Lisboa até Fátima (mas de carocha e não a pé), com um breve prelúdio no Vaticano. Não escapa nada, da águia Vitória (que o Filipe já tinha morto num dos episódios de  “Um Mundo Catita”) ao Santuário da Cova de Eiria, passando pela Ponte 25 de Abril ou as Amoreiras. O humor que já existia abundantemente no primeiro volume assume aqui proporções bíblicas (literalmente), com um timing perfeito, e um posicionamento nas páginas calculado para extrair a maior das gargalhadas (há muito tempo que não me ria tanto), fruto do exímio fraccionamento do argumento em vinhetas, da responsabilidade de Martin Tejada.

As referências são, outra vez, mais que muitas: Do “Regresso Ao Futuro” ao “Robocop”, passando pelos filmes catástrofe e detendo-se no imaginário de George A. Romero. Aliás, um dos aspectos que engrandece ainda mais este volume é o excelente prefácio do criador dos Zombies. Ao contrário de John Landis no primeiro volume, Romero não fez nenhum frete, percebendo bem a qualidade da obra que tinha em mãos, elogiando-a e aos seus autores e prestando-lhes uma justíssima homenagem.

A data de estreia lançamento inicial de Março de 2011 foi largamente ultrapassada, muito por culpa da merecida publicação pela Dark Horse Comics de uma estória original (com a origem do Dog), a que se seguirá outra de 8 páginas e o (inevitável) lançamento americano do primeiro volume, o que acontecerá também no Brasil.

Concluindo, Filipe Melo, Juan Cavia, Santiago Villa e Martin Tejada criaram um grande livro de banda Desenhada, ainda melhor, mais corrosivo e colorido que o primeiro. Sendo o mais egoísta possível, espero que comprem “As Extraordinárias Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy II – Apocalipse”, possibilitando assim o terceiro volume, que eu quero muito ler. Garanto-lhes também que não se arrependerão.

Ora, tendo dado a classificação de 5 (em 5) ao primeiro, só me resta fazer uma coisa: numa atitude sem precedentes no laxanteCULTURAL, e correndo o risco de estar aqui a abrir uma caixa de Pandora, vou rebentar com a escala!

Classificação: 6 (em 5)

ed. Tinta da China, 2011

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