Chegado o Halloween 2024, é altura de manter uma tradição do laxanteCULTURAL, de vos dar sugestões apropriadas para a época, e que podem encontrar nos vários serviços de streaming disponíveis em Portugal. São, como habitualmente, sugestões do género do terror, ou thrillers com emoções fortes, apropriados à festividade. Dos clássicos às novidades, e tentando encontrar aquelas pérolas escondidas, tenta ser uma selecção eclética e diversificada. Podem aceder às minhas sugestões de anos anteriores aqui, mas vamos às minhas recomendações para o Halloween 2024…
Lista de filmes e séries sugeridos para o Halloween 2024.
Sugestões para o Halloween 2024 por serviço de streaming.
“Outside“
Começamos com uma novidade, num subgénero muito popular, o filme de zombies, mas de uma cinematografia quase desconhecida por cá (a não ser que sejam habitués do Fantasporto), a Filipina. Como sempre neste género de filmes, os zombies são um pretexto para desenvolver estórias humanas, com personagens no limite e forçados a trabalhar em equipa. Em “Outside”, como habitual no cinema Filipino, o foco é sobre um dos dramas sociais globais adaptados à realidade do país.
Carlo Ledesma debruça-se sobre o flagelo da violência doméstica de forma pragmática e atenta, apesar do final previsível, mas adequado. As sequências de horror são bem conseguidas, a fotografia é eficaz na construção de ambientes claustrofóbicos e a gestão da componente dramática assegura um filme que, apesar de ser de género, traz à luz um assunto urgente e actual que amplia a dimensão do problema. Porque o terror também serve para isso.
Classificação: ★★★★★
Link para “Outside” na Netflix.
“Don’t Move“
Mais uma novidade para o Halloween 2024, agora um thriller carregado de terror psicológico sobre um psicopata que persegue mais uma vítima, que está incapacitada de se mover. Produzido por Sam Raimi (como chamariz), “Don’t move” é um thriller eficaz, que cumpre o seu objectivo de entreter, mas que acaba por não trazer nada de novo.
É um filme despretensioso e bem executado, com boas interpretações e que consegue, apesar da previsibilidade, criar bons momentos de tensão. Só que, no final, fica aquela sensação de que não tardará muito muito até que não nos lembremos dele, o que o torna um filme de visualização única que serve bem o propósito da época.
Classificação: ★★½★★
Link para “Don’t Move” na Netflix.
“Abraço de Mãe“
“Abraço de Mãe” é um filme de terror sobrenatural brasileiro que impressiona pelos meios de produção e pelo consistente ritmo narrativo. Onde ele falha, é no excesso de influências reservados para o terceiro acto, que nos defrauda as expectativas por falta de esclarecimento e pelo inusitado das soluções encontradas.
Como já disse, os valores de produção são altos, os meios técnicos são competentes e o ritmo narrativo consegue ter bons momentos de tensão e suspense. Mas é a dedicação da protagonista, Marjorie Estiano, que empurra o filme para ligeiramente acima da média. Merece também a recomendam para realçar o cinema de terror que se faz noutras paragens que não as habituais.
Classificação: ★★★★★
Link para “Abraço de Mãe” na Netflix.
“From“
Esta recomendação é um risco. Porque é uma série que vai na terceira temporada e eu só vi a primeira, mas sobretudo porque é dos mesmos produtores de “Lost” e tem tudo para descambar tanto ou mais. O ponto de partida é sensivelmente o mesmo, um grupo de pessoas encontram-se numa pequena cidade sem conseguir sair e sem saber como lá chegaram. Há monstros, mistérios e passados duvidosos.
Para já, o clima de tensão é muito bem conseguido, a galeria de personagens é interessante e as mortes são grotescas, como se quer. Resta saber se conseguirão entregar uma explicação plausível para tudo isto ou, à semelhança de “Lost”, vamos estar a encher chouriços para nada.
Classificação: n/a
Link para “From” no Max.
“Salem’s Lot“
Não haveria Halloween 2024 sem a recomendação de uma adaptação de Stephen King. “Salem’s Lot” ja foi adaptado algumas vezes, sendo a adaptação mais venerada a minissérie de 1979. Desta feita é um filme produzido por James Wan, o que torna esta versão mais sucinta, mas também eficaz. Um escritor interpretado por Lewis Pullman (o Ben de “Top Gun: Maverick“) regressa à sua cidade natal em busca de inspiração, quando esta é atacada por uma horda de vampiros.
A adaptação é eficaz, notando-se o dedo de Wan, embora o ritmo narrativo seja irregular, provavelmente fruto da edição que teve de ser feita ao material base. No entanto, o filme resulta num grande divertimento, bem executado e interpretado, com uma belíssima fotografia e momentos de terror bem conseguidos. Tendo em conta o material original, teria optado por outro tipo de cortes, mas quem não o conhece, certamente ficará satisfeito.
Classificação: ★★★½★
Link para “Salem’s Lot” no Max.
