“Actividade Paranormal” – Mas que raio é isto?

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Antes de mais, “Paranornal Activity“, do estreante Oren Peli, é das coisas mais interessantes que vi nos últimos tempos. E chamo-lhe coisa porque “Paranormal Activity” é mais vídeo do que filme, embora contenha mais cinema do que vários filmes de Michael Bay juntos. Confusos? Eu tento explicar…

O princípio é simples e fácil de resumir. O aspirante a cineasta Peli, pega numa câmara digital, junta um grupo de amigos e dois aspirantes a actores e filma um guião de sua autoria, em sua casa, em poucos dias. Com uma estória simples e uma estética de vídeo caseiro (que até lhe permite disfarçar fragilidades na fotografia), que já se provou rentável em “The Blair Witch Project“, Peli fez um pequeno filme que se tornou um cartão de visita/DVD que percorreu todos os corredores mais e menos escuros de Hollywood até chegar a Steven Spielberg, que, fascinado, convenceu a Paramount a comprar os direitos e a financiar a rodagem de um novo final. A partir daí foi um tiro e Peli transformou-se no novo fenómeno da Meca do Cinema.

Um casal, Katie Featherston e Micah Sloat, muda-se para uma nova casa, e começa a experimentar aquilo que pensam ser fenómenos paranormais. O marido compra uma câmara de alta definição para gravar aquilo que  acontece durante a noite, enquanto eles dormem. Aquilo a que nós assistimos é o resultado dessas gravações. O conceito é, portanto, o mesmo de “Blair Witch Project”, só que aqui muito melhor pensado e executado. Confesso que, de “Blair Witch Project”, sou mais fã do método de rodagem utilizado e da inteligência da campanha de promoção feita na altura do que do filme em si. E a razão é simples: Não me assustou. Havia uma novidade no conceito que se elevava acima da eficácia da estória que era contada. Aqui, em “Paranormal Activity”, aconteceu o contrário. Aliás, praticamente não houve campanha de promoção antes do lançamento do filme, exceptuando alguns comentários na Internet de quem teve acesso ao tal cartão de visita. As declarações de Spielberg, que disse ser o filme mais assustador que alguma vez vira, não conseguindo mesmo vê-lo durante a noite, só foram conhecidas após a estreia em sala, e o buzz acerca do filme era já ensurdecedor. Qual é então o segredo de “Paranormal Activity”?

Nenhum. Aquilo que Peli fez, foi estudar muito bem a lição do mestre Alfred Hitchcock, principalmente aquela em que ele explica a diferença entre suspense e surpresa e qual delas a mais eficaz. Em “Paranomal Activity” o espectador assiste antes dos protagonistas ao que aconteceu durante a noite, e essa informação aumenta a ansiedade que se manifesta de forma cardio-vascular no desenrolar dos acontecimentos aos seus olhos. Existem sustos, sim (eu próprio dei uns dois saltos na cadeira), mas é na sugestão que o filme bate aos pontos os seus precedentes. E o mérito é todo de Peli. A começar pela falta de qualidades interpretativas em todo o elenco (excelente casting), que os aproxima dos seres humanos e não de personagens de ficção, passando pela veracidade dos décors (mora mesmo ali gente e isso nota-se), mas principalmente pela contenção no uso esquizofrénico da câmara. O facto da câmara estar completamente imóvel nos momentos de maior suspense e antecipação prende e amordaça o espectador, tornando-o um impotente voyeur perante a eminente tragédia.

Claro que é preciso predisposição para entrar no jogo e deixar-se manipular. E é precisamente isso que falta na maioria dos detractores deste fascinante objecto. Quem pensar que, deixar-se enganar (no bom sentido) ao ponto de se entregar nas mãos de um qualquer realizador e ser seu masoquista fantoche, é ser fraco ou motivo de chacota, e for armado em machão (ou machona) não facilitando a sua absorção pela estória, não só não vai apreciar condignamente a experiência, como a vai maldizer e ostracizar. Mas isso torna esta experiência ainda mais fascinante. As razões que levam alguém a deixar-se engolir mais facilmente por filmes como “A Guerra das Estrelas” ou “Star Trek” do que por uma estória que podia acontecer na sua própria casa (e isto não tem a ver com crenças espirituais ou religiosas, apenas com o contexto) são para mim um mistério, e isso ajudou a que “Paranormal Activity” tivesse para mim o doce sabor do medo, há tanto tempo afastado das salas de cinema.

Agora, voltamos à vaca fria. “Paranormal Activity” pode não ser um filme no sentido corrente do termo. Pode até ser um vídeo armado em cinema ou um filme disfarçado de home movie, isso não é importante e é essa a razão de eu lhe chamar coisa. Mas a competência com que Peli põe em prática a banal mas dificil  tarefa de contar uma estória de forma credível e absorvente, afinal a essência do cinema, torna-o um objecto irresistível, fascinante e aterrador no actual panorama cinematográfico. Essa é a razão pela qual “Paranormal Activity” é o fenómeno de culto instantâneo e Ori Peli a nova big thing em Hollywood. Agora, espero que as semelhanças com “Blair Witch Project” terminem aqui, e Peli não sucumba à dimensão dos estúdios em detrimento da sua veia e cultura cinematográficas. “Area 51” (o seu novo projecto, em fase de pós-produção) é pois aguardado com muita ansiedade.

Classificação: 4.5/5

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