O Peso de “Precious”.

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Quando ouvi falar de “Precious” pela primeira vez, o filme vinha referenciado como sendo um drama apoiado fervorosamente por Oprah Winfrey (a ponto de a creditarem como produtora executiva), sobre uma adolescente abusada pelos pais, e, preconceituosamente,  pu-lo de fora da lista dos filmes que me suscitavam algum interesse. Por alguma razão, algo me dizia que o filme estaria mais próximo do melodrama a puxar ao kleenex do que de um bom drama com uma estória inspiradora. Depois vieram as nomeações e os prémios, os trailers fortes e inspirados e um coro de críticas entusiasmadas e vibrantes, e o meu interesse e curiosidade foi crescendo a ponto de ter conseguido abordar o filme completamente livre de qualquer condicionalismo e preconceito. Infelizmente, “Precious” é um filme pesado e melodramático, concebido para fazer chorar as pedras da calçada, que não tem sequer intenção de abordar a desgraça da personagem principal com um mínimo de esperança e optimismo.

Claireesse Precious Jones é uma adolescente de 16 anos, obesa, vítima de maus tratos pela mãe, sucessivamente violada pelo pai a ponto de estar grávida dele pela segunda vez, com problemas na escola, mas que não deixa de sonhar com uma vida melhor. Até que é forçada a mudar para uma escola especial, a segurança social aperta o cerco à sua mãe, e Claireece vê uma saída para a sua vida, em direcção aos seus sonhos.

Ou não. É que o filme não é mais do que um acumular de agressões, físicas, psicológicas e morais, a uma personagem que merecia mais do que ser alvo de pena por parte de quem não convive com este tipo de realidade no dia a dia. “Precious é um filme obsceno por isso, não há sequer uma moral, implícita ou não, além daquela que a premissa apregoa: É errado tratar assim outros seres humanos e a nossa condição humana permite-nos ser solidários e defensores de quem não se pode defender a si próprio. Mas até nisso o filme falha. É que no acumular desenfreado de desgraças nas costas de Precious, chega um ponto em que não há final feliz possível, apenas lugar a um acomodamento, confortado por personagens menores que tornam a sua existência possível mas não promissora.

Mas nem tudo é mau em “Precious”. As duas principais interpretações femininas são de luxo: a estreante Gabourey Sidibe, como Precious, é de uma contenção e falsa serenidade irrepreensíveis e Mo’Nique é absolutamente brilhante como a odiosa mãe que abusa da filha como se fosse a coisa mais natural do mundo e ainda quer ser beneficiada por isso. Arrisco-me a dizer que Mo’Nique será o equivalente feminino a Christoph Waltz na próxima cerimónia dos Óscares: A consagração é inevitável e basta um deles não ganhar para a Academia vir abaixo. Lee Daniels faz o que pode com um argumento que não lhe deixa espaço de manobra, tentando fugir ao academismo (há momentos, como os escapes de Precious, em que tenta extrair dali algum cinema), mas esbarrando sempre noutra reviravolta barata, daquelas em que já nem as piores telenovelas ousam cair. Paula Patton consegue ser o escape visual e moral de todo o filme e Mariah Carey tem a coragem de não usar maquilhagem e se parecer com uma mulher comum. Mas é pouco para um filme que quer ser marcante e fazer a diferença.

Se há coisa que o Cinema deve ser é um escape. Os cineastas são Deuses, tem a vida das personagens nas mãos e fazem delas o que quiserem. Mas têm também o dever de ser inspiradores, principalmente tratando-se de estórias tão reais e violentas, olhando pelas personagens que não podem olhar por si próprias. “Precious”, querendo chamar a atenção para os problemas que ainda corroem a nossa sociedade por dentro, é extremamente cruel na sua abordagem e falha redondamente na aproximação à causa. As 6 nomeações aos Óscares (exceptuando as de Melhor Actriz e Actriz Secundária) só provam o poder que Oprah têm em Hollywood. Em Portugal, o filme foi apoiado pela APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. Não deixa de ser irónico que, em “Precious”, a vítima seja tão sacrificada.

Classificação: 2/5

6 comentários em “O Peso de “Precious”.”

  1. meus amigo felicitacoes este site ta um must o ke tenho a dizer e muito simples la horde para mim com the human centipede e vampire girl vs frankeinstein girl grandes momentos no fantas esperem pelo novo filme frances the pack e o piranhas 3d kuanto ao filme o melhor ke vi fica aki o meu registo para o novo cinema frances martyrs , vinyan , inside , vertiges e os mais antigos haute tension , calvaire, ills , baise moi viveeeeeeeeeeeeeeee la france yahoooooo boa sorte para vces para o ano la estaremos continuem a carregar em filmes abracos e beijus loooll

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  2. Tinha que ser um site português….Oh gente brava esta,sempre na contramão da alegria,haja visto as eternas viúvas de preto nas aldeias…Alegria minha gente…isso tudo passa logo..

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  3. eu não concordo com essa crítica “O peso de precious”. O filme não é um incentivo à choradeira e nem obsceno. Só que sentiu na pele o que é um abuso sexual (seja incesto ou pedofilia) entendeu a mensagem. É verdade que cada um tem a sua opinião daquilo que assiste, mas nunca devemos nos arrogar com desdém miserável, somente para extrair aplausos.

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    • Vamos lá ver se nos entendemos… Eu não faço crítica social, faço crítica cinematográfica e, nesse sentido, mantenho tudo o que disse acerca do filme. Quanto aos abusos, a quem os sofre e a quem os comete na realidade, não me cabe a mim, nem é este o local para tecer tais comentários. Agradeço que percebam a diferença entre realidade e ficção e baseiam os seus comentários nisso. Quanto aos aplausos, os apupos sabem-me igualmente bem. Significam que aquilo que escrevi tocou alguém a ponto de os motivar a expressar-se. Nesse sentido, obrigado pelo seu comentário.

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