“Caddo Lake“
“Caddo Lake” não é propriamente um filme de terror, é um thriller de ficção-ciêntifica sobre o desaparecimento de uma criança de 8 anos que revela ligações com desaparecimentos e mortes passados, alterando a história de uma família destroçada. O meu maior medo aqui, era o facto do produtor ser M. Night Shyamalan, que tem transformado em caca tudo em que toca. Felizmente, os realizadores conseguiram fazer disto um excelente thriller, com um ritmo tenso e intrigante, mistérios desafiantes e uma conclusão inesperada e muito satisfatória.
O filme é um mosaico narrativo com várias linhas temporais e twists dignos do que melhor fez o sr. M.. Como disse, não é terror, mas é certamente um filme que agarra o espectador a partir do segundo acto, e só o larga no final. E satisfeito.
Classificação: ★★★★★
Link para “Caddo Lake” no Max.
“Talk To Me“
A A24 continua a revitalizar o cinema de terror (e não só) com uma criatividade desarmante. Os seus filmes, apesar de agarrados ao género parecem sempre frescos e originais. É o caso de “Talk To Me”, filme de possessão demoníaca com um ponto de partida imaginativo, para uma sucessão de momentos de terror eficazes e bem elaborados.
Só que o filme tem um grave problema que o prejudica. A partir do segundo acto o espectador deixa de ter empatia com a protagonista, que assume comportamentos egoístas que fazem avançar a narrativa. Isso faz com que nos desprendamos emocionalmente da personagem e dos horrores que a perseguem, acabando por nos ligarmos com personagens secundários, a chamada carne para canhão, que não são tão elaborados.
Nesse aspecto, por muito que as sequências de terror sejam bem conseguidas, e são, a falta de identificação torna-as inofensivas, num filme que pedia e merecia mais carga emocional. Apesar de ser bem estruturado e eficaz no horror, este erro de concepção deixa-o aquém do que devia, e do que a A24 pretendia. Apesar disso, continua a ser um filme de género ligeiramente acima da média.
Classificação: ★★★½★
Link para “Talk To Me” na Prime Video.
“The Town That Dreaded Sundown“
Outra produtora que muito tem feito pela revitalização do cinema de terror é a BlumHouse, embora de uma forma menos inovadora ou criativa do que a A24. Aqui, mais do que a busca pela originalidade, há uma intenção de renovar o legado deixado pelos filmes de género, seja através do remake, sequela ou variante. Este “The Town That Dreaded Sundown” de 2014, é uma espécie de remake do filme de 1976, com a particularidade de fazer homenagem explícita ao mesmo.
O original era baseado num caso real de um serial killer que matou algumas pessoas na noite de Halloween. Este repete a fórmula, com a particularidade de ser na mesma data, mas em que no Drive In local passa o filme original. O resultado é um slasher movie interessante e competente, com algumas mortes bem elaboradas e com notório cuidado na sua concepção. Não inventa a roda, nem tenta, e principalmente por isso é um despretensioso entretenimento.
Classificação: ★★★★★
Link para “The Town That Dreaded Sundown” na Prime Video.
“Fallen“
Gregory Hoblit começou a sua carreira cinematográfica com quatro bons filmes entre 1996 e 2002, depois de mais de uma década a trabalhar no formato televisivo. “Primal Fear“, Fallen”, “Frequency” e “Hart’s War” tinham várias características comuns: excelente elenco, argumento e produção, mas sobretudo tinham finais imprevisivéis. Este que vos trago é um thriller sobrenatural, em que um assassino condenado à morte está possuído por um demónio, que escapa no momento da execução e vai perseguir o detective que o apanhou, possuindo vários outras pessoas pelo caminho.
Quando estreou, “Fallen” parecia fresco e original, misturando o thriller policial (que teve grandes obras neste período, como “Se7en“) com o sobrenatural e adicionando algo que estava na moda na altura, o twist (foi também neste período que estreou “The Sixth Sense“). O filme conta com um sólido elenco e um ritmo narrativo impecável, além de uma fotografia que é o reflexo do tema que aborda. No fundo, este é um jogo do gato e do rato em que um deles é batoteiro. É um filme cujo único propósito é entreter e, apesar de não ser um filme de terror, o seu lado sobrenatural torna-o apropriado para este Halloween 2024.
Classificação: ★★★½★
Link para “Fallen” na Prime Video.
“Penny Dreadful“
“Penny Dreadful” estreou há 10 anos e teve 3 temporadas. Criada por John Logan, argumentista de filmes de Martin Scorsese, Tim Burton ou Ridley Scott, entre outros, tinha a particularidade de reunir numa mesma estória todas as personagens clássicas da literatura de terror. Frankenstein, Drácula, Dorian Gray, lobisomens, bruxas e muitos outros são perseguidos pelas ruas da Londres Vitoriana por um pequeno grupo composto por um magnata, um mercenário, um cientista e uma vidente.
A reconstituição de época é perfeita, os efeitos são bastante competentes (principalmente para o formato televisivo) e o elenco é de alto nível. É uma série que impressiona pelo seu imaginário visual e literário, tendo mesmo a audácia de ampliar algumas das obras clássicas que utiliza como referência.
Classificação: ★★★★★
Link para “Penny Dreadful” no Sky Showtime.
“Tremors“
Já um clássico, “Tremors” é um pequeno filme que pretendia ser série B, mas que se tornou em filme de culto, dando mesmo origem a um punhado de sequelas dispensáveis. Este, o original é uma deliciosa comédia de terror, com criaturas inusitadas, personagens tipificados e bastante tensão.
O segredo do seu sucesso é um sólido elenco liderado por Kevin Bacon e o malogrado Fred Ward, a produção de Gale Ann Hurd e a direcção objectiva de Ron Underwood. Além disso as suas criaturas improváveis, quase caricaturais (parecem ter sido criadas por Jim Henson), dão-lhe um estilo camp e divertido que faz dele um excelente entretenimento.
Classificação: ★★★★★
Link para “Tremors” no Sky Showtime.
“Pearl“
“Pearl” é a prequela de “X“, filme que revisitava os universos porno e slasher dos anos 70 e 80 com uma linguagem contemporânea. Era mais do que uma homenagem, era uma recriação, um retorno à crueza da época com meios actuais. Ti West regressa ainda mais no tempo com “Pearl” e evoca o cinema clássico, como “The Wizard Of Oz“. Parece estranho, mas funciona e à medida que a violência do filme vai aumentando, vai-se intensificando o contraste, tornando o resultado final ainda mais entusiasmante.
“Pearl” consegue ainda a proeza de melhorar “X”, devido ao background que lhe oferece. E Mia Goth é absolutamente hipnotizante como a personagem do título, inscrevendo-a na lista dos serial killers mais fascinantes da sétima arte.
Classificação: ★★★★★
Link para “Pearl” no Sky Showtime.
“The Boogeyman“
Mais uma adaptação recente de um conto antigo de Stephen King, “The Boogeyman” é uma abordagem capitalista a uma estória clássica de terror, a do bicho-papão. E digo capitalista porque o objectivo do filme é claramente fazer dinheiro, com a sua classificação PG-13, o seu cgi e uma realização que podia explorar de forma mais explicita e objectiva a componente de horror da estória que lhe serve de base.
No entanto, o filme não é mau de todo, com bons momentos de suspense e sequencias eficazes em provocar calafrios e tensão. O problema é que fica aquela sensação de que não há aqui nada de novo, o filme é redundante no tema e na forma. Sendo uma produção da FOX, devia ter-se investido um pouco mais em efeitos práticos, como em “Alien: Romulus“, em lugar de um CGI que acaba por tirar personalidade e dimensão ao monstro. Filme que se vê bem e cumpre o objectivo, mas a que não se volta nem deixa memória.
Classificação: ★★½★★
Link para “The Boogeyman” no Disney +.
“No Exit“
“No Exit” é um pequeno mas eficaz thriller de sobrevivência, que tem lugar numa única localização durante uma tempestade de neve. À partida, o filme tem todos os elementos que podemos desejar num filme deste género: mistério, tensão e violência. Tenho visto muitas criticas à forma prematura como o grande mistério é desvendado, mas isso não me incomodou, antes pelo contrário. Aquilo que à partida seria um vulgar whodunit, torna-se num filme de sobrevivência e numa escalada de violência que o torna bem mais interessante.
Importa notar que apesar de ser uma produção da Fox, foi feito para o streaming, com custos controlados, mas que são muito bem disfarçados pela realização, na gestão de tempos e em sequências violentas bem imaginada e melhor concretizadas. E não é que o final não seja previsível, depois da resolução do mistério, mas o ritmo narrativo bem controlado e a gestão de expectativas, pontuados por violência realista, não deixa muito espaço ao espectador para antecipações.
Classificação: ★★★★★
Link para “No Exit” no Disney +.
“Carved”
Outro filme recente, lançado propositadamente para o Halloween 2024. Dois anos depois de um acidente nuclear numa pequena cidade, na noite de Halloween, uma abóbora radioactiva desata a matar todos aqueles que participavam num concurso de esculpir abóboras. Não há melhor forma de terminar as recomendações deste ano do que com um filme descartável, com uma premissa ridícula, mas que acaba por cumprir aquilo que promete: divertimento e muito sangue.
Claro que não é um filme para ser levado a sério, mas o seu maior problema é esse, levar-se um bocadinho a sério. Uma premissa destas precisava de uns ZAZ ou irmão Wayans, habituados à sátira com piadas a cada 5 segundos de filme. O maior problema aqui é que o tom é desajustado, apenas com algumas piadas a sublinhar a intenção. Tudo aqui é inusitado, mas há um ponto positivo que tenho de realçar. O filme tem muito gore e os efeitos são quase na totalidade práticos, o que é maravilhoso de se ver. Numa era em que tudo é CGI, mesmo aquilo que não precisava ser, haja alguém que mantenha o espirito do cinema de terror de guerrilha vivo, mesmo que seja só por razões financeiras.
Classificação: ★★★★★
Link para “Carved” no Disney +.
